Caros senhores responsáveis pelo município da Guarda,
Sentimo-nos ultrajados tanto pela vossa falta de gosto e de bom senso, como pelo desprezo que temos vindo a sofrer da vossa parte.
Vamos por partes. Em primeiro lugar, a Guarda e o seu património pertence-nos a todos e os senhores não têm o direito de o adulterar só porque se encontram, neste momento, em lugares com poder de decisão! Se um cidadão se manifesta é chamado de ignorante e totalmente menosprezado (porque não consegue perceber a pretensa arte dos senhores técnicos). (…) Aquilo que têm vindo a fazer chama-se de destruição pura e simples de património, que, para além de nos pertencer a todos, nos foi legado pelos nossos antepassados e temos o dever de o cuidar aos nossos descendentes. A arquitectura e planeamento não passam apenas pela aprendizagem nas escolas da especialidade, são também questões de bom senso e de bom gosto, sobre as quais qualquer cidadão, sem ter uma opinião especializada no assunto, deve e pode opinar!
Indo ao cerne da questão, e tomando como exemplo as famosas obras da Praça Velha, pagas com os nossos impostos, sentimo-nos profundamente desgostosos e revoltados com todo o andamento do processo. E sobretudo com a malfadada solução encontrada para o monumento mais importante a nível local e nacional! Até agora os aspectos negativos sobressaem claramente:
– As lapas de granito serrado são escorregadias e perigosas e fortemente emanadoras de calor no Verão;
– Não é concebível uma solução que passe apenas por granito e mais granito sem uma única zona verde com arbustos e/ou árvores, ou o que quer que seja que quebre o escuro desolador que nos vai assomar nos já por si muitos escuros dias de Inverno;
– Não teria sido difícil perceber as vantagens da colocação de espaços verdes, bastava olhar para as fotografias da antiga praça antes da colocação da estátua do D. Sancho;
-Informaram-nos, estando ainda por confirmar, que os passeios e os muros situados junto à entrada principal da Sé também serão substituídos. Ora, esperamos que isto não seja verdade, (…) porque seria o cúmulo da ignorância, da prepotência e da falta de bom gosto. O valor incalculável do património que os senhores se preparam para destruir é, sem dúvida, largamente superior ao valor da vossa solução pretensiosa, seja ela qual for. Ao simples cidadão é sempre exigida a preservação do património arquitectónico privado, no entanto, os senhores destroem e adulteram o património que é de todos, sem que ninguém possa exprimir o seu descontentamento ou desagrado. É vergonhoso ver os nosso dirigentes atentarem desta forma contra o pouco que temos de valioso (…).
Em segundo lugar, no que se refere a novas urbanizações, a gestão deste município tem sido, para além de deplorável, praticamente igual desde o princípio. Resume-se à construção de edifícios e mais edifícios. O número de letras da palavra Sisa deve ser também o número de empreendimentos apoiados ou construídos pelo município sem ter a dita palavra em vista. Onde estão os espaços verdes previstos na legislação? (…) Para não falar dos bairros periféricos, onde, para além de se ter permitida qualquer construção imobiliária, não há nem edificação nem manutenção de estruturas públicas e muito menos espaços verdes decentes. Já as ruas e os passeios estão uma vergonha! Como se, para quem mora na Guarda-Gare ou noutros bairros periféricos, o Jardim José de Lemos bastasse para se poder passear ou descansar (…).
Os habitantes da Guarda não são nem ignorantes nem cegos, têm é medo de se exprimir numa terra que, também por culpa destes senhores, ainda é demasiadamente pequena e onde, qual feudo medieval, em nada se mexe e nada se muda para não se perder o controlo. Para vocês, senhores da Câmara Municipal da Guarda, temos três palavras: Agenda 21 Local. Aprendam connosco que, por este andar, esta cidade não vai ter habitantes para sempre: e depois deixa de haver Sisa… Mas claro, a vossa preocupação não é o financiamento da autarquia…
Grupo de Cidadãos da Guarda, carta recebida por email
P.S.: Se não ousamos identificar-nos é porque temos a certeza que, de seguida, seremos prejudicados nas nossas possíveis relações com as instituições em causa e não por uma questão de cobardia.