A Fnac foi um ícon da minha adolescência e do princípio da minha adultez. Ir a Paris em 1984 obrigava-me a visitar a Fnac e depois percorrer todas aquelas surpresas literárias e editoriais. A Fnac, a Taschen e algumas outras empresas de cultura faziam as delícias do provinciano – eu – que ali se descobria. Ultimamente experimentei a Fnac portuguesa, que afinal são várias Fnac separadas e se gerem de modo confuso. O que mais me impressionou foi a falta de diálogo com os outros. Impressiona-me que uma carta não tenha resposta, que um pedido não tenha um não, que uma proposta não tenha uma análise. Fui procurar a Fnac por causa do Rádio Clube Nora e do lançamento do seu disco. Fizemos o lançamento deste grupo na Fnac, em homenagem a todas aquelas minhas memórias, mas ali não resta o espírito que me arrastava em 1984, estamos mais na era do negócio, e este encarado de um modo muito frio e calculado. Foi isto que me impressionou mais, porque acredito que o negócio moderno é apaixonado, diferente pela militância, quente porque agrupa e de sucesso porque único. Estivemos em Sta. Catarina a convite simpático da loja e fomos, nesse espírito de 1984, gratuitamente e com a ilusão de ver a promoção de todos. Mas se os amigos foram às dezenas o empenhamento da Fnac não parecia tão claro. Muitas restrições, muitos limites impensáveis para a velha utopia. Isto é um pensamento em torno de uma desilusão e não um desabafo frustrado, pois para nós foi excelente estrear no Teatro Municipal da Guarda e trazer depois este projecto a um nome mítico. O erro está na perspectiva do negócio. O negócio do futuro tem de ser muito de oferendas e de brindes e estes têm de ser criativos e estar intimamente ligados com o cinema e outras artes plásticas. A sedução pelo objecto que se vende e depois a imaginação na promoção e na forma dos objectos. Temos de perceber que os materiais não podem ser caríssimos quando são brinde, mas não podem ser frustrantes pela falta de qualidade. Recordo aquelas prendas de meio euro que nos chegam da China e se partem no abrir da caixa. A criança chora e o pai entristece. A Fnac onde fui não arrisca em nada, coloca os mesmos produtos em preços sinusoidais com Caetano a 10 euros em Fevereiro e a 18 em Abril, regressando a nove em Outubro. Os nomes não estão todos preenchidos, as novidades não estão em número elevado e as compras são feitas por quem domina mal o mercado específico. A Fnac vai abrir em Coimbra e desejamos que seja diferente das outras, porque a gestão é muito particular dentro das particularidades da empresa-mãe.
Por: Diogo Cabrita