No “coração” da Guarda, mais concretamente na Quinta do Chafariz, junto ao Teatro Municipal (TMG), há hortas comunitárias para cultivar num terreno cedido à Junta de Freguesia pela família Piçarra de Matos. A procura foi de tal ordem que já não há talhões disponíveis.
O projeto iniciou neste espaço em 2015, mas já tinha sido implementado uns anos antes na Quinta da Maunça. Desta vez, 34 dos 39 lotes criados já estão ocupados e produzem hortícolas e pequenos frutos, como morangos. É ali que vários guardenses passam algum do seu tempo a cultivar a terra e a colher os frutos – e legumes – deste “hobby” cada vez mais rentável nos tempos que correm. É o caso de Carolina Bonifácio Figueiredo, que frequenta as hortas há mais de 10 anos. Atualmente reformada, a guardense recorda nestas hortas o tempo que ajudava os pais e garante sobretudo que cultivar estes terrenos é um motivo para «não ficar fechada em casa». Além de se distrair no amanho da terra, a guardense sublinha que desta forma pode ter alguma «fartura em casa», mas também os seus «alimentos e as suas coisinhas, aqui posso ter um bocadinho de tudo».
Também reformado, Alfredo Cardoso prefere alimentar-se do que cultiva nas traseiras do TMG do que ir ao supermercado. «Eu gosto de plantar umas alfaces, couves, tomates, ervilhas, cebolo, courgetes… Aqui sabemos o que comemos», aponta. Ao contrário do que se pode pensar, as hortas no espaço urbano não são frequentadas apenas pelos mais velhos. Elena Kolesnikov, natural do Quirguistão, está na Guarda há oito anos. É designer e é uma das mais recentes utilizadoras de um desses lotes. A pequena agricultura não estava nos seus planos, mas acabou influenciada pela sua filha de seis anos, que agora brinca muitas vezes no recanto que lhe coube e há muito lhe pedia um daqueles terrenos. «Agora os tempos também são mais difíceis e podemos produzir alguns legumes e hortaliças em vez de os comprar. Além disso, é saudável trabalhar ao ar livre», refere.
Elena Kolesnikov confirma que as hortas são «uma maravilha e toda a gente gosta. É muito cómodo porque, a qualquer hora, as pessoas apanham alimentos muito frescos para as suas refeições e é impossível encontrar isso no supermercado». Dos lotes ainda livres, dois estão destinados a famílias ucranianas. Os restantes serão atribuídos por ordem de inscrição na lista disponível na Junta de Freguesia, que neste momento está a braços com o problema de satisfazer a procura, que já é manifestamente inferior à procura – os interessados ainda podem inscrever-se na Junta. O seu presidente, João Prata, adianta que os lotes de hortas comunitárias estão «sempre ocupados e a opinião das pessoas é positiva. Encaram esta atividade como uma forma de sair de casa e, ao mesmo tempo, de conviver com quem está na horta».
E não é para menos. A Junta disponibiliza aos cidadãos a limpeza do terreno, a gestão do espaço, a água necessária para rega, o motor e o estrume, mas também um combustor onde «as pessoas depositam os restos que não são necessários e depois o material produzido acaba por servir de fertilizante». Atualmente há 35 pessoas a tratar estas pequenas hortas a poucos metros do centro da cidade. Têm entre 30 e 80 anos e, segundo João Prata, há «muito estímulo de aprendizagem uns com os outros. Há um bom clima de interação entre as pessoas». Segundo o autarca, para além da questão social e ambiental, este projecto é uma «mais-valia por estar situado no centro da cidade e ser de fácil acessibilidade». E acrescenta que, dada a afluência das pessoas a este espaço, há planos para criar mais hortas comunitárias na cidade – o problema é haver «alguma dificuldade» para encontrar terreno disponível e com as condições necessárias. Por isso, esse passo ainda não será dado «este ano», lamenta o presidente da Junta da Guarda.
Guardenses esgotam hortas comunitárias
Sucesso da iniciativa levou Junta de Freguesia da Guarda a procurar mais terrenos para disponibilizar aos cidadãos