A antiga Casa da Legião pode ajudar a conhecer melhor a história da Guarda. Na véspera do encerramento da consulta pública promovida pela autarquia sobre o destino a dar ao espaço, um grupo de cidadãos entregou uma carta aberta o presidente da Câmara onde defendem a realização de um estudo aprofundado do local.
O objetivo é que o imóvel, situado frente à entrada principal da Sé e já em ruína, não seja pura e simplesmente demolido sem se conhecer o seu passado. Os 51 subscritores pedem que «qualquer deliberação sobre o edifício seja precedida de uma investigação técnico-científica» que permita «determinar» a sua importância «no âmbito dos conceitos atuais sobre Património Cultural», lê-se no documento a que O INTERIOR teve acesso. Com isso, José Quelhas Gaspar, primeiro signatário da carta aberta, espera que os resultados permitam «informar-nos a nós, à Câmara e ao cidadão em geral qual o valor daquela casa» e com isso contribuir para decisão «mais esclarecida».
Para o técnico superior de património, a demolição seria um «ato irreparável» para o património da Guarda. «Hoje, tem o rótulo de ter sido uma casa da Legião, uma associação paramilitar do Estado Novo, mas essa foi a pior das suas funções porque é uma casa muito antiga, que estimamos datar da segunda parte do século XV», acrescenta. Segundo Quelhas Gaspar, foi residência de uma linhagem de nobres, os Costa, e, já no princípio do século XX, foi a casa de Amândio Paúl, médico e diretor do Sanatório Sousa Martins de 1922 a 1933. «Estes dados já nos permitem pensar que há importância que deve ser conhecida», estima, numa opinião partilhada por Daniel Martins, outro subscritor, para quem conhecer melhor aquele o local é de extrema importância para a história da cidade.
«Não me recordo que haja na Guarda uma casa com duas pedras de armas da mesma família, a Costa, tem arcos ogivais. Mas se olharmos bem para ela reparamos que tem todas as marcas históricas da cidade e, tal como o resto da Guarda, também foi crescendo e sendo adaptada, reconstruída», exemplifica. O investigador destaca também a proximidade à Sé, estimando mesmo que possa ser anterior à construção da catedral. «Acredito que naquela casa se consiga obter informação sobre todos esses processos evolutivos da cidade, temos ali marcas do período medieval, moderno, temos um bocadinho de tudo, pelo que esse estudo tem que ser muito aprofundado, não pode ser superficial», defende, considerando que ainda há «muitos aspetos» desconhecidos da zona histórica da cidade mais alta. «Por exemplo, não sabemos onde ficava a Igreja de Santo Ildefonso, que funcionou como catedral durante cerca de 200 anos», refere, sublinhando que qualquer intervenção no local deve cumprir as regras estabelecidas para a zona de proteção da Sé.
Quanto ao futuro da casa, Daniel Martins diz que cabe ao município decidir. A consulta pública promovida pela autarquia terminou esta terça-feira, mas não é vinculativa. Os guardenses puderam optar entre três possibilidades: construção de uma nova praça, com a demolição do que resta do atual edifício e implementação de um parque de estacionamento para cerca de 50 lugares; a reconstrução do atual edifício, contemplando também um parque de estacionamento para cerca de 40 lugares; ou a solução que resultar da consulta pública aos guardenses. Recorde-se que executivo anterior, liderado por Carlos Chaves Monteiro, adquiriu o imóvel para construir um museu de arte contemporânea com a coleção de António Piné.
Luís Martins