Os guardas-nocturnos de diversas escolas da Guarda estão descontentes com as suas condições de trabalho, reclamando, nomeadamente, a licença de uso e porte de arma que lhes possa garantir uma maior segurança, e também formação. Para mostrarem o seu descontentamento, os vigilantes reuniram no início desta semana com o coordenador do CAE (Centro da Área Educativa)da Guarda que ficou encarregue de fazer chegar as reclamações ao Ministério da Educação.
«Queremos mais segurança», indica Joaquim Oliveira, um dos guardas-nocturnos da Secundária Afonso Albuquerque, a única da cidade que actualmente lecciona à noite. São cerca de «500 alunos para um único guarda-nocturno», alerta, lamentando que, ao contrário dos taxistas ou dos ourives, a polícia não considere a actividade de guarda-nocturno como uma «profissão de risco». Joaquim Oliveira garante que já o «tentaram matar» na escola, denunciando terem sido encontrados alunos com «pistolas e navalhas de ponto e mola». «Somos ameaçados na própria escola e não temos com que nos defender. Está estipulado na lei que não podemos utilizar armas de fogo quando os alunos as usam. Ora se eles as têm, não sei porque é que nós não as pudemos ter», questiona. O vigilante considera mesmo que ele próprio e os seus colegas estão «indefesos» perante este cenário. De resto, a Afonso Albuquerque tem uma extensão bastante grande, pelo que os seus guardas-nocturnos demoram cerca de «uma hora a percorrê-la», indica. Aliás, se no final das aulas «três ou quatro alunos se esconderem numa casa de banho, nós não os conseguimos detectar, além de ser uma situação muito perigosa», salienta.
Outra reivindicação apresentada pelos oito guardas-nocturnos de várias escolas da cidade a António Maximino, coordenador do CAE, tem a ver com a necessidade de acções de formação. «Sou guarda-nocturno há 11 anos e nunca tive nenhuma formação», queixa-se, adiantando que, por iniciativa própria, se dirigiu à Polícia Judiciária para tentar conhecer vários tipos de droga. Uma atitude que já rendeu alguns frutos, pois foram “apanhados” alguns alunos na posse de substâncias ilícitas. Perante esta realidade, Joaquim Oliveira deixa uma espécie de ultimato no ar: «Ou resolvem a nossa situação ou deixamos de entrar na escola, porque não estamos para arriscar a nossa vida», avisa, clamando por segurança para poderem «zelar pela segurança dos outros. É o que queremos, mais nada». Salientando que o papel do guarda-nocturno é cada vez mais essencial para a segurança das escolas, «já que sempre somos alguém que consegue, mais que não seja, manter um bocadinho a ordem», Joaquim Oliveira queixa-se ainda do reduzido ordenado que aufere, cerca de 400 euros, tendo em conta o perigo a que está sujeito e o horário. «Temos que trabalhar todos os dias, sem domingos, feriados ou Dia de Natal», refere. Agradado com a receptividade demonstrada pelo coordenador do CAE, Joaquim Oliveira espera que a ministra da Educação tenha em consideração as reivindicações apresentadas, até porque nas entrevistas que tem concedido «tem dado a entender que quer modificar o sistema para bem», recorda.
Ricardo Cordeiro