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O Mundo Sob a Influência

Em Portugal resolve-se um problema criando um ainda mais grave, que cale as notícias sobre o primeiro. É claro que se não resolve nenhum, como se não vai resolver o problema das nossas florestas em chamas, da falência da segurança social, do eterno défice, ou o de haver autarcas corruptos a serem reconduzidos em ombros ao local do crime perante a inércia da justiça. É que, tudo o indica, vamos ter muito mais com que nos preocupar nos próximos anos, de tal forma que todos esses problemas vão parecer pequenas coisas sem importância, coisas de portugueses.

Os cientistas preocupam-se antes com a anunciada pandemia de influenza, que poderá matar centenas de milhões de pessoas em todo o Mundo, incluindo mais de 12 mil em Portugal. Os dados estão lançados: o vírus da gripe das aves está a um passo de recombinar o seu código genético com o código genético humano, o que lhe permitirá tornar-se transmissível dentro da nossa espécie. Quando isso acontecer, como aconteceu em 1917-18, com a chamada (entre nós) Gripe Espanhola, estará declarada a pandemia.

Mais uma vez, tudo começará na China (como começou com a influenza de 1968-69). A diferença é que na altura a população chinesa era de “apenas” 790 milhões de habitantes, quando agora ronda os 1300 milhões; havia nas explorações agrícolas e avícolas 5.2 milhões de porcos (agora são 508 milhões) e 12.3 milhões de aves domésticas (hoje 13 biliões). Significa isto que o salto que o vírus tem de fazer entre espécies para se tornar mortífero para nós vai ser muito mais fácil desta vez. Exponencialmente mais fácil.

Como sempre, vai haver efeitos secundários. O pânico vai encerrar fronteiras e destroçar a economia. Num mundo globalizado, onde se produzem as matérias-primas, a mão-de-obra, a tecnologia, os capitais estão muitas vezes espalhados por todo o globo para a produção de um qualquer bem de consumo, haverá que contar com rupturas de fornecimentos e quebras mais ou menos generalizadas de stocks. Na recente epidemia de SARS, muito menos virulenta do que a esperada pandemia de influenza, estima-se que o impacto na economia asiática ultrapassou os 40 biliões de dólares em perdas – e “apenas” morreram uns milhares de pessoas, tendo-se a epidemia esbatido em apenas seis meses. Agora esperam-se milhões de mortos por um período de até três anos.

Que fazer? Para já recolher toda a informação disponível e ficar atento parece a única coisa a fazer. Sugiro uma visita a www.foreignaffairs.org e a consulta ao texto de Michael T. Osterholm “Preparing for The Next Pandemic”.

Por: António Ferreira

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