Que me desculpe a Dª Antónia, mas desta vez não vem pra mesa do canto um ruby em estilo tawny, servido em copa própria, tinto, branco ou rosé, doce, meio doce ou mesmo meio seco. Falamos hoje do porto seco, ou melhor, do extremamente seco, proveniente do norte litoral diretamente para terras beirãs.
O porto seco é uma plataforma construída no interior e funciona como terminal de transbordo, receção e entrega de todo o tipo de mercadorias. O porto seco da Guarda, ao que parece, vai ser servido pelos portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, que escolheram a nossa cidade para investir nessa infraestrutura.
Reconhece-se a vantagem, pois a Guarda poderá assistir a um crescimento económico-social, ao aumento de competitividade das empresas, atraindo outros e novos investimentos, nesta escolha assertiva do interior do país.
Esta aposta não foi apenas pelos nossos bonitos atributos. Teve certamente em conta a localização privilegiada da Guarda: Linha da Beira Alta, Linha da Beira Baixa, A23, A25, a principal fronteira terrestre do país, a proximidade à economia charra de nuestros hermanos, e isto sem esquecer a existência da Plataforma Logística.
Com a criação do porto seco haverá seguramente uma dinâmica associada, o que faz com que, técnica e politicamente, o projeto fosse aceite. Até aqui estaremos praticamente todos de acordo. Mas há um mas. Sempre aquele pequenino mas… e a pergunta é óbvia e inevitável: onde pensam localizar e instalar o tal bendito porto seco?
Todos sabemos que uma infraestrutura desta dimensão aporta consigo consequências para a população e para o meio ambiente. Por isso é que existem os conhecidos e obrigatórios estudos prévios, onde se inclui o de impacto ambiental que, tecnicamente, controla possíveis danos garantindo um ambiente ecologicamente equilibrado e sustentável, analisando, identificando, prevendo e interpretando a importância dos impactos relevantes, diretos ou indiretos a curto, médio ou longo prazo.
O porto seco é, sem quaisquer tipos de dúvidas, um projeto para avançar.
Entretanto, surgem agora rumores que o mesmo pode ser implementado num terreno que vai desde a cercania do Centro Escolar da Sequeira até à Quinta das Bertas, todo ele paralelo à Rua Nossa Senhora de Fátima, situado, claro está em zona residencial. E aí a porca torce o rabo!!!!
A ser verdade, o terreno é extremamente pequeno para um empreendimento desta dimensão. Começa logo por achanatarem o projeto. Com a sua eventual concretização (entre a rua Nossa Senhora de Fátima e a linha da Beira Alta) vai afetar cerca de 1.000 moradores distribuídos por várias ruas e bairros.
É a alteração da paisagem, é o corrupio de camiões de 40 toneladas, dia e noite, entrando uns pela rotunda que prometem construir, com ligação à VICEG, outros pela Avenida de S. Miguel, descarregando enormes contentores em metal, uns em cima dos outros, com todo o barulho que lhe está associado e, isto sem esquecer a existência de uma linha de água, contestando o pequeno ecossistema da cidade, de características únicas, onde podemos encontrar carrascos, rosmaninho, tojo, urze-roxa, amieiros, aveleiras, macieira brava, freixos e choupos, visitada por tentilhões, pintarroxos, pardais, pintassilgos, verdilhões serranos, melros, estorninhos, tordos zornais, corvos, andorinhas, rouxinol-bravo, coruja do mato, mocho-real, poupas, cegonhas, andorinhões, pombo-bravo, rola, perdiz, cuco-rabilongo, etc., etc.
Não me venham dizer que estou a contestar o progresso e apenas mantenho uma relação estética com o ambiente. Perguntem à população residente que anda (e não é para menos) com os nervos em pé.
Vem aí a campanha eleitoral. Os candidatos à Câmara, Assembleia Municipal e Junta de Freguesia da Guarda vão ter de falar. De dizerem se já existem estudos. Quais? E se há, apresenta-los publicamente, sem medos nem vacilações, pois esta coisa do “gato escondido com rabo de fora” tem os dias contados. De explicarem, de uma vez por todas, onde é efetivamente a localização do porto seco na Guarda e dizerem, para se tentar perceber, quais os compromissos assumidos com os portos do Norte, com o Governo e com a CCDRC. Esta é a melhor das melhores oportunidades que têm para esclarecerem em definitivo toda esta situação. É uma questão vital para a cidade. É uma questão de transparência.
Neste tributo aos secos e molhados e, assim assados, pergunto se, mesmo assim, ainda está interessado(a) em pedir este porto seco em zona residencial na cidade do mais puro ar de Portugal?
Foi você que pediu um porto?… Seco!!!
“Reconhece-se a vantagem, pois a Guarda poderá assistir a um crescimento económico-social, ao aumento de competitividade das empresas, atraindo outros e novos investimentos, nesta escolha assertiva do interior do país.”