Fornos de Algodres foi a “capital” do queijo Serra da Estrela no último fim de semana com o regresso da tradicional feira após dois anos de interregno devido à pandemia da Covid-19.
Cerca de quinze produtores de queijo marcaram presença no certame que decorreu no pavilhão gimnodesportivo do Agrupamento de Escolas local – o mercado municipal está em obras – e incluiu visitas guiadas a algumas queijarias do concelho. «Aqui estamos para valorizar o melhor queijo do mundo e estes homens e mulheres que tiveram dois anos extremamente difíceis», disse o autarca local, Manuel Fonseca, na abertura da feira no sábado. Que o diga Maria de Lurdes Frias, queijeira há mais de 30 anos, para quem o regresso da feira presencial é «muito bom» para o negócio. «Ajuda a vender e na divulgação. As pessoas que estavam habituadas a comprar-me queijo voltaram novamente e sentem a diferença», disse a O INTERIOR.
A produtora acrescentou que este ano o queijo é de «boa qualidade, mas não é tão amanteigado porque o tempo não tem ajudado e é artesanal, não temos câmaras frigoríficas, não temos nada. Mediante o tempo assim ele sai, mas estamos contentes, é um queijo muito gostoso e vende-se bem». Na feira fornense, o queijo DOP de Maria de Lurdes Frias era vendido a 18 euros o quilo e o não certificado a 15. A certificação faz a diferença e é um desafio que a autarquia está a abraçar, contando atualmente com cinco queijarias certificadas. «Isso é essencial para valorizar este produto gourmet, só assim podemos entrar em mercados competitivos a nível nacional e internacional. É um processo muito complicado, mas a Câmara tem que fazer esse trabalho de apoiar os nossos produtores a terem maior rendimento desta atividade», garantiu Manuel Fonseca.
Outra ajuda, além dos subsídios por cada cabeça de gado, foi o portal “O Bom Sabor da Serra”. Criado em 2019, tem contribuído desde então para os produtores escoarem queijo e outros produtos endógenos. «Lembro-me que a determinada altura alguns já não tinham queijo para vender, o que demonstra a importância desta ferramenta», considerou o presidente de um município que produz «algumas toneladas» de queijo Serra da Estrela por ano e gera um volume de negócios da ordem dos «dois milhões de euros». Apostar na exportação e fazer crescer o negócio é o objetivo de Sérgio Lopes, que seguiu as pisadas dos pais, com quem trabalha há dez anos. «Tento introduzir algumas modernices, como a faturação e a exportação. Era jogador de andebol e por onde passava via que o queijo Serra da Estrela era comercializado ao dobro, triplo ou quadruplo do preço que era vendido em Fornos», disse a O INTERIOR.
«Antigamente trabalhava-se de sol a sol, hoje ninguém quer fazer esse trabalho, então o meu papel é tentar potenciar a venda do queijo para haver recursos financeiros para captar funcionários que façam bem o trabalho», refere o jovem, que considera que as pessoas querem «um queijo genuíno» e que é preciso formar novos produtores «com bases» no saber fazer e no negócio. E para promover ainda mais o queijo Serra da Estrela volta à baila o tema da criação de uma grande feira com todos os concelhos da região demarcada. O assunto não é novo e continua na ordem do dia, tendo sido novamente abordado pelo ainda secretário de Estado das Autarquias Locais. Carlos Miguel inaugurou o certame fornense e desafiou os municípios da região demarcada a juntarem-se numa «grande feira», a realizar na Páscoa, para atrair visitantes espanhóis. A sugestão agradou a Manuel Fonseca, para quem é preciso «dar o salto e dar um sinal aos produtores de que este é um produto vendável no mercado europeu».
Na feira fornense participaram também três dezenas de produtores de azeite, enchidos, mel, vinho Dão, produtos com urtiga e doces regionais. Houve ainda
uma mostra de cães Serra da Estrela e da ovelha Bordaleira, bem como várias degustações de queijo e uma sessão de “showcooking” com o chef Chakall.
Luís Martins