Artigo por fazer, por escrever, por ler…
Texto purista a prosear bonito,
A versejar tão chique e pudico,
Enquanto a língua portuguesa se vai rindo,
Galhofeira, de mim.
Escrita que me pede notícias verdejantes
Com o dedo, aflito, a correr as estantes.
Autor despenteado todo o ano
E a assoar-se na franja por engano.
Jornais onde qualquer palerma diz,
A afastar do busílis o nariz:
– Não, não é para mim este país!
Entrecheiram-se, hostis, as mil canetas
Que há neste país.
País do textinho mastigado
Devagarinho.
Coluna de amador do rapapé,
Do encher chouriços e do parlapié,
Que se pavoneia e corteja as miúdas,
E não as cita quando já ventrudas.
O incrível autor desta coluna,
Trémulo do bondage ou de uma tuna.
Moroso texto em surda cólera,
De repente que se quer acabado.
Sabemos lá, pois, se és um homenzinho…
Texto tocante, diz que por cada pilha
Mete entre parêntesis a cedilha.
A damisela que leia
Um artigo da alcateia;
É afinal por si mesma,
que não é senão da fome,
que este país a come.
Texto de eufemismo, ao bloqueio dia a dia
Pergunta mesureiro: – Como vai a escrita?
Observatório dos ornitorrincos que passeiam
a importância e o papelão,
inaugurando esguichos no engonço
do gesto e do chavão.
E ainda há quem nos ouça, quem nos leia,
nos agradeça a fontanária ideia!
(livremente mal adaptado de “O País Relativo” de Alexandre O’Neill)
Por: Nuno Amaral Jerónimo