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Os deputados

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Os deputados, num cenário ideal, seriam homens de projecção intelectual indiscutível e grande visão do futuro e do mundo. Os deputados seriam capazes de, em grande liberdade, analisar o futuro e as questões essenciais da nossa vida. Mas o regime fez-se de modo diferente, só meia dúzia de deputados decidem e só muito poucos vão às comissões específicas. Também falam muito pouco e esse privilégio tem dono. Por tudo isto sempre disse que tínhamos deputados a mais e cargos políticos desnecessários que era urgente corrigir. Mas, contrariamente a muita gente, não acredito que eles sejam o custo maior da nação. O país está envelhecido e isso é muito caro. Portugal importa a sua energia toda e isso é muito caro. As empresas públicas são verdadeiros sugadouros do dinheiro dos cidadãos, acoitados em gestão perdulária e monopólios insaciáveis. Há milhares de projectos de serviços e não de produção. O Porto/Gaia, com mais de sete áreas comerciais gigantes, vai ver nascer mais duas. Há um conjunto de razões políticas que condicionaram o caminho para o estado actual. O número de trabalhadores indiferenciados, a ausência de cursos técnicos e profissionais, a falta de incentivo à verdadeira inovação e produção. O engordar do sector público com serviços que não é capaz de proceder à manutenção. O medo do privado como alternativa de gestão nos sectores da educação e da saúde, a falta de fiscalização séria e de verificação das cláusulas contratuais são muito mais importantes que os 4 ou 5 mil políticos e seus salários, também baixos ao nível europeu. Os deputados são como a montra da realidade e, por isso, as suas atoardas são importantes. A sua abstinência projecta-se em mais abstinência e mais desleixo. A sua imperdoável falta de escrúpulos arrasta os cidadãos num processo dominó onde ninguém se vê obrigado a cumprir. Este é o erro e o ponto de viragem.

Por: Diogo Cabrita

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