Mergulhadas no mais profundo silêncio, apenas quebrado pela passagem da automotora duas vezes por dia, as estações de Belmonte e Caria encerraram há, respectivamente, três e 10 anos. Condenadas à condição de meros apeadeiros – tal como os restantes pontos de paragem no troço Guarda-Covilhã (Barracão/Sabugal, Benespera e Maçaínhas), dezenas de edifícios desactivados aguardam agora melhores dias. A esperança está na prometida requalificação da linha da Beira Baixa, que deverá estar concluída em 2007, segundo anunciou o primeiro-ministro em Julho último.
Mas nada contente está o autarca de Belmonte. Isto porque, em pouco mais de seis quilómetros, existem no seu concelho duas estações «num estado de degradação passiva, numa altura em que os municípios do interior se defrontam com falta de infraestruturas», diz Amândio Melo. Com o intuito de aproveitar aqueles imóveis e assegurar a sua manutenção, o presidente abordou a REFER «no mandato anterior» para que a Câmara pudesse utilizar um dos armazéns contíguos à estação de Belmonte. Porém, as conversações ditaram apenas o «aluguer de metade do pavilhão, a troco de uma renda simbólica de 50 euros». Apesar de tudo, ideias não faltam para revitalizar os edifícios desactivados e a zona envolvente de Belmonte-Gare. «A funcionalidade daquelas estruturas deveria ser repensada e é prioritário procurar soluções com as autarquias para a sua recuperação, até porque este é um problema a nível nacional», reconhece.
Reconverter «as ruínas num complexo de turismo rural» poderia ser uma hipótese, bem como recuperar toda a área envolvente – edifícios de apoio incluídos –, transformando-a «numa zona residencial de habitação social». Outra das soluções apontadas por Amândio Melo seria a criação de «estruturas de apoio aos munícipes», nomeadamente através da reconversão do edifício num «centro de atendimento público». Ou então entregar o imóvel a uma associação local «para fins sociais, culturais e recreativos», sendo esta talvez «a mais viável», admite. Quanto à estação de Caria, os planos do autarca passam pela criação de um museu que servisse «como instrumento de leitura histórica da freguesia, que, aliás, sempre viveu muito ligada à linha». Mas até lá, Amândio Melo não poupa críticas à REFER, que responsabiliza pela degradação do património da linha da Beira Baixa, construída há mais de um século. «A empresa tem a obrigação de manter este património que está a desaparecer, é querido de todos e faz parte da nossa história», argumenta. O presidente belmontense considera mesmo que esta realidade é «pouco dignificante» para a própria REFER, revelando que algumas estações «já têm as coberturas caídas, o que dá um aspecto de desolação e abandono, com o qual não podemos conviver de forma passiva», avisa.
Rosa Ramos