Por entre os pináculos ali estão elas, as gárgulas imóveis, condenadas ad eternum à sombra, à imobilidade e ao silêncio, alinhadas com as platibandas e os canhões virando as nalgas e o cu à guerra.
A História, com tantas histórias, repete-se e a guerra continua a ser a fatalidade de todas as fatalidades. Já quanto às cartas de amor… sim, quem as não tem? Mesmo aquelas que Álvaro de Campos descreve como ridículas. As cartas são como as palavras e os sentimentos esdrúxulos. Ambos são ecumenicamente ridículos.
O destino faz com que até em maio a rendição nazi seja comemorada pelos senhores da guerra. Em maio tudo pode acontecer.
As três setas conseguidas e consentidas em maio contra o nazismo, o comunismo e a monarquia, com toda a carga e consistência ideológica, afinal parecem estar a vacilar.
Em maio, depois do referendo, a Sérvia separou-se do Montenegro, ficando este último um Estado muito pequenino. Com pouca gente. Esse processo faz com que o seguro de vida do senhor primeiro, com todos os sonhos cor-de-rosa, se prolongue e seja pago, com língua de sete palmos, pela república báltica do Montenegro, ou noutra leitura: haverá interesses que o próprio interesse desconhece?
Noutra área geográfica, em pleno oceano Atlântico, damos uma volta pela Madeira. Vamos até à bonita cidade de Santana e perguntamos: Será que o percurso da levada não ensina nada a ninguém? Não serviu de exemplo?
O Velho do Restelo, no seu pessimismo de outrora, lembrava a glória de mandar e a vã cobiça. Camões termina a estrofe «que mortes, que perigos que tormentas. Que crueldade neles experimentas».
Vem aí o calor. O calor de maio. E com ele vêm as moscas e a pergunta coloca-se: vale a pena trocar de mosca mesmo percebendo que há moscas e moscas e cada mosca deve estar no seu próprio galho. Quanto ao resto. Quanto à substância. Bom… fiquemos pela mosca.
A encruzilhada do destino é uma coisa tramada. Deixa-nos perplexos e desorientados pois neste deserto (de ideias) sem quaisquer indicação, placa, bússola, astrolábio, GPS ou outro instrumento que indique o rumo, ficamos sem perceber para que lado é o “far-west” da política, onde o somatório de todos os pontos cardeais determina que os da rosa brinquem com a distância cada vez maior entre a outra esquerda, mais que esfrangalhada, e a direita populista, perigosa, mentirosa, sanguessuga e oportunista, num processo de visível ortodromia que nem a tal república pequenina do Montenegro algum dia terá capacidade de destronar nem tão pouco chegar. Se a coisa ao menos tivesse um ligeiro toque estatutário, um cheirinho de esquerda, sempre se poderia afirmar “a luta continua”.
Maio tem destas coisas. Tem cartas. É maduro e quem o pintou até pode quebrar o encanto, isto, apenas e tão só, por uma questão de amor. Lá temos de citar novamente Shakespeare com o seu to “be or not to be”. Quanto às gárgulas, essas, vão permanecer imóveis, impávidas e serenas apenas viradas com o rabo para os senhores da guerra.
Maio vai ser um mês deveras interessante e só agora começou. Aguardemos para ver este e outros filmes e, nem é preciso chegar até ao fim.
Maio, maduro maio, quem te pintou. Quem te quebrou o encanto nunca te amou
“O destino faz com que até em maio a rendição nazi seja comemorada pelos senhores da guerra. Em maio tudo pode acontecer. “