O mal-estar terá começado a formar-se em setembro quando o presidente da Câmara da Guarda promoveu, organizou e integrou – do princípio ao fim – uma excursão com idosos do concelho até Aveiro para celebrar o Dia Internacional da Pessoa Idosa.
Nada contra passeios, pelo contrário. E muito menos contra missas em gimnodesportivos, como foi o caso – sou crente, até andei no seminário. O que custa é ver Sérgio Costa, autarca de um concelho a meio de um processo de desenvolvimento, orientar as suas prioridades políticas para apascentar setores do eleitorado que quer seduzir e segurar, em vez de orientar o seu foco e energia para a competitividade dos setores mais dinâmicos da sociedade e da economia da Guarda.
No passeio a Aveiro lá estava ele, à frente de 1.100 idosos, na primeira fila da missa. O ano passado homenageou três bispos no Dia da Cidade. Este ano distinguiu dois padres. Obviamente há aqui um padrão político – e não está em causa a qualidade dos clérigos….
Este mesmo padrão político também se verificou no verão, quando os incêndios destruíram o Parque Natural da Serra da Estrela. Em vez de terem uma liderança autárquica com uma visão lúcida sobre o que é preciso fazer no futuro para evitar a repetição de uma catástrofe natural e humana como aquela, os guardenses assistiram ao triste espetáculo de verem o seu presidente da Câmara disparar, sem qualquer fundamento ou razão, contra incendiários e bombeiros incompetentes. Lamentável!
Como é habitual suceder nestes casos, quem se fixa nas coisas pequenas deixa passar as grandes. Bem pode a Guarda clamar pelo seu potencial logístico, e o seu Politécnico conquistar 1,3 milhões de financiamento para um laboratório colaborativo com empresas do setor, que o prometido Porto Seco não arranca perante a passividade de Sérgio Costa. Enquanto na Guarda se discutem localizações, o Porto Seco de Badajoz vai conquistando mercado e intensificando as suas ligações com os portos de Lisboa, Setúbal e Sines.
A Guarda, devido à sua localização privilegiada e confluência de autoestradas e linhas férreas, ainda é apetecível para a APDL, que gere os portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo. Mas é preciso que a Câmara Municipal abandone a passividade provinciana a que se tem remetido!
O alcaide de Badajoz lidera regularmente delegações técnicas aos portos de Lisboa e de Sines para negociar com eles. Seria bom que Sérgio Costa fosse fazer o mesmo a Leixões e ao Governo a Lisboa – em vez de passar o tempo a passear de camioneta com seniores e a acarinhar padres.
* Dirigente sindical e presidente do Conselho Distrital da Guarda da SEDES