A terminar mais uma edição da campanha “Outubro Rosa”, mês que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do cancro da mama e mais recentemente também do cancro do colo do útero, O INTERIOR foi conhecer algumas histórias de superação daquela que é a doença do século. Dor, inquietação, ansiedade, mas acima de tudo positivismo e otimismo, são alguns dos sentimentos que as doentes recuperadas sentiram ao longo de todo o processo.
«Tive sempre a sensação de que iria correr bem e foi com isso que eu vivi»
Maria Alice Pedroso, de 56 anos, começa por dizer que o diagnóstico de cancro na mama veio na sequência de um alto no peito. Foi quando se tornou visível a olho nu que foi encaminhada para o IPO de Coimbra, onde é feita a primeira biopsia e se confirma que se trata de um tumor cancerígeno. Após a confirmação, a professora de História recorda que o processo foi muito rápido. «Depois dos resultados, eles definem qual é a terapêutica correta. No meu caso foram quatro sessões de quimioterapia e posteriormente a remoção da mama, a mastectomia», relata.
O facto de as coisas terem acontecido muito rápido, «porque detetei isto no final de outubro, em dezembro dava entrada no IPO e no início de janeiro iniciava a quimioterapia. Ou seja, as coisas foram tão rápidas que não tive muito tempo de pensar, acabando as coisas por seguirem o seu caminho», adianta. E por esse mesmo motivo uma das suas primeiras preocupações foi falar com a filha. «Na altura ela tinha 10 anos e havia coisas que ia ver, como a queda do cabelo, as dores que iriam surgir e os internamentos. Sentei-me com ela e expliquei-lhe tudo o que ia acontecer», recorda a professora, a quem o cancro foi descoberto em 2008.
Depois de fazer quatro sessões de quimioterapia de três em três semanas houve uma redução do nódulo, «mas não o suficiente» para evitar a remoção do peito. «Inicialmente eu tive algumas dúvidas se iria fazer reconstrução mamária, o que significa que não me fazia assim tanta impressão quanto isso. Pouco a pouco começou a fazer falta qualquer coisa, o andar com uma prótese externa era desconfortável porque tinha a sensação que ela podia descair, dar nas vistas e acabei por iniciar o processo de reconstrução mamária. Achava exatamente que seria o melhor para mim, em termos de aspeto e como mulher, pois somos habituadas desde que nascemos que a característica de uma mulher é ter um peito», disse a O INTERIOR.
Para Maria Alice Pedroso, cancro é «sinónimo de luta» e por isso defende que a vida não pode parar para a doença: «Tem que se viver. Não se pode andar sempre a pensar que se tem uma sentença em cima e que a qualquer momento as coisas podem correr mal ou que os exames não estão bem. Eu tive sempre a sensação de que iria correr bem e foi sempre com isso que vivi todos estes tempos», sublinha. Manter-se ativa na vida quotidiana foi outro fator importante para a esta professora da Guarda, pois era uma forma de se «manter distraída».
«Não faz mal mamã, compras uma peruca como a prima e ficas linda na mesma»
Manuela Guerra, esteticista de profissão, considera que o diagnóstico do cancro na mama foi «uma sorte». Na altura estava a fazer tratamentos de inseminação in vitro e realizava várias mamografias por causa das hormonas que tomava, tendo sido aconselhada pelo médico a vigiar «alguns dos nódulos» que tinham aparecido nos peitos. Foi quando a filha teve 4 anos que decidiu procurar o médico de família para fazer uma mamografia: «Apenas me falaram do peito esquerdo e diziam que não tinha nada. Mas, contudo, o médico pediu que levasse uma das últimas mamografias feitas durante os tratamentos para comparar os nódulos», lembra. Foi feita nova mamografia e «o peito que não tinha nada (direito) afinal tinha tudo. Era um tumor com quatro milímetros, não palpável, mas cancerígeno», adianta a pinhelense de 48 anos.
Aquando da biopsia, a equipa médica introduziu «glândulas sentinelas» e confirmou-se que o cancro se estava a espalhar. «Como ainda era uma pessoa considerada jovem fiz quimioterapia de prevenção de quinze em quinze dias e depois fiz um ciclo de 28 dias de radioterapia», relata Manuela Guerra, para quem o momento mais difícil não foi explicar à filha o que se estava a passar: «Ela já tinha visto uma prima a passar pelo cancro da mama e sem cabelo. Contudo, quando soube que ia fazer quimioterapia e também me iria cair o cabelo disse-lhe que ainda não estava curada e ia fazer um tratamento como o da prima e ela simplesmente respondeu-me “Não faz mal, mamã compras uma peruca como a prima e ficas linda na mesma”», recorda, emocionada.
Tal como Maria Alice Pedroso, também no caso de Manuela Guerra o processo foi muito rápido e de alguma forma esta reação tão positiva da filha foi o que a fez continuar a lutar e a suportar as sessões de quimioterapia, que foram o procedimento «mais custoso» desta fase da sua vida. Manuela Guerra acredita também que o apoio da família e amigos foram determinantes para superar a doença. «Olhando para trás, não sei praticamente o que é viver a doença porque não estava preocupada se estava bem ou mal. Eu simplesmente tinha de estar bem ao pé da minha filha e isso deu-me muita força», considera. A esteticista também não esquece a equipa do IPO de Coimbra, vincando que, seja nos tratamentos ou na fase de recuperação, «eles estão sempre prontos a qualquer hora».
«Desde o início que a palavra de ordem foi “eu vou curar-me”»
Infelizmente, Ludovina Ramos vivenciou o cancro e todas as suas consequências duas vezes. A primeira foi em 1999, através da palpação de um nódulo no peito, e a segunda 13 anos depois por causa da doença de Paget no mamilo.
Há 22 anos o seu médico de família encaminhou-a logo para Coimbra, onde fizeram «tudo o que havia para fazer». Primeiro, «foram três sessões de quimioterapia para reduzir o nódulo e depois da mastectomia mais quatro», explica a guardense. Comparando as duas vezes que teve de fazer estes tratamentos, Ludovina Ramos considera ser «a prova viva» de que eles têm efeitos diferentes de caso para o outro. «Custou-me muito mais a segunda vez. Foi totalmente diferente, a primeira não teve nada a ver com a segunda. O cabelo só me caiu no segundo tratamento e ficar sem dois peitos é complicado», partilha, confessando que lhe custou mais olhar-se ao espelho quando retirou apenas um dos peitos. «Hoje em dia sinto-me muito melhor sem os dois do que tendo só um», reconhece, mas garante que em momento algum se sentiu «menos mulher, porque tinha a noção de que foi por um bem maior».
O facto de ter tido um novo cancro em 2012 em nada amedrontou a antiga costureira de 65 anos, porque desde o início que a palavra de ordem foi «eu vou curar-me». Um otimismo que voltou a ser decisivo.
«Dediquei-me à doença e não o devia ter feito»
«Aconteceu há 24 anos, tinha 40 anos na altura e apareceu-me um caroço junto ao mamilo. Na altura não fiquei convencida que era cancro da mama», confessa Angelina Bedo.
«Um mês e pouco antes levei uma mamografia ao meu ginecologista, porque a minha avó faleceu com cancro da mama, e o que ele disse foi que 40 anos ainda era cedo para um cancro. Mas quando fez a palpação descobriu um nódulo», recorda. A confirmação chegou depois de realizar alguns exames e de o médico ir preparando a professora de educação especial para o que poderia ser diagnosticado. «Foi em novembro e a 30 de dezembro estava a ser operada no hospital. Era um tumor hormonal e galopante», lamenta a natural de Quadrazais (Sabugal). Angelina Bedo não esconde que «foi complicado, porque tinha alguns projetos e desisti de tudo. Achei que tinha de parar, porque sabia que ia ser uma situação de muita agressividade».
A agora voluntária no movimento “Vencer e Viver”, na Guarda, acrescenta ainda que a sua primeira reação foi também falar com pessoas que tivessem passado pelo mesmo para saber com o que ia contar. «Eu estava preparada para tudo e realmente foi uma fase em que a minha vida parou durante quatro a cinco anos. Dediquei-me à doença e não o devia ter feito», admite agora. Apesar do cancro ter afetado grande parte da vida de Angelina Bedo, a doença acabou por também fortalecer a relação com a família e os amigos. «Percebemos que, de repente, podemos ficar sem chão e que temos de aproveitar o dia a dia enquanto cá estamos. Andei uns anos bastante em baixo, mas foi uma experiência que tinha de passar e ultrapassar como muitas mulheres», afirma a docente.
Angelina Bedo deixa ainda uma última mensagem de esperança, pois acredita que «esse é o primeiro passo para a nossa cura e também acreditarmos que vamos conseguir, que o dia de amanhã vai ser melhor».