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Rede de urgências básicas pode substituir SAP

Fernando Regateiro reuniu com os autarcas do distrito e anunciou mudanças nos serviços de saúde

O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro garante que «não é possível haver Serviços de Atendimento Permanente (SAP) em todos os concelhos» e propõe, em alternativa, uma rede de urgências básicas. Cada unidade, devidamente apetrechada de meios humanos e técnicos, deverá servir um mínimo de 40 mil utentes e não estará a mais de uma hora de distância. A solução foi explicada, na última quinta-feira, em Gouveia, por Fernando Regateiro a alguns autarcas do distrito da Guarda, mas a grande maioria continua renitente ao encerramento dos SAP.

Actualmente, cerca de 30 por cento das urgências do distrito são tratadas nos SAP, o que leva aquele responsável a falar em «sapização». Um cenário que pretende mudar em nome da «boa qualidade» na prestação de cuidados de saúde. «Tal como estão configurados actualmente, os SAP não são nem consultas nem urgências e criam frequentemente uma sensação de falsa segurança», refere Fernando Regateiro. Em contrapartida, está em estudo a implementação de uma rede de urgências básicas com abrangência mais alargada e capacidade técnica e humana «muito superior». Isto é, dois médicos e dois enfermeiros de serviço, no mínimo, equipamentos de radiologia, electrocardiografia, desfibrilhador e a possibilidade de realizar análises mais comuns. «Esta urgência básica vai ser o primeiro patamar da oferta de cuidados de saúde ao nível da urgência», esclarece. Seguem-se as urgências médico-cirúrgicas, a centralizar no Hospital Sousa Martins, e a urgência polivalente, exclusiva dos hospitais centrais como Viseu ou Coimbra. Toda esta rede vai ser servida por uma «boa estrutura» de transportes do INEM e dos bombeiros, sendo ainda articulada com um “call center” nacional. Previsto para entrar em funcionamento dentro de alguns meses, este serviço telefónico vai orientar os cidadãos em função das prioridades ou da necessidade de transporte.

Mas isto não basta. Fernando Regateiro anunciou ainda que o ministério da Saúde quer «fazer regressar os utentes ao seu médico de família», mas para isso será preciso que os centros de saúde funcionem das 8 às 20 horas e que haja a possibilidade do utente ser visto no próprio dia. «O que se garante com consultas abertas e a inter-substituição dos médicos. Quando atingirmos essa meta, teremos um centro dirigido às populações e uma oferta de muito melhor qualidade», garante, defendendo uma reconfiguração dos centros de saúde. Contudo, todas estas propostas ainda estão a ser estudadas. O mesmo acontecendo com a questão da maternidade. O presidente da ARS Centro não adiantou nada sobre o assunto, mas sublinhou que as populações da Beira Interior só têm a ganhar quando «se concentrarem recursos em vez de se dispersarem por três pólos autónomos».

Autarcas na expectativa

Os autarcas continuam desconfiados quanto ao futuro dos serviços de saúde nos seus concelhos. Álvaro Amaro, presidente de Gouveia, sustenta, por exemplo, que o município «não pode deixar de ter urgências e internamento 24 horas por dia». E invoca a construção de um centro de saúde «de excelência», a actividade da Associação de Beneficiência Popular e a possibilidade da cidade acolher um curso superior de Fisioterapia. «Temos uma valia que é absolutamente inigualável neste sector», acrescenta, recordando ainda que Gouveia tem «um dos maiores rácios de atendimento de doente por noite – 3,3 – no “ranking” distrital». Em Seia, os receios são outros e prendem-se com a construção do novo hospital ou o reordenamento dos centros de saúde. Eduardo Brito diz ter garantias quanto ao primeiro ponto, mas pede «bom senso» no segundo: «Não se pode cortar a direito, pois temos freguesias como Vide, Loriga, Alvoco, Paranhos, que estão bastante distantes do centro de saúde, pelo que é preciso ter em conta a dispersão geográfica de cada concelho», alerta. Por outro lado, contesta o número de médicos em Seia, confessando que «é difícil ter acesso a uma consulta no centro de saúde».

Fernando Andrade, autarca de Aguiar da Beira, saiu preocupado da reunião: «Sei como as coisas têm funcionado no meu concelho com o SAP aberto 24 horas por dia e veremos agora o que vai acontecer», indicou, pedindo que o caso de Aguiar da Beira fosse analisado no contexto do distrito de Viseu. Já António Ruas, de Pinhel, foi o único a admitir alguma satisfação com o que ouviu a Fernando Regateiro. «A ARS não vai tomar decisões sem uma abordagem prévia aos municípios em causa», explicou, adiantando que contesta o encerramento do centro de saúde local, «mas até que nos arranjem soluções para resolver os problemas dos utentes. Quando surgirem, poderemos concordar».

Luis Martins

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