Arquivo

“Interminavelmente” Eugénio de Andrade

Escultura evocativa do poeta está frente à casa onde viveu em criança na Póvoa da Atalaia

A obra de Eugénio de Andrade está, desde sábado, alegoricamente imortalizada em frente à casa onde viveu com a mãe, no Lugar da Casa, na Póvoa da Atalaia (Fundão). “Interminavelmente”, nome criteriosamente escolhido pelo escultor salamantino Valeriano Hernandez, é uma homenagem ao poeta, que teria feito 83 anos a 19 de Janeiro.

Um bloco de mármore cor-de-rosa representa tão simplesmente o poeta. Por isso é que assume uma «posição de trabalho», pois não é só o homem que se pretende homenagear, mas também a obra. «A sua vida foi sempre dedicada ao trabalho, à literatura, a ler e a escrever», recorda o escultor, enquanto Arnaldo Saraiva, presidente da Fundação Eugénio de Andrade, constata que o poeta fica imortalizado «numa cor de que gostava». O momento foi ainda de declamação de alguns dos poemas que retratam a sua grande «afectividade» à Póvoa da Atalaia, que é «mais do que as origens do Homem que aqui nasceu, representa a terra mãe da própria criação, da poesia. Terra fértil e fecunda da palavra e da linguagem», salientou o professor universitário. Apesar de só ter vivido na pequena aldeia durante os primeiros sete anos de vida, José Fontinhas – nome civil do autor de “O Sal da Língua” – nunca esqueceu os momentos da infância. Na sua extensa poesia são várias as referências à sua mãe (pessoa que mais o marcou em toda a sua vida), mas também à Natureza, às oliveiras, às flores, aos pássaros, aos frutos.

«Foi importante ter nascido numa pequena povoação, com grandes espaços abertos à poeira dos rebanhos. Foi importante colher as maçãs das árvores e mordê-las e deitá-las fora, ou mergulhar os pés na água até ficarem de vidro», citou Arnaldo Saraiva, para dizer que Eugénio de Andrade «nunca esqueceu» a sua terra, apesar de a visitar poucas vezes. Para Manuel Frexes, a poesia e o poeta transportaram a Póvoa da Atalaia «além fronteiras», visto que está traduzido em mais de 40 línguas. O autarca fundanense aproveitou a cerimónia para explicar aos populares a escolha de uma escultura abstracta em vez de um busto do autor, como preferiam alguns dos populares. «O importante é imortalizar a obra, a inteligência, a criatividade e a forma de estar na vida do homenageado», sustentou, considerando que o resultado se assemelha «em tudo» ao poeta. Eugénio de Andrade, vencedor do Prémio Camões em 2001, nasceu José Fontinhas a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa da Atalaia. Esteve em Castelo Branco e Lisboa, antes de se radicar no Porto, em 1950, cidade onde residiu até à sua morte, a 13 de Junho de 2005.

O seu primeiro poema, “Narciso”, foi escrito em 1939, mas a consagração chegou nove anos depois com “As Mãos e os Frutos”. A sua vasta obra marcou profundamente a poesia portuguesa, escrevendo ainda prosa, ensaios, tradução e antologias. Um sucesso que sempre soube conciliar com as funções de inspector administrativo do Ministério da Saúde até 1983.

Liliana Correia

Sobre o autor

Leave a Reply