Sou daquelas pessoas que, embora aprecie emoções fortes no cinema, raras são as vezes em que encontra um filme que consiga saciar essa fome de adrenalina. A grande maioria dos filmes de terror acabam por oscilar quase sempre entre o grotesco gratuito e o humor disparatado, perdendo-se assim qualquer hipótese de nirvana atingido através do medo puro e duro, de todas a mais primária e forte emoção que podemos sentir. No meu top de filmes de terror, Shining, de Stanley Kubrick, aparece em primeiro lugar e poucos mais são dignos de surgir numa qualquer lista desse género.
Todo este paleio a propósito de A Descida, filme que chega às salas de cinema de forma discreta, se instala quase sem ninguém dar por ele, e que apanha os mais desprevenidos de surpresa, na sua teia de emoções fortes e sobressaltos nas cadeiras por parte até do espectador menos sensível. Espécie de Alien, onde o Espaço dá lugar a uma gruta, este filme de Neil Marshall, é o filme actualmente em cartaz mais aconselhado para os fãs de uma ida ao cinema que os deixe abalados e com todos os sentidos à flor da pele.
Não será o mais brilhante dos filmes, nem sequer terá descoberto a pólvora, e embora os mecanismos do género estejam lá todos de forma bem visível e fáceis de identificar, poucas terão sido as vezes em tempos recentes que se assistiu a uma tão boa mistura desses ingredientes, pecando apenas, por vezes, por um desequilíbrio na dosagem de lutas violentas e sanguinárias, em tal quantidade que a ideia de repetição quase se instala.
Contando a história de seis amigas que têm por hábito reunir-se uma vez por ano para uma aventura mais radical, que as faça sentir tudo aquilo que não conseguem durante um ano de trabalho nas suas vidas pacatas e banais, A Descida acompanha a (pois…) descida destas a uma gruta que estas julgam nunca antes ter sido explorada. Por sua conta e risco, as emoções que este elenco exclusivamente feminino vai encontrar nessa gruta vão muito para além daquilo com que elas se esperariam vir a deparar. Cedo as coisas começam a correr mal. Os sinais vão surgindo e os sustos também, num crescendo que acabará numa matança em banhos de sangue, com homenagem pelo meio a Apocalipse Now e por entre monstros a lembrar alguns momentos de Ficheiros Secretos.
Da claustrofobia dos primeiros minutos rapidamente passamos para premonições daquilo que se poderá seguir. Em crescendo, A Descida vai construindo uma rede de emoções suficientemente fortes para que, mais tarde, já fora da sala de cinema, toda a realidade nos surja ligeiramente diferente. Anestesiante, no mínimo.
Por: Hugo Sousa