“Peregrinação Interior” e “Pesca à linha”, duas das mais representativas obras do imaginário literário do escritor covilhanense António Alçada Baptista, são transpostas para o palco na mais recente produção do GICC-Teatro das Beiras. A peça “Quadros do Interior” estreia esta noite no auditório da companhia e pretende desde logo constituir uma homenagem ao escritor. A encenação e cenografia está a cargo de José Carretas, que há um ano encenou também para o Teatro das Beiras “Crónicas” e ainda as peças “A Arte da Comédia”, de Eduardo de Fillipo, e “As longas férias de Oliveira Salazar” há mais de dez anos.
“Quadros do Interior” é uma história contada na primeira pessoa que pretende revisitar os anos de infância e juventude de António Alçada Baptista, dividido sobretudo entre a Covilhã e Santo Tirso. Descrito por José Carretas como um trabalho em que está patente uma «dramaturgia simples, à semelhança do que acontece nas obras do autor», a peça relata episódios do percurso do escritor sem que, no entanto, exista uma ordem cronológica exacta. O «tom intimista» patente nas obras constituiu para o encenador a primeira barreira a ultrapassar no que se refere ao trabalho de adaptação. «Alçada Batista possui um universo muito próprio e espero ter conseguido vencer esse constrangimento», diz. O fervor beato vivido no seio familiar do escritor da Covilhã, onde se realça a figura das suas tias, é retratado recorrendo a um humor muito próprio também presente no universo de Alçada Baptista, um ponto que de resto fascinou desde logo José Carretas. A ironia mordaz em relação à sociedade, à religião e às ideologias daquele tempo foram mantidas no trabalho de palco.
«As obras do escritor constituem um sinal dos tempos extraordinário», sublinha o encenador, para quem «muitas ambiências ainda estão presentes naquilo que hoje somos». Eva Fernandes, Flávio Hamilton, Sofia Bernardo, Sofia Valadas, Pedro Fiúza e Marco Telmo interpretam estes “Quadros do Interior” até ao próximo dia 19, de terça a sábado na Travessa da Trapa, na sede do Teatro das Beiras. Recorde-se que “Peregrinação Interior I” é um texto de reflexões de Alçada Baptista publicado pela primeira vez em 1971. Onze anos depois surgiu o segundo volume desta obra. Já “Pesca à linha – algumas memórias” é um testemunho do percurso e das experiências do escritor publicado em 1998 e contado na primeira pessoa.