Esta segunda-feira foi inaugurada a Unidade de Saúde Familiar (USF) Carolina Beatriz Ângelo, nas Lameirinhas, na Guarda – com polos em Gonçalo e na Vela. Na cerimónia, o presidente da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, João Barranca, lembrou que «é a terceira USF no distrito e a segunda no concelho da Guarda» e vai tratar cerca de 6.700 utentes.
A equipa tem cinco médicos, cinco enfermeiros, quatro secretárias clínicas e cinco internos de medicina geral e familiar. O plano inicial, segundo Catarina Monteiro, coordenadora da nova USF, era ter «sete médicos», mas tendo em conta as instalações, «apenas podemos ter cinco». No entanto, «expandir a equipa é um plano para o futuro». No decorrer da inauguração, a médica adiantou que o atendimento terá horário alargado, das 8 às 20 horas, sendo «necessário e preferível» marcação prévia da consulta. Para casos urgentes, Catarina Monteiro disse que haverá «sempre médicos com vagas para situações de doença aguda. O objetivo é dar resposta aos utentes no próprio dia», sendo que no caso de marcação de uma consulta não urgente o tempo limite chega a «cinco dias úteis até à consulta». Marcando previamente, poderá haver consultas em horário pós-laboral, entre as 19 e as 20 horas.
O diretor clínico para os cuidados primários da ULS confia que «esta unidade vai aumentar a cobertura dos utentes que estão sem médico de família. Continua aberto um ficheiro que vai ser completado», revelou José Serra, segundo o qual ainda «estamos a trabalhar para arranjar instalações novas para esta USF no Parque da Saúde, num edifício construído de raiz», uma vez que «os pavilhões históricos já têm um destino». Na cerimónia, o presidente da Câmara da Guarda destacou a importância da «saúde de proximidade» prestada pelas USF e realçou a «necessidade de atribuir médicos de família à população». Contudo, com a abertura desta Unidade de Saúde Familiar, «é nossa convicção que é possível que a lista de espera reduza na Guarda», afirmou Sérgio Costa.
5.000 utentes da ULS sem médico de família
A falta de médicos teve espaço na inauguração da USF Carolina Beatriz Ângelo. João Barranca, presidente do Conselho de Administração (CA) da ULS guardense, afirmou que, na Guarda, «não há falta de médicos de medicina geral e familiar. Verificamos essa necessidade em Trancoso, Vila Nova de Foz Côa e Almeida».
Segundo o responsável, se fossem colocados «mais 10 médicos conseguiríamos uma melhor prestação de cuidados de saúde». E acrescentou que, «felizmente, temos vindo anualmente e gradualmente a contratar cada vez mais profissionais, é cada vez mais atrativo vir trabalhar para a ULS da Guarda». À margem da cerimónia, João Barranca disse aos jornalistas que «no interior temos de criar condições atrativas para os profissionais. Não só para os médicos, mas para receber pessoas, caso contrário não serão os profissionais de saúde a vir viver para estas regiões». Por sua vez, António Serra, diretor clínico para os cuidados primários, revelou que, desde que o atual CA tomou posse, «em dois anos entraram cerca de 19 médicos na ULS e saíram dois».
O clínico voltou a falar nos médicos que se vão aposentar este ano, garantindo que «estamos a trabalhar para que sejam substituídos». De resto, aos concelhos referidos por João Barranca, António Serra adicionou «Manteigas, Figueira de Castelo Rodrigo e Sabugal». Neste ano, a ULS da Guarda vai despedir-se de cerca de 9 a 10 clínicos por situação de aposentação. Atualmente, há «cerca de 5.000 utentes, 3.000 dos quais no concelho da Guarda sem médico de família», indicou o diretor clínico para os cuidados de saúde primários.
Há utentes a ir às urgências quando «não precisam»
É certo e sabido que, no Inverno, «as urgências sofrem uma pressão enorme de uma população que, muitas vezes, vem porque necessita, mas muitas pessoas vêm e não precisam», diz João Barranca, presidente do CA da ULS da Guarda.
Para travar esta situação, o diretor clínico para os cuidados de saúde primários recorda que desde o início do ano entrou em vigor «uma nova maneira de organização entre unidades de saúde». António Serra alerta que, a partir de agora, «quem vá à urgência do Hospital Sousa Martins passa por uma triagem e, se for atribuída cor verde ou azul e o utente concordar, regressa ao centro de saúde com a garantia que é observado por um médico num espaço de 24 horas».
Em dezembro a maternidade «fechou apenas meio dia»
Ainda à margem da inauguração da USF Carolina Beatriz Ângelo, João Barranca sublinhou que, «para nós, é impensável a única maternidade do distrito fechar».
Na sua opinião, o problema das maternidades não se resolve com o fecho. «Temos de criar condições atrativas para reter os profissionais de saúde» porque «não é desejável que qualquer mulher deste concelho ou distrito vá ter a sua criança a outro distrito», considerou. No último ano, a falta de médicos para preencher as escalas dos blocos de partos esteve na ordem do dia. O presidente do CA da ULS admitiu que, «pontualmente, não conseguimos fazer esse preenchimento e quando isso acontece atingimos o nível três, e, por conseguinte, o bloco de partos encerra», mas recordou que, em dezembro, «fechámos meio dia no mês inteiro, portanto estamos a trabalhar para que não haja interrupções este ano».
Sobre este tema, o presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, disse na segunda-feira a O INTERIOR que «nunca podemos admitir que possa ser colocado em causa o nosso serviço de Obstetrícia e de maternidade». Quanto ao estudo que sugere o encerramento de seis Urgências Obstétricas, Sérgio Costa quer estar certo de que «não terá passado de um simples ensaio técnico para ver o que daria».
Sofia Pereira