P – Como é que uma empresa da Guarda conseguiu ganhar este concurso de avaliação dos sites do Estado?
R – A presidência do Conselho de Ministros convidou uma dezena de empresas a apresentarem soluções de avaliação para sites do Estado. Nós concorremos e ganhámos por causa do nosso currículo – já fazemos isso há 10 anos -, mas também pela metodologia e a relação qualidade/preço da nossa proposta. Por estarmos sedeados na Guarda, somos muito mais competitivos que empresas de Lisboa e multinacionais que também concorreram.
P – O que significa para a Dom Digital “derrotar” grandes multinacionais?
R – É obviamente muito satisfatório e o reconhecimento de um trabalho de longos anos levado a cabo por uma equipa de 13 pessoas, todas da Guarda. Não é uma grande surpresa, porque neste meio já somos conhecidos por os “Marcelos” da Internet pelo facto de passarmos a vida a avaliar e a dar notas, o que fazemos há bastante tempo. Por outro lado, é bom porque nos dá mais visibilidade na opinião pública, coisa que já temos no sector da Internet.
P – É quase um certificado de qualidade e de credibilidade passado pelo Estado…
R – Não inventámos a metodologia para avaliar sites, só que nós adaptamos, por exemplo, as boas práticas de Jacob Nilson, um guru da usabilidade na Internet, e outras, a que acrescentamos a nossa própria experiência acumulada nesta metodologia. O que faz com que esta grelha de avaliação seja bastante abrangente e rigorosa, adaptando-se muito bem a sites como o do Ministério das Finanças, que dá muito trabalho, de secretarias de Estado, institutos e organismos desconcentrados do Estado.
P – Quantos sites vão ser avaliados?
R – Estamos a falar em cerca de 550. O engraçado é que nem o próprio Estado sabe, com rigor, quantos são na realidade, porque, para além da administração central, há também a administração indirecta. O número está a ser confirmado agora.
P – Qual é o objectivo desta intervenção?
R – O Estado tem investido milhões na Internet e tem que avaliar periodcicamente o sucesso desse investimento. No caso dos sites, o objectivo é avaliá-los, identificar os seus pontos fortes e fracos e recomendar soluções ou melhorias para cada ministério. O facto do site estar desenhado para que uma pessoa ganhe dois segundos numa navegação é importantíssimo, porque se o site for visitado por um milhão de utilizadores, isso representa um ganho de tempo considerável. Por exemplo, um atraso de dois segundos traduz-se num prejuízo enorme para quem está a preencher a declaração de IRS. Por isso, esta avaliação vai tentar reduzir o tempo que as pessoas passam a preencher os formulários.
P – Acha que há alguma iliteracia dos utilizadores desses sites? Ou a culpa é de quem os produz?
R – O problema nunca está nas pessoas. Não há utilizadores iliteratos, o que existe são webmasters, ou quem produz sites, que não os sabem fazer. Não é a pessoa que tem que se adaptar à Internet, mas o site que tem que se adaptar à pessoa, seguindo uma série de normas de boas práticas, identificadas pela Dom Digital e outras empresas, que devem adaptar para todas pessoas.
P – Isso é um bocado a filosofia da Dom Digital, facilitar o acesso à Internet?
R – A nossa missão é fazer com que o site seja utilizável pelo cidadão comum, porque geralmente os técnicos não têm essa sensibilidade.
P – Quais são actualmente os clientes da Dom Digital?
R – Somos uns dos líderes nacionais a nível da criação de sites de Internet. Temos cerca de 200 clientes em Portugal, Espanha e Cabo Verde. Na área da avaliação, os dados são confidenciais. A Dom Digital vai comemorar 10 anos de actividade e o seu percurso superou as minhas expectativas. Há sempre aquele estigma de ser do interior, mas somos mais conhecidos na zona do litoral do que propriamente na Guarda. Aqui na cidade ainda há aquela ideia de que o que vem de fora é que é bom.
P – Isso quer dizer que se trabalhasse numa cidade do litoral, a empresa teria outro protagonismo nesta área?
R – Provavelmente. Mas eu nunca trocaria a Guarda, pois não há nada que pague esta tranquilidade e qualidade de vida, para além de sermos mais competitivos em termos de preços em relação a empresas de Lisboa ou Porto. Por outro lado, estamos a duas horas e meia da capital, ficaremos brevemente a hora e meia do Porto, enquanto Madrid está a pouco mais de três horas de viagem. A Guarda está muito bem situada geograficamente e é uma oportunidade enorme para as empresas que se queiram instalar cá. Por exemplo, este serviço de avaliação aplica-se a todo e qualquer site, mas será mais rentável numa utilização mais global. A Dom Digital pode desenvolver essa tecnologia e vendê-la por todo o mundo, apesar da concorrência ser tremenda a esse nível. Temos consciência das nossas limitações, mas não custa nada tentar.