Sociedade

Último comandante militar da Guarda recebe Ordem da Liberdade

Coronel
Escrito por Efigénia Marques

Atualmente com 87 anos, coronel Carlos Vieira Monteiro vai ser condecorado pelo Presidente da República esta sexta-feira sob proposta da Associação 25 de Abril

O último comandante militar da cidade Guarda vai ser agraciado com a Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República, sob proposta da Associação 25 de abril. O coronel Carlos Alberto Vieira Monteiro vai receber a condecoração esta sexta-feira (15 horas), numa cerimónia a realizar no Picadeiro Real, em Lisboa.
Natural da Guarda, onde nasceu no dia de Natal de 1935, Carlos Vieira Monteiro era filho de um sapateiro e lutador antifascista, falecido puco depois, e de uma funcionária de uma das escolas primária da cidade, ambos originários da Miuzela do Côa, no município de Almeida. Na Guarda completou o liceu até ingressar na Academia Militar em 1955. Ali foi colega de curso de outros militares conhecidos a partir do 25 de Abril, como Ramalho Eanes, Jaime Neves, Melo Antunes, Vítor Alves, Loureiro dos Santos, Firmino Miguel, entre outros. Foi como oficial do quadro permanente do exército que cumpriu cinco comissões nas ex-colónias, das quais quatro na guerra colonial.
Em 1973, exercendo funções no Regimento de Infantaria 12, sediado na Guarda, esteve envolvido desde o início naquilo que veio a ser o Movimento das Forças Armadas, com muitos dos seus camaradas militares, entre eles o então capitão Augusto Monteiro Valente. Mobilizado para Moçambique em outubro desse ano, foi lá que continuou envolvido na conspiração, no Niassa, tendo, após a revolução, integrado a comissão do MFA daquela zona militar.
Foi o último militar português a sair de Vila Cabral, hoje Lichinga, trazendo com ele a bandeira nacional, depois de entregar o poder à Frelimo na sequência dos acordos de Lusaca. Colocado no comando do Batalhão de Infantaria da Guarda em abril de 1975, teve como primeira missão o assegurar as condições de segurança para a realização das primeiras eleições livres no distrito.
Com o amigo e conterrâneo Capitão Valente, líder do 25 de Abril na Guarda – já falecido com o posto de major general – como segundo-comandante, Carlos Vieira Monteiro liderou aquela unidade militar no período que decorreu até ao 25 de novembro de 1975. Graças ao papel estabilizador desempenhado por aquela unidade que se manteve sempre disciplinada e operacional e com a colaboração de muitas outras personalidades da Guarda, como o advogado João Gomes, o governador civil Manual Vilhena e dirigentes de vários partidos, foi possível assegurar que o “Verão Quente” decorresse sem grandes convulsões na região. Ainda participou na organização das cerimónias do 10 de Junho de 1976 na Guarda, mas não conseguiu evitar a extinção da unidade que comandava em 1979.
Pouco depois fixou-se em Coimbra, tendo desempenhado funções no Quartel-General da Região Militar do Centro. Ali fundou e comandou o Batalhão de Coimbra da Guarda Fiscal, desempenhou outras funções e terminou a carreira como presidente do Tribunal Militar de Coimbra, com o posto de Coronel Tirocinado. Carlos Vieira Monteiro continua a residir em Coimbra, junto do filho e dos quatro netos, tendo enviuvado recentemente. A O INTERIOR, o filho, António José Monteiro, disse que esta condecoração é «um grande orgulho para a família porque é da mais elementar justiça que quem esteve envolvido no 25 de Abril recebesse também a Ordem da Liberdade. O falecido major general Monteiro Valente já tinha recebido, é agora a vez do meu pai e foi com muito orgulho que a família recebeu essa notícia. Até com algum sentido de justiça porque ele foi maltratado no final da carreira, já nunca chegou a ser promovido a general, por exemplo. Há também alguma pena por a minha mãe já não estar entre nós e não ter podido assistir a este momento». Apesar de doente, o coronel Carlos Vieira Monteiro vai estar em Lisboa para receber esta condecoração.

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Efigénia Marques

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1 comentário

  • Conheci-o no RI12 em 1973 e lembro-me como, já nessa altura, falava abertamente de forma desassombrada pelo fim da guerra colonial.