Sociedade

Um homem numa profissão associada às mulheres

João Unhas
Escrito por Carina Fernandes

João Santos sabe bem o que quer para o futuro: fazer “nail art”. O objetivo pode parecer estranho para um jovem, mas a paixão e o sonho de ter um negócio próprio nesse ramo é o foco do fundanense

Chama-se João Santos, é natural do Fundão e tem apenas 18 anos. Apesar da idade, o jovem já tem muitas certezas sobre o que quer fazer para o resto da vida e tem uma paixão pouco habitual no sexo masculino: a “nail art”, ou a estética de unhas, como é mais conhecida.

Prova das suas certezas é o percurso que já tem na área. Com apenas 15 anos começou a tirar formações e iniciou um curso de construção de unhas de gel, adianta a O INTERIOR. Formado em Hotelaria pela Escola Profissional do Fundão, João Santos estudou e foi trabalhando ao mesmo tempo. Começou por treinar em familiares e a fazer alguns serviços ao domicílio enquanto acabava o 12º ano, até que terminou a escolaridade obrigatória e surgiu a oportunidade de trabalhar no salão de Carla Marques, profissional que lhe deu as primeiras formações no início de carreira. «Sempre tive muito interesse pela área da moda e da estética e dizia à minha mãe que queria ser estilista. Entretanto no 9º ano comecei a tirar pastelaria e no ano seguinte acabei por entrar em hotelaria», adianta o fundanense. Além de já ter experiência no ramo da restauração e hotelaria, a escolha desta área para tirar um curso profissional deveu-se muito ao facto de ter plena consciência de que o futuro no mundo da estética podia ser pouco promissor, principalmente para um homem. «Desde os 8 anos que eu ando neste mundo de hotelaria. Não é o que eu quero seguir, mas se aquilo que eu realmente quero não der certo, a hotelaria tem sempre porta aberta. Também é uma área que gosto e não ia estar propriamente a fazer alguma coisa que não gosto», justifica o profissional da estética.

João Santos conta com o apoio incondicional dos pais, essencialmente da mãe: «Sempre me incentivou. Sempre me disse que o que interessa é ser feliz, e que temos de fazer aquilo de que gostamos. Que não vale a pena irmos trabalhar todos os dias só por obrigação», acrescenta. Os amigos e a família sempre demonstraram apoio. Ao contrário do meio escolar e da sociedade, onde nem sempre assim foi «por causa de ser a área profissional que é. As pessoas não dizem nada, mas sente-se perfeitamente que há um olhar meio estranho e alguma surpresa», afirma o jovem. No entanto, «não houve tanta estranheza como eu estava à espera», confessa. «Eu vivo na Beira Interior, onde as mentes ainda são muito fechadas. Ainda há certas e determinadas pessoas que não conseguem compreender eu estar na área das unhas por ser uma profissão muito associada às mulheres. Mas acabam por aceitar porque veem que é um trabalho que um homem também pode fazer», declara João Santos, referindo que nos grandes meios urbanos há cada vez mais homens neste ramo.

Há cerca de cinco meses começou a trabalhar regularmente no salão de estética e a sua presença foi muito comentada: «As clientes tinham dúvidas se o trabalho era realmente bem feito, mas depois de experimentarem gostam e até acabam por achar piada», afirma o jovem. O facto de ter sido um dos muitos formandos de Carla Marques a ser escolhido para trabalhar com ela deixa-o muito satisfeito. «Era uma coisa que eu queria muito e por isso fiquei mesmo feliz», porque João Santos revê-se no trabalho da profissional, «na maneira de ser e de lidar com os clientes». Para além disso, «é um voto de confiança», revela. Apostar na formação e profissionalização é agora o seu maior objetivo porque espera conseguir abrir o seu próprio negócio fora da região, pois «este não é um meio que considere que tenha potencial para fazer aquilo que quero. O Fundão é muito pequeno e há muitas portas abertas com profissionais a fazer unhas. Já começa a ser difícil arranjar clientes para tanta oferta», considera o fundanense.

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Carina Fernandes

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