O ritmo latino e quente do Carnaval brasileiro espreitou, este ano, muito subtilmente a cidade mais alta de Portugal. O ar gélido e os breves momentos em que o manto de neve tornou a cidade mais luminosa, levou os egitanienses a abrigarem-se no calor do lar. A folia e o disfarce inerentes a esta época parecem apenas ter tocado os mais novos que, como todos os anos, vieram exibir as suas fantasias. Havia desde peixinhos, a arco-íris e, claro, como não podia deixar de faltar, uns chinesinhos, ou não fosse a cidade da Guarda um pólo de comércio chinês.
O Carnaval, tal como outras épocas festivas, é sinónimo de música, dança, alegria e divertimento, mas é sobretudo o período em que as pessoas se disfarçam, encarnam uma personagem que admiram ou fazem chacota duma que detestam. Podem-se vestir, maquilhar, pentear como querem e, escondidos atrás de uma máscara, imitam atitudes, interpretam, como actores, o papel de uma personagem e, por vezes, assumem quem são, na realidade, sem reservas e sem medos…afinal é Carnaval, por isso, ninguém os leva a mal. Como diria Shakespeare a vida é um palco, onde se é actor todos dias e, numa sociedade virada cada vez mais para o egocentrismo, vence, na maioria da vezes, o melhor artista, ou seja, aquele que melhor representa.
Caminhamos no mundo quase todos como se fossemos desconhecidos, vivemos demasiado virados para nós próprios ou concentrados em agradar os outros, preocupamo-nos em viver muito e não em viver bem, temos dificuldades em olhar para o nosso lado, duvidamos daqueles que nos sorriem, dissimulamos aquilo que somos, camuflamo-nos atrás de receitas estereotipadas que nos ensinam a triunfar e, consciente ou inconscientemente, transmitimos esta forma de ser e estar aos nossos filhos. Como afirmou o gigante da psicanálise, Freud, “é natural que as crianças mintam. Ao fazê-lo, outra coisa não fazem do que imitar os adultos”
Sejamos inventivos, provemos as fantasias do mundo, mas não façamos da vida um constante Carnaval, porque se não formos aquilo que queremos e devemos, então não seremos nada.
Por: Cláudia Fonseca