Nem todas as histórias, mesmo as de Natal, começam com “era uma vez”, mas todas terminam com a vitória dos bons sobre os maus e nem mesmo as historietas de Charles Perrault ou dos irmãos Grimm acerca do Barba Azul, do Henrique Trompete ou do pequeno Polegar traduzem uma visão moral da tal Tália que Tchaikovsky rebatizou como princesa Aurora ou da eterna e surpreendente Alice no tal país das mil e tantas maravilhas.
No Natal vem sempre à baila, ou não fosse Natal, o rebuscado relato daqueles três reis magos que visitaram o presépio. Os três mosqueteiros do ano zero fizeram questão de, em 2022, efetuarem a viagem de comboio desde a Guarda, pela Beira Baixa, vindos da Europa, guiados pela estrela polar, até à capital do cantinho à beira mar plantado, desembarcando no términus da linha de todas as linhas ferroviárias: Santa Apolónia.
Aí chegados puxaram do telemóvel e utilizando a aplicação chamaram um Uber que os levou até S. Bento. Tocaram a campainha e qual foi o espanto quando na sua presença estava ali mesmo o santo português, o António, a quem o mais atrevidote, o Gaspar, por acaso ainda se lembram dele, disse: “Meu caro Santo António de Lisboa soubemos pela CMTV que nasceu o Salvador e, claro está, fizemos questão de vir adorá-lo e presenteá-lo com ouro, incenso e mirra”.
António, o Santo, que permanece no altar já lá vão três décadas, faz a vénia, cumprimenta-os e leva-os pelos jardins do palácio até às cavalariças e foi aí que, ajoelhando perante o menino, lhe ofereceram ouro para o ajudar nos negócios e não só, incenso para branquear e cheirar bem e mirra para dissimular as transações, não fosse a essência do facto dar para o torto.
Queimaram então a ervita e, já numa de descontra, a conversa fluiu e, numa de tu cá tu lá, já de copo na mão, resolveram falar dos empreendimentos, negociatas, ajustes, contratos e afins e mais todas as outras coisas que vieram fazer a Portugal, tendo, o mais audaz, Baltazar, relembrado o estado laico do mais católico que se pode ter e oferecido a Maria as obras completas de Anais Nin e, logo ali, decidiram que o nome do menino seria Jesus, não se apercebendo que um dia alguém com este nome poderia ser treinador de bancada, vindo imediatamente ao de cima a bíblica dos interesses, qual OE, onde ainda hoje se podem constatar as divinas ações do Espírito Santo e se tem em conta os grandes ensinamentos do filósofo Sócrates e, isto sem esquecer os Passos da história numa correia fabulosa entre o Coelho (que alguns querem reabilitar) e a tartaruga.
Depois de conseguirem o que queriam, os três reis deixaram o Santo padroeiro, António, em S. Bento, partiram rumo a Belém onde foram recebidos com pastelinhos, conversa de chacha, uma dúzia de selfies e a oferta milionária de uns vistos Gold.
A história fica por aqui até porque de seguida os reis magos rumaram para o novo aeroporto, embarcando, agora sim, nos seus jatos privados a caminho dos seus fabulosos, prósperos e ricos impérios. A missão foi cumprida, com êxito total, neste paraíso fiscal de grandes negociatas, concebidas pelo grande capital e num apadrinhamento imediato e cúmplice dos detentores do poder.
Esta historieta até pode ser ficção mas é muito provável que muitas destas personagens sejam (quase ou mesmo) reais.
O episódio Eva Kaili e o provável polvo que está associado obriga-nos a dizer que a Europa faz muito pouco ou quase nada contra as “Commodities” e a corrupção e, já agora, também aqui, no cantinho à beira mar plantado, a Transparência Internacional, ao analisar o Índice de Perceção da Corrupção nos 42 países europeus, Portugal ocupa um vergonhoso 32º lugar.
Caro leitor, votos sinceros de um feliz e Santo Natal.
Era uma vez… por cá…no Natal
“No Natal vem sempre à baila, ou não fosse Natal, o rebuscado relato daqueles três reis magos que visitaram o presépio. Os três mosqueteiros do ano zero fizeram questão de, em 2022, efetuarem a viagem de comboio desde a Guarda, pela Beira Baixa, vindos da Europa, guiados pela estrela polar, até à capital do cantinho à beira mar plantado, desembarcando no términus da linha de todas as linhas ferroviárias: Santa Apolónia.”