O controlo de acessos, a reactivação de canadas, a recuperação da floresta de teixos e a gestão dos cervunais, turfeiras e galerias ripícolas foram algumas das acções desenvolvidas pela Associação de Produtores Florestais do Paúl (APFP), através do Projecto LIFE Natureza – Gestão e Conservação de Habitats Prioritários na Serra da Estrela.
Os resultados deste trabalho, iniciado em Outubro de 2002 e que vai terminar em Setembro, foram apresentados na última quinta-feira num seminário na Universidade da Beira Interior (UBI). Um encontro juntou especialistas do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), Instituto de Conservação da Natureza (ICN), Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior (DRABI), professores da Universidade de Évora e pastores, entre outros, com o único propósito de debaterem a preservação de verdadeiras riquezas ambientais na Serra da Estrela, actualmente em grande estado de degradação. Como acontece com os cervunais (formações herbáceas de Nardus), as turfeiras altas activas, as florestas aluviais residuais (amiais) ou as florestas mediterrânicas de Taxus Baccata (bosquetes de teixo), considerados habitats prioritários por estarem em risco de extinção. Além destes, são ainda considerados de enorme valor os prados de lima, azinheiras, lameiros, águas paradas, sobreirais, arrelvados e os carvalhais negros.
A alguns meses do projecto terminar, António Covita, presidente da APFP, garante que vai ser feita uma «manutenção» para preservar tudo o que foi elaborado. Este responsável acredita mesmo que as acções desenvolvidas vão fazer diminuir os fogos florestais junto destes habitats, já que se procedeu à limpeza e ao corte de mato, bem como à plantação de espécies autóctones, entre outras medidas. Fernando Matos, director do PNSE, também considera que o trabalho desenvolvido no LIFE foi «muito significativo» para a gestão dos habitats prioritários. «O cervunal na Nave de Santo António duplicou de área, apresentando-se agora em cerca de 12 hectares», refere. Outro exemplo é a acção de limpeza e plantação realizada no bosquete de teixos de forma a criar condições favoráveis à sua manutenção e regeneração natural. «É uma comunidade importantíssima, pois é única nas florestas mediterrânicas e estão a desaparecer», alerta, por sua vez, Carlos Pinto Gomes, da Universidade de Évora, e um dos responsáveis pelo projecto.
Os trabalhos desenvolvidos
A diminuição do pastoreio, os incêndios florestais, o turismo de massas, o corte e arranque de vegetação ripícola, a construção indevida de infraestruturas e a falta de conhecimento e formação sobre o património ambiental são as grandes ameaças à biodiversidade da Serra da Estrela. Para a preservar procedeu-se à limpeza do lixo e vegetação, mas também à reactivação de canadas (trilhos dos pastores) para melhorar os acessos dos rebanhos em transumância às manchas de cervunal existentes e, consequentemente, aliviar outras áreas onde há excesso de pastoreio. Assim, pretendeu-se ainda diminuir os riscos de incêndio ligados à actividade pastoril. Na berma das canadas plantaram-se igualmente 5.700 carvalhais negros para compartimentar a paisagem e melhorar as condições de resguardo do rebanho. Foram também instaladas cercas eléctricas nos habitas de cervunal e galerias ripícolas para impedir o acesso do gado, sobretudo bovino, para além de terem sido plantados salgueiros e amieiros nas ribeiras da Alforfa e das Cortes. Para controlar os acessos, colocaram-se pilares de granito ao longo de 2,75 quilómetros da Estrada Regional 339, entre a Nave de Santo António-Torre/Torre-Espinhaço de Cão e Torre-Lagoa Comprida. Além disso, foram editadas uma brochura e um guia de sensibilização sobre os habitats prioritários e os cuidados a ter, entre outros.
Percursos pedestres no aniversário do PNSE
Para comemorar os 30 anos de existência, a 16 de Julho, o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) vai promover percursos pedestres nalgumas das zonas mais significativas da área protegida.
Trata-se de seis trilhos que serão percorridos a partir dos seis concelhos abrangidos pelo parque (Covilhã, Celorico da Beira, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia), sendo que todos irão convergir no Vale do Rossim, «um local central e ideal para se iniciar ou terminar este tipo de iniciativas», considera Fernando Matos, director do PNSE. A ideia é fazer com que as pessoas «conheçam a Serra sem ser pelo asfalto e sem estragar o que existe», acrescenta, realçando que, além o lazer, a iniciativa servirá também como acção de sensibilização. Os percursos ainda estão a ser determinados pelos técnicos do PNSE, mas alguns terão que ser mistos – autocarro e a pé – por serem muito longos. «Por exemplo, o percurso que sai da Covilhã vai até ao cume de autocarro e depois a pé até ao Vale do Rossim», explica Fernando Matos. Por outro lado, o PNSE está a estudar um percurso de «acesso universal» destinado às pessoas com deficiência. A iniciativa será aberta a todos os interessados que se inscreverem no PNSE.
Liliana Correia