A construção da Alameda dos F’s, entre a rotunda homónima e a VICEG (Via de Cintura Externa da Guarda), está novamente adiada depois de Carlos Chaves Monteiro, presidente da autarquia, sofrer um revés na última Assembleia Municipal do mandato, realizada na quinta-feira, que aprovou a retirada do plano de urbanização da Quinta do Cabroeiro da ordem de trabalhos.
O documento era essencial para fazer avançar o projeto e a sua aprovação permitiria à autarquia abrir concurso para realizar a obra, orçada em mais de 5 milhões de euros. No entanto, o requerimento apresentado por Henrique Monteiro, do CDS-PP, que pedia a retirada do documento por «falta de informação» e existência de «vícios e ilegalidades insanáveis» no processo, pôs travão ao empreendimento. Posto à votação, o requerimento foi aprovado com o voto de qualidade da presidente da Assembleia Municipal, Cidália Valbom, após o empate de 29 votos a favor da retirada do ponto e 29 contra, mais três abstenções. A falta de «informação concreta» já tinha sido abordada no início da sessão, no período aberto ao público, por Conceição Fonseca, que possui lotes de terreno no Cabroeiro, onde ainda residem os seus pais. «O plano de urbanização não deve ser aprovado à pressa porque é necessária mais discussão pública. É um crime o que estão a fazer», denunciou a munícipe, garantindo que a autarquia não chegou a acordo com os proprietários dos terrenos necessários à obra.
Na resposta, o presidente da Câmara alegando que o projeto é de «grande importância» para a Guarda e recordou que o plano de urbanização esteve em discussão pública durante 30 dias. «A senhora reuniu duas vezes com a comissão técnica e comigo pra esclarecer as suas dúvidas», adiantou, criticando o teor da intervenção da munícipe. «Não aceito que coloque anátemas sobre a ética do presidente da Câmara», atirou Chaves Monteiro, um argumento também usado contra Albino Bárbara, que tinha vindo falar dos receios dos moradores do Bairro de Nª Sra. de Fátima com a instalação do Porto Seco na vizinhança tendo em conta um “layout” do empreendimento. «O projeto tem de avançar, mas ali não», disse o residente, que voltou a chamar a atenção para «o impacto ambiental e as consequências para a população» deste projeto que deverá surgir numa área em frente à estação de caminhos de ferro da cidade.
«O documento que apresentou é falso, o verdadeiro é o PDM e o que define para aquela área – um terminal ferroviário. Esse é o único documento oficial para discutir a localização do Porto Seco, que é a fase em que estamos, porque os estudos ainda não foram feitos», reagiu o presidente do município, lamentando que «já se esteja a aniquilar esta ideia, o projeto, sabe-se lá com que segundas intenções». Chaves Monteiro – que foi muito criticado pela forma «menos correta» como respondeu aos munícipes – voltou a estar debaixo de fogo a propósito da cedência dos terrenos do antigo matadouro para a construção de um hospital privado e de uma residência sénior. O centrista Henrique Monteiro apresentou uma recomendação para a Assembleia anulasse o memorando de entendimento entre a autarquia, a MedCapital e o Hospital “Terra Quente” alegando que «o interesse público está em séria dúvida» no processo. «Porque não houve concurso público com convite para que entidades locais e nacionais concorressem?», interrogou, colocando também em causa a avaliação do terreno.
O mesmo argumento foi invocado por António Monteirinho (PS), que considerou não estarem esclarecidas questões como «quantos operadores privados foram consultados ou como foi calculado o valor do terreno» a ceder. O deputado também defendeu que a proposta deveria ser submetida à Assembleia Municipal por considerar que o projeto pode «ser lesivo para a Câmara da Guarda». Para o socialista, «se houvesse boa-fé, a discussão deste projeto seria realizada após as eleições», tendo estranhado que a Câmara possa transferir terrenos para entidades privadas «sem qualquer interferência dos órgãos municipais». Por tudo isto, António Monteirinho afirmou que Chaves Monteiro «só quer mostrar trabalho político para as eleições».
Em defesa da maioria social-democrata, Pedro Nobre foi à tribuna garantir que «mal estaria o executivo se não aproveitasse esta oportunidade para fazer um hospital privado».
Deputados chumbam voto de protesto contra a ULS
A última reunião da AM deste mandato ficou também marcada com o chumbo de um voto de protesto apresentado pelo CDS-PP contra a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, em que se pedia a demissão do Conselho de Administração e denunciadas ao Ministério Público as conclusões de um relatório da Entidade Reguladora da Saúde que aponta «falhas graves» à gestão hospitalar. Contudo, a proposta foi chumbada com 10 votos contra, 52 abstenções e quatro votos a favor. Um resultado que não agradou a Henrique Monteiro, para quem «os representantes do povo decidiram que está tudo bem quando andamos há anos a dizer que está tudo mal na ULS. Pelos vistos, na Guarda, não vale a pena debater a Saúde», criticou.
Em jeito de despedida, Cidália Valbom a aproveitou também a sessão para homenagear todos os antigos presidentes deste órgão municipal (António Almeida Santos – já falecido, Rogério Nabais, José Igreja, João Almeida Santos e Fernando Carvalho Rodrigues), bem como os deputados falecidos durante este mandato, Tiago Gonçalves e Mário Sucena, ambos do PSD.