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A gestão das expectativas

Vox Populi

A Política odierna, e em particular as campanhas eleitorais, têm dado espaço crescente aos especialistas do Marketing e Imagem onde até já tem cabimento uma nova área, a do Marketing Político.

Já não basta governar bem, é fundamental fazer a pedagogia das medidas, o anúncio oportuno das decisões, o esclarecimento das dúvidas entretanto suscitadas, numa palavra fazer uma boa gestão de expectativas.

É assim vital, quando se detém o “poder”, que se mantenham esclarecidos os eleitorados como meio de garantir, de forma continuada, a construção de uma boa imagem que potencie a credibilidade de pessoas e respectivos grupos, tendo em vista obviamente o acto eleitoral seguinte. Isto também porque as promessas não são obrigatoriamente para cumprir…

Na oposição, o trabalho e objectivos deveriam ser os mesmos, já que sistematicamente concorda-se com a necessidade de assim proceder, mas a fórmula mais fácil e tentadora é a da política do contra e do “bota abaixo”, imperando assim quase sempre uma acção destrutiva e pouco consequente. Não me parece ser, agora, o caso na Câmara da Guarda.

Ora, ultimamente temos assistido ao anúncio de um conjunto de medidas e investimentos que, a concretizarem-se, nos deixarão a todos muito satisfeitos com os “governos” central e local. Contudo, a experiência recomenda-nos que sejamos frios na análise, seguros no aplauso e realistas no comentário.

Anunciam-se a nível local, hipóteses de investimento na Industria, no Comércio e Distribuição e na Requalificação Urbanística, que a todos convencem e que alimentam a nossa auto-estima. Longe de querer ser “velho do Restelo”, julgo ser importante de momento avaliar viabilidades e probabilidades, para que não se repita o insucesso do ambicionado plano de Reequilíbrio Financeiro.

Concentremo-nos no primeiro caso anunciado – fábrica de Aerogeradores.

O investimento da Iberdrola – detentora do capital da Gamesa – sendo muito bem vindo, encontra ainda dois obstáculos maiores:

– O concurso para a produção de 1.500 megawatts a partir de Centrais Eólicas

– A necessária reorientação estratégica da PLIE.

Quanto ao concurso – apesar de se ter afirmado que a futura fábrica produzirá igualmente para exportação, e que o grupo Iberdrola/Gamesa tem já uma carteira de encomendas que garantirá actividade para oito anos de laboração (por acaso, é o período mínimo exigido pelo referido concurso de manutenção do investimento), não é menos claro que uma certa gestão de “lobby” está subjacente a este anunciado investimento. Pretende-se ganhar o concurso dando contrapartidas à Guarda, investindo 30 milhões de euros e criando 400 postos de trabalho (directos e indirectos).

Mas é o próprio concurso que obriga à criação de um “cluster” industrial para a fabricação dos equipamentos para os parques em disputa. A decisão não é assim voluntarista e de opção estratégica, mas pretende responder a uma exigência concursal.

E se o concurso, que até alargou o prazo de candidatura, tiver participação e vencimento por outro concorrente de peso, de origem portuguesa ou estrangeira, que optou por outras localizações? Justificar-se-à o investimento anunciado?

Tenho a certeza que não, porque é conhecida no mercado ibérico a procura e a oferta já existentes, e também porque Portugal, apesar de carenciado – assinou o protocolo de Quioto, mas não está a cumpri-lo – descurou, por exemplo, o investimento em infraestruturas essenciais, como seja a capacidade da rede existente para escoar tamanha produção dos locais onde se prevêem tais instalações.

É o primeiro grande constrangimento que está na base, aliás, do adiamento do concurso, já que não eram explícitas penalidades/indeminizações para o caso da rede eléctrica não estar disponível a tempo. A Guarda surge assim mais como uma mais-valia na proposta do consórcio do que como objectivo primeiro do investimento.

Quanto à PLIE – com uma área global superior a 90 hectares, parceria publico/privado com sociedade constituída e que congregou um naipe de investidores privados locais e nacionais de importância inquestionável, com mais uns tantos potenciais investidores a ficar à “porta” por opção da empresa, foi gerida à vista, sem uma estratégia coerente e de fácil concretização, capitais insuficientes para responder ao volume de investimento necessário e fortemente dependente de subsídios a fundo perdido. Se não se conseguir um mínimo de contribuição de 65% de taxa de cobertura por fundos alheios no total do investimento, o negócio não será viável – consta do próprio plano de negócios até agora vigente.

As infraestruturas que estão a ser construídas mereceram já um reparo significativo a nível do projecto da rede de comunicações, face às exigências actuais, e ainda só cobrem uma primeira fase do projecto (a PT propôs essa alteração – construção em anel – e tem estado disponível para investir, apesar de ter esperado quase um ano para se iniciar um diálogo visando o seu envolvimento societário).

A indefinição sobre se a PLIE incluirá a Área de Localização Empresarial ou esta será separada, como parece ser agora a

opção, carece de resposta. Como forma de viabilizar e potenciar investimentos como o da Iberdrola, o papel da Câmara da Guarda tem que contemplar um maior envolvimento, nomeadamente cedendo e não vendendo terreno, ao arrepio do que foi fixado no preçário para os próprios accionistas.

São tudo questões que falta gerir, para ser concretizável esta e outras iniciativas de investimento, garantindo assim que não se esteja num processo de transformar expectativas risonhas e de aplaudir, em frustrações deprimentes. Estou convicto que a gestão destas expectativas ganhariam e muito, se se trabalhassem primeiro e melhor estes dossiers, sem pressas de anúncio público, já que corremos o sério risco de servirem de meio para fazer “lobby” junto de terceiros e não para, garantidamente, criar emprego e riqueza.

É preciso gerir melhor as expectativas, já que o clima de abertura, até da oposição, que se pressupõe autêntica, potencia as probabilidades de êxito.

Por: J. L. Crespo de Carvalho

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