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Oppidana fecha dia 21

Warner/Lusomundo não quer assumir sozinha as responsabilidades pelo fracasso comercial do cinema guardense

A Guarda fica sem cinema a partir de dia 21. Exactamente 17 anos depois da Lusomundo ter assumido a gestão do Cine-Estúdio Oppidana, iniciando as projecções com o filme “Rain Man – Encontro de Irmãos”, a única sala de cinema comercial da cidade fecha as portas. A autarquia já anunciou que não voltará a concessionar o espaço a outras distribuidoras e vai decidir se assume a sua gestão ou a entrega à CulturGuarda.

De saída, a Warner/Lusomundo não quer assumir sozinha as responsabilidades pelo fracasso comercial do cinema guardense. Para a principal distribuidora portuguesa, a anterior gestão camarária também tem culpas no cartório: «Houve um desinteresse total do município pela única sala de exibição de cinema comercial da Guarda, já que todas as remodelações/melhorias tiveram de ser suportadas unicamente pela Lusomundo, embora se tenha pedido sempre o apoio da Câmara, que nunca lhe foi concedido», disse a “O Interior” fonte do grupo, que pediu para não ser identificada. A actual concessionária explica ainda que abandona a cidade devido «à globalização geral, mas sobretudo por causa da actual “shopping-dependência”» dos espectadores de cinema. Por outro lado, lamenta-se que os guardenses «não saibam valorizar os espaços criados, mas saibam criticar quando não os têm», enquanto se atribui a drástica diminuição da assistência no último ano ao «nascimento da pirataria informática e à programação bastante alterada aquando da compra da Lusomundo pela PT-Multimedia».

A intenção de fechar o Oppidana remonta a 1998, altura em que a concessionária tentou cessar o contrato de exploração com a autarquia, proprietária do espaço. Algumas obras de melhoramentos das condições da sala adiaram a decisão, enquanto a Lusomundo instalou equipamento de som e projecção mais moderno. Investimentos em vão, uma vez que, com o encerramento, a distribuidora vai retirar todo o material ali colocado. Entretanto a Câmara comprometeu-se a não vai deixar fechar aquele espaço. «Assumimos que vai continuar a haver cinema comercial na Guarda», disse, no final de Março, Vergílio Bento, acrescentando que estão em curso obras de beneficiação. O vereador responsável pelo pelouro da Cultura revelou igualmente que a Warner/Lusomundo não pôs de parte continuar na Guarda, mas fez exigências «inaceitáveis» para a autarquia, à qual caberia suportar os prejuízos financeiros de exploração do Cine-Estúdio, melhorar o espaço ou mesmo arranjar um patrocinador. Por outro lado, responsabilizou a concessionária pela falta de público, recordando que o contrato de exploração estabelecia a «obrigatoriedade» de estreias nacionais todos os meses. «O que tem acontecido é que os filmes chegam à Guarda com um mês de atraso e as pessoas não estão dispostas a esperar tanto tempo com as salas que já existem nas cidades vizinhas», considerou, admitindo que também ele já foi à Covilhã e encontrou «muitos guardenses» nos cinemas do Serra Shopping.

Do sucesso ao fracasso

“Titanic” foi o filme mais visto na história do Oppidana, com 8.556 espectadores. Houve um mês e meio de sessões (Janeiro a Fevereiro de 1998), filas enormes e uma estreia marcada pela intervenção da polícia para repor a ordem à porta da sala. Quem não se lembra. Ao contrário do menos visto, “Booggie Nights”, que registou apenas 15 espectadores no total da semana de exibição. Estes são alguns dos dados que “O Interior” conseguiu recolher junto da Lusomundo, que só possui números posteriores a Abril de 2002, quando foi implementado o sistema informático. Nesse ano, a palma da maior audiência foi para “Harry Potter 2”, visto por quase três mil espectadores. Em 2003, a liderança pertenceu a “Matrix Reloaded”, enquanto que “A Paixão de Cristo” dominou as atenções no ano seguinte. Em 2005 o maior sucesso do Oppidana pertenceu a “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, muito longe dos 433 espectadores que viram “Munique” no primeiro trimestre de 2006. Em termos globais, as entradas têm vindo a decrescer exponencialmente desde 2003, quando houve mais de 37 mil espectadores no total do ano, contra cerca de 31 mil em 2004 e pouco mais de 20 mil no ano transacto. No corrente, os dados disponíveis referem cerca de 2.500 entradas.

Luis Martins

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