Sim, claro que era possível. Afinal não foi por culpa de alguém. Tempo de apurar responsabilidades e, claro está, saber virar a página e… partir para outra.
Hoje vamos falar do burgo. Do burgo sanchino, com nove séculos de existência. O presente e o futuro onde a vontade e determinação nos traga alegrias, crescimento, aventura, transformação, com outros e novos espaços, sem esquecer o património, as nossas gentes, a nossa história.
Pois bem, comecemos por dar uma voltinha por cá. Convido-o, caro leitor, a percorrer comigo o centro da tal capital que um dia sonhou ser da cultura. Venha daí.
Iniciamos o nosso trajeto na rua Direita, seguindo em direção à rua de S. Vicente até à porta d’El Rey.
Aqui conseguimos identificar inúmeras casas com duas portas. A maior dá acesso à loja enquanto a segunda é a entrada da residência. A maioria destas conserva símbolos que identificam marcas cruciformes da presença judaica, fazendo lembrar usos, costumes, a tradição do Rosh Hashaná, Shavuot e Pessach recordando os povoadores sefarditas que nunca se renderam à ditadura da igreja de Roma.
O nosso percurso segue pelas travessas do Rato, da Glória, de S. Vicente, pelos largos da Judiaria (do Povo), do Passo do Biu e pelas ruas de S. Vicente de Paulo, António Júlio, Bernardo Freire Xavier, D. Dinis, D. Sancho, Francisco de Passos, Trindade, Torreão, Oliveiras, Taipas, Rui de Pina, Paz, Amparo. De seguida subimos à degradada muralha e damos conta de um mamarracho envidraçado, que, sem qualquer utilidade, a não ser poluição visual e lixeira, não serve para mais nada. Situa-se mesmo em frente ao centro comercial.
O que vimos…
Dezenas de casas abandonadas, portas e janelas tamponadas e seladas com tijolos, cadeados nas portas, interiores em ruínas, uma ou outra casa recuperada com portas e janelas em alumínio. Não há rua ou travessa que não tenha várias casas destruídas, algumas em risco de ruir e isto sem falar nos edifícios junto à antiga Câmara, na Praça Velha. A sensação de abandono, abandalhamento, despovoamento apodera-se de nós e contracena com todos os centros históricos da nossa vizinha Espanha.
Com um património invejável, onde o cantar de Hava Nagila um dia se poderá ouvir, é importante perceber que o Hotel Turismo, o Matadouro, o Cine-Teatro, o Porto Seco, a nova avenida da Ti Jaquina, o investimento em novas empresas não poluentes, são de extrema importância mas é, de toda a urgência, olhar com olhos de quem quer ver, a realidade do centro da cidade, que todos queremos recuperar.
Vem aí a bazuca e as bazuquinhas. O Portugal 2030. Tempo de acabar com a triste realidade de um centro histórico notável quase comparável a um qualquer bairro de uma cidade ucraniana bombardeada pela Rússia nesta estúpida guerra que alguns ordinários teimam em manter.
É tempo de iniciarmos a reconstrução do nosso centro histórico. Por todos os motivos e mais um (até aquele que queiram adicionar). Olhem com olhos de quem quer ver. Motivem-se e finalmente deitem mãos à obra…
O centro de uma capital que um dia sonhou ser da cultura…
“Não há rua ou travessa que não tenha várias casas destruídas, algumas em risco de ruir e isto sem falar nos edifícios junto à antiga Câmara, na Praça Velha.”