Passadas as eleições autárquicas, a novela do encerramento da maternidade promete querer regressar.
Ideia peregrina do último governo, o projecto de remodelação de toda a área obstétrica, ginecológica e pediátrica do interior deu origem, como bem nos lembramos, a uma polémica a que ninguém ficou indiferente. Houve acontecimentos e tomadas de posição para todos os gostos, demagogia a rodos, reuniões, manifestações, declarações, encerramento provisório da maternidade, zanga de comadres entre os elementos do antigo conselho de administração do hospital, etc., etc…
Para quem, como eu, acompanhou de perto o assunto, não passou tempo suficiente para esquecer a posição assumida na altura pelo então director clínico do hospital, Dr. Cunha, que defendia que só fazia sentido manter a maternidade aberta se os médicos obstetras trabalhassem mais e com mais qualidade e recuperassem de um atraso de vinte anos do qual esse mesmo director clínico teria ouvido falar. Do lado de cá, a voz avisada do Dr. Cunha soou num solo triste e desafinado, mas do lado de lá, da Covilhã e de Lisboa, foram muitas as vozes e tentativas para acabar de facto e de vez com a maternidade da Guarda.
Mudou o governo mas pelos vistos não mudou a vontade de encerrar a todo o custo alguns serviços que não servem determinados interesses, nomeadamente interesses economicistas e inspirados na táctica da poupança à custa das pessoas que parece ser a imagem de marca deste governo. Felizmente já não temos o Dr. Cunha a ajudar à festa.
Os boatos, as notícias e as especulações ao redor do tema, se no passado fizeram muita mossa, prometem agora prolongar a táctica de desgaste até que um dia todos nós acreditemos que a maternidade vai mesmo fechar. Um dia voltarei a abordar o tema desfiando argumentos e razões que fazem dessa intenção um absurdo e um atentado à dignidade de uma cidade secular e de um povo que se quer orgulhar dela. Hoje, no entanto, é dia para denunciar os estragos que estas notícias vão causando no dia-a-dia de quem lá trabalha e o abalo na confiança daquelas que a ela recorrem. A diminuição do número de partos, a fuga cada vez mais evidente de grávidas para hospitais vizinhos, a instabilidade dos profissionais que diariamente se interrogam mutuamente à procura novidades, tudo isto faz parte de uma táctica e guerrilha, de um minar de confiança que dará os seus frutos mais cedo ou mais tarde, caso não decidamos todos reagir a tempo e com energia.
A questão da maternidade diz respeito a todos, eleitos e não eleitos, situação e oposição, e deve exigir, quanto antes, tomadas de posição firmes e que garantam que tal machadada não será desferida sobre esta terra.
* título da responsabilidade da redacção
Por: António Matos Godinho