Já passava da meia-noite e o Museu da Guarda ainda estava aberto no último sábado. À porta, o barulho e burburinho que se ouvia podia confundir-se com o ruído de um bar. Mas não, foi a Noite do Museu. Pessoas entravam e saíam das salas de exposição, enquanto no pátio muitas instalações de graffiti, multimédia, “stencil” e até pirotecnia rodeavam um “disc-jockey”. A partir das técnicas usadas na “street art”, cinco jovens deram “asas à imaginação” e desenvolveram diversas produções a partir do acervo do museu. Por lá passaram mais de mil visitantes, que também tiveram a oportunidade de visitar a exposição permanente e temporária até à uma da madrugada.
Uma t’shirt impressa manualmente com motivo inspirado na obra “Retrato de Dulce Correia Ruvina”, de Eduardo Malta (1939), graffitis a três dimensões sugeridos por obras de arte, manequins de várias cores espalhados pelas paredes ou uma banheira com água azul no meio do pátio, foram algumas das propostas patentes no Museu da Guarda numa noite diferente. «Fizemos uma reinterpretação das peças que estão na exposição permanente», explica Maria Borges, de 20 anos, responsável por algumas instalações em parceria com Ricardo Teixeira, de 23 anos. «O objectivo foi criar um novo conceito de graffiti com base no “stencil”, que é uma das vertentes do graffiti, e não aqueles rabiscos que as pessoas estão habituadas a ver», esclarece o jovem. Mas houve outras. Como o chamado “bombing”, que «é uma arte mais de “vandalismo”, são os graffitis realizados rapidamente, em locais ilegais e de grande visibilidade, como os comboios», acrescenta o “graffiter”. «É diferente dos outros, feitos em “Hall of Fame”, que são paredes legais destinadas para esse fim, onde dá para fazer trabalhos mais elaborados», refere. Com estas instalações, o jovem pretende fazer do graffiti uma «arte maior e que consiga um lugar num museu».
Enquanto Ricardo Teixeira esboçava mais um projecto, com sprays de vária cores, outros jovens dedicavam-se à projecção de um vídeo alusivo à temática “Os Museus e os jovens”, a par da animação musical. André Bessa é estudante de Design de Multimédia na Universidade da Beira Interior, Nuno Roque está em Cinema e Manuel Borges em Design Têxtil, os três foram os autores da instalação multimédia. O vídeo projectado na parede de granito tem cerca de seis minutos e demorou «quase quatro semanas» a ser feito, indica Manuel Borges. «Há uma espécie de visita guiada pelo Museu da Guarda, com muitas foto-montagens e “vídeo-jaming”», realça. Mas a noite de sábado também vai dar origem a outro vídeo: «Vamos lançar um DVD com os excertos do evento e outras foto-montagens», revela.
Museu de portas abertas
«Mais de mil pessoas passaram pelo museu no sábado à noite», assegura, com bastante satisfação, a directora. Dulce Helena Borges acredita mesmo que, para muitos, «foi a primeira vez que vieram a um museu». A responsável faz um balanço «altamente positivo», não só porque proporcionaram «diversos ambientes, mas também porque satisfizeram diferentes expectativas», desde logo os jovens, que «são os grandes heróis desta noite», reconheceu. Apesar de ser marginal, o graffiti «é um novo tipo de arte», considera Dulce Helena Borges, que admite só ter tomado consciência da sua real dimensão quando viu «a criatividade e a atitude conceptual que lhe está subjacente». No final da noite, «os jovens deliciaram-se com o espaço e os adultos com as criações», conclui. Para a directora, todas as representações artísticas merecem destaque. Enquanto as instalações de graffiti e “stencil” se inspiraram, principalmente, em obras da primeira metade do século XX, o vídeo abrangeu a maioria das peças do museu.
Patrícia Correia