P – Quais são os principais projetos ou “ideias-chave” que quer implementar caso seja eleito?
R – A nossa candidatura apresenta-se a estas eleições para dar força a um programa com seis eixos centrais. O primeiro tem a ver com o problema da saúde, um direito constitucional consubstanciado através do Serviço Nacional de Saúde e que, como todos sabemos, no caso da Guarda está num estado calamitoso, não só pelo problema da falta de médicos, mas como de especialidades, das escassas vagas que foram oferecidas, da falta de enfermeiros, de meios de diagnóstico e até de auxiliares. Portanto, a questão da saúde é primordial e fundamental em todas as regiões do país e obviamente num concelho, como o da Guarda, muito envelhecido. O segundo eixo é o problema da habitação e para o qual defendemos a necessidade de um programa municipal de habitação, que, através da recuperação do património do Estado que esteja em más condições, permita depois ser arrendado às pessoas a preços baixos, uma vez que as casas são um bem essencial. O atual executivo camarário gasta 0,04 por cento do orçamento na habitação, ora isto não é nada, são cerca de 240 mil euros. Um terceiro grande eixo tem a ver com a mobilidade, com os transportes. Este tema prende-se com um quarto eixo que é a questão ambiental, a despoluição do Rio Diz, do Rio Noéme, de todas as linhas de água que atravessam o nosso concelho, a garantia de um tratamento eficaz que não está a acontecer na ETAR de S. Miguel, a questão da proteção do arvoredo urbano, no corte das árvores, também a questão das plantas invasoras, assim como o uso de herbicidas. Temos de repensar a questão da mobilidade elétrica, inclusive na concretização de um projeto que já devia estar executado – as ciclovias. Uma quinta área tem a ver com a transparência, pois neste momento a Guarda não tem uma Câmara transparente. Vejam-se alguns atos recentes, nomeadamente o protocolo assinado por causa do dito hospital privado, em que falta muita informação. E numa altura importantíssima, em que vão ser disponibilizados muitos fundos europeus, em que as autarquias vão poder ter acesso a esses recursos através do Programa de Recuperação e Resiliência, então o que o Bloco de Esquerda defende é que esses dinheiros sejam gastos para resolver problemas concretos das pessoas e não para resolver problemas financeiros de empresas, que é o que tem acontecido. O sexto e último ponto do nosso programa tem a ver com as questões da cultura, pois o plano municipal da cultura deixa muito a desejar e a questão da defesa do património, que não tem ocorrido como devia ser.
P – De uma maneira geral, qual é a radiografia que faz do concelho no final deste mandato?
R – Estes quatro anos e os quatro anteriores, e se quisermos recuar um pouco aos oito anos do PS no executivo, foram 16 anos perdidos na Guarda. Nestes últimos oito anos, o executivo seguiu um modelo implementado por Álvaro Amaro, que é um modelo de eventos, de festas, de rotundas, de roteiros gastronómicos, de inaugurações simbólicas que depois não têm um seguimento. Portanto numa radiografia do concelho é preciso perguntar: houve uma redução no IMI? Não, não houve. Houve melhoria na saúde? Não. Aumentou a população? Não, até perdemos população. Houve melhoria na educação dos nossos jovens? Não me parece. A conclusão a que chego é que este é um executivo muito narcisista, muito centrado em certos tipos de figuras e ainda por cima com guerras internas nos últimos tempos do PSD, que levou a uma dissidência de Sérgio Costa, que se diz agora independente mas é um “PSD B”. Se os quatro anos de Álvaro Amaro já o tinham sido, estes quatro anos pioraram claramente a situação. O mundo rural está claramente abandonado e precisa de medidas concretas e enquanto isso não acontecer não vamos a lado nenhum. Portanto, o Bloco de Esquerda concorre com o lema “Política que serve as pessoas”, porque o que queremos é servir as pessoas e não servir-nos delas para atingir um certo poder.
P – Para além do que já referiu, se pudesse dizer uma coisa que está mesmo muito mal na Guarda, o que diria?
R – Várias. Está mal na Guarda a Saúde, os transportes públicos são uma miséria, pois não respondem às necessidades das pessoas, nomeadamente às populações rurais. A questão da cultura também está muito mal. A cidade concorre a Capital Europeia da Cultura, mas nada se tem feito para que a Guarda possa realmente ganhar esse desafio. Nós gostaríamos muito que isso acontecesse, mas o que tem sido feito são fogachos, eventos em que são sempre convidadas pessoas de grande prestígio e isso, do ponto de vista prático, está mal. A cultura e aquilo que seria um projeto agregador é algo que está a falhar. Além disso, a educação, principalmente básica e secundária, penso que deixa muito a desejar. Relativamente ao ambiente, é outra das coisas que está muito mal na Guarda, basta que o presidente da Câmara e o “PSD B”, o senhor Sérgio Costa, se desloquem, eu posso levá-los lá, para verem o lixo que está acumulado na cidade. Basta ir, por exemplo, à zona das eólicas para perceber como aquilo está, ou seja, parece que não se interessam pelo que está fora da cidade, fora do embelezamento de certas rotundas, o resto não conta.
P – Há alguma coisa positiva no meio disto tudo?
R – Há sempre uma questão que, independentemente de tudo, é sempre importante. Existiu realmente algum equilíbrio financeiro que, no caso dos governos do PS na Câmara foram uma desgraça. Realmente nestes oito anos existiu alguma recuperação económica, no entanto, a grande questão é que essa recuperação económica não foi aplicada na resolução dos problemas concretos das pessoas.
P – Como é que o Bloco de Esquerda pode aumentar a votação, tendo em conta que há três listas muito fortes? Até que ponto votar no Bloco de Esquerda é útil para a Garda?
R – O que está a dizer é que a probabilidade de existirem três listas com algum poder é grande. O Bloco tem como grandes objetivos manter e aumentar, se possível, o número de deputados na Assembleia Municipal, a eleição da nossa cabeça de lista para a Assembleia de Freguesia da Guarda, onde concorremos pela segunda vez, a eleição do nosso candidato na Vela, onde concorremos pela primeira vez, e obviamente ter o melhor resultado possível para a Câmara Municipal. Aquilo que posso dizer aos guardenses é que é importante votar no Bloco de Esquerda porque um voto no Bloco é um voto de confiança. É preciso mudar quer de políticas, quer de protagonistas. Se querem continuar a votar nos mesmos, continuarão a ter as mesmas políticas de sempre. Se querem que as políticas se alterem, então têm que votar noutras alternativas.
P – Visto que o lema do Bloco de Esquerda é “Política que serve as pessoas”, ou seja, quer resolver em concreto os problemas das pessoas, quais são e como o vai fazer?
R – Na questão da transparência pode resolver-se com uma proposta que já fizemos há quatro anos, que é fundar um provedor do munícipe, algo ou alguém que poderá fazer a interface com a sociedade relativamente aos procedimentos da autarquia. Quando falamos, por exemplo, em turismo e em património, temos propostas muito concretas e defendemos há muito tempo um Museu de Imigração, que agora está a ser pensado em Vilar Formoso, mas que a Guarda já devia ter feito. Defendemos também um projeto na Barragem do Caldeirão ligado ao turismo de montanha e aos desportos náuticos. Defendemos um forte apoio do município para as creches públicas e o seu funcionamento. Também temos de ter uma postura sobre a questão da saúde. E outra questão que as pessoas sentem na pele, e que o Bloco tem defendido há muito tempo, é a das portagens na A23 e A25. Aprovámos na Assembleia da República uma proposta de um outro partido para a redução em 50 por cento que, infelizmente, não foi bem assim. São apenas exemplos de algumas propostas que vamos apresentar para responder às necessidades das pessoas.