Sociedade

Urgência obstétrica e bloco de partos da Guarda em risco de fechar

Escrito por Efigénia Marques

Recomendação é do grupo de peritos que estudou a reorganização e concentração destes serviços no país. A decisão final será do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo

A Urgência Obstétrica e o Bloco de Partos da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, bem como de Castelo Branco, estão referenciados para fechar, ficando apenas a funcionar na Covilhã. A proposta é do grupo de peritos convidado pelo Governo para estudar a reorganização e concentração destes serviços em Portugal devido à falta de especialistas. A palavra final será do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo.
Inicialmente contraditórias, as notícias sobre o eventual encerramento destes serviços básicos caíram que nem uma bomba na região, motivando reações negativas e ameaças de protestos. Ao que se sabe, a Comissão de Acompanhamento de Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Parto ponderou, entre outros critérios, o número de partos realizados, a distância entre maternidades e a ausência de cuidados neonatais numa determinada área territorial. Segundo o jornal “Público”, foram identificados seis hospitais no país «onde tecnicamente foi considerado seguro que o bloco de partos e urgência de ginecologia pudessem ser divergidos para outra instituição que ficasse mais perto», justificou o coordenador da comissão, Diogo Ayres de Campos, realçando que a decisão sobre encerramentos «cabe aos políticos».
Os hospitais sinalizados são as unidades de Famalicão e Póvoa de Varzim, na região Norte; Guarda e Castelo Branco (Centro) e Vila Franca de Xira e Barreiro (Lisboa e Vale do Tejo). Ao diário, aquele responsável voltou a dizer o que já tinha sublinhado em setembro, que a proposta não implica o encerramento de maternidades, do internamento e das consultas da especialidade, bem como a realização de ecografias e cirurgias. O que se prevê é que estes hospitais deixem de ter urgência de ginecologia e blocos de partos e os seus recursos sejam concentrados nas unidades de referência. De acordo com os dados do Portal da Transparência do SNS, cinco destes hospitais tiveram menos de 1.500 partos no ano passado, a exceção foi Vila Franca de Xira. No total, houve 6.207 partos naquelas seis unidades, sendo que a maternidade de Castelo Branco realizou 317, a da Guarda 474 e a de Famalicão 979. No Barreiro houve 1.403, na Póvoa foram 1.470 e em Vila Franca de Xira 1.564.
Além disso, todas estas Urgências Obstétricas distam menos de 40 minutos de carro dos outros hospitais mais próximos, isto segundo as estimativas da comissão, e nenhuma tem cuidados intensivos neonatais. Outro critério preponderante foi o das distâncias entre maternidades – o que justifica a manutenção da Urgência Obstétrica e do Bloco de Partos em Bragança e Portalegre, que estão a mais de uma hora de distância da alternativa mais próxima. No caso da Guarda e Castelo Branco, os peritos concluíram que as duas Urgências Obstétricas ficam a menos de 40 minutos de carro do hospital da Covilhã e debatem-se com uma grande carência de médicos para completar as escalas. Castelo Branco tem cinco médicos, quatro dos quais com mais de 55 anos, idade que os dispensa de fazer urgências se assim entenderem, e a Guarda oito, cinco dos quais com mais de 55 anos.
A Comissão de Acompanhamento foi criada em junho pela ex-ministra da Saúde, Marta Temido, na sequência de encerramentos temporários de serviços de Urgência de Obstetrícia e Ginecologia e Bloco de Partos de vários pontos do país devido à dificuldade dos hospitais em completarem as escalas de serviço de médicos especialistas.

Bloco de partos da Guarda foi o que fechou mais vezes na região

O bloco de partos do Hospital Sousa Martins, na Guarda, tem sido o que esteve mais tempo encerrado na Beira Interior devido à falta de médicos para assegurar a escala.
Ultimamente, a situação tem-se repetido uma vez por semana durante 24 horas por não haver dois obstetras disponíveis, o que obriga ao encaminhamento das parturientes para as unidades hospitalares mais próximas, Covilhã, Viseu ou mesmo Coimbra. O problema voltou a acontecer no passado dia 14 durante 24 horas e repete-se esta sexta-feira. Em 2021, a maternidade da Unidade Local de Saúde (ULS) guardense registou 474 partos, menos 60 que no ano anterior. Foi a primeira vez abaixo dos 500. Na Covilhã, o Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, que tem 17 obstetras e mais alguns prestadores de serviço, efetuou 481 partos e a ULS de Castelo Branco (9) contabilizou 317.
Dado importante é que na Guarda estão a decorrer as obras de requalificação do Pavilhão 5 do Hospital Sousa Martins para a instalação do Departamento da Criança e da Mulher (DCM), que acolherá os serviços de Pediatria, Obstetrícia, Urgência Pediátrica e Obstétrica, Neonatologia e Ginecologia. A empreitada foi adjudicada ao consórcio Alberto Couto Alves/IELAC por mais de 8,3 milhões de euros. A conclusão das obras está prevista para o Verão de 2023.

Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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