Sociedade

«Se queremos água para beber não a podemos desperdiçar nos jardins»

Dsc 0571
Escrito por Efigénia Marques

Câmara da Guarda corta na rega dos jardins, reduz consumos nos espaços desportivos e nas piscinas, suspende lavagem de ruas e descarta, para já, aumento das tarifas

Poupar, poupar muito, para a água não faltar nas torneiras dos guardenses é a palavra de ordem para os próximos tempos no concelho da Guarda. A autarquia já apresentou as primeiras medidas de contenção do uso da água e, para já, deixou de fora o aumento das tarifas. Recorde-se que a Guarda é um dos 43 concelhos do país com sistemas de abastecimento que não garantem mais de um ano de água para consumo humano.
Deixar de regar um terço dos jardins da cidade e de repor água nas fontes decorativas, além de reduzir o consumo nos espaços desportivos, são algumas das decisões já em vigor por causa da seca. «Vamos acompanhar permanentemente a necessidade de aumentar esta redução da rega nos jardins até ao limite de 100 por cento. Se queremos água para beber, que saia na torneira, não a podemos continuamente desperdiçar nos jardins», justificou Sérgio Costa. A Câmara vai entretanto implementar um sistema de telegestão da rede de rega dos espaços verdes. Já nas piscinas municipais a ordem é para «diminuir a renovação ou a reposição da água, até ao limite da manutenção dos parâmetros legais, com a eventual necessidade do seu encerramento», admitiu o autarca.
O presidente do município revelou também que devido à falta de água as localidades de Avelãs de Ambom, Rocamondo e Trajinha estão a ser abastecidas diariamente por camiões cisterna porque as captações locais secaram. Uma medida que poderá ser aplicada noutras localidades do concelho, avisou o edil guardense. Sérgio Costa adiantou ter já sido também solicitado à empresa Águas do Vale do Tejo a adaptação de duas Estações de Tratamento de Águas Residuais da cidade para fornecimento de águas residuais tratadas para rega de jardins e lavagem de ruas. Já para ajudar os criadores de gado foram reativadas antigas captações nas freguesias de Pousade, São Miguel e São Pedro do Jarmelo para o abeberamento de animais. A Câmara da Guarda determinou ainda a proibição dos usos de água da rede em tanques e fontanários públicos, estando igualmente suspensa a lavagem de ruas e contentores.
Relativamente à recomendação do Governo para o aumento de tarifas aplicadas aos grandes consumidores domésticos nos concelhos que constam da lista divulgada o final de agosto, atendendo «ao fraco impacto no concelho», o presidente da Câmara referiu que o município fará «uma análise técnica adequada de forma a analisar outras possíveis formas alternativas» de poupança de água. No entanto, admitiu que essa é uma possibilidade que continua em cima da mesa para os escalões acima dos 15 metros cúbicos. A par destas medidas a aplicar no imediato, Sérgio Costa revindicou a construção da barragem da Cabeça Alta, no concelho de Celorico da Beira, e o aumento da capacidade de armazenamento de água na Serra da Estrela. E reclamou também a otimização dos regadios da Cova da Beira e da zona de Bouça Cova, que considerou «um mau exemplo» de gestão da água. O cenário dramático que o país atravessa foi feito por Pimenta Machado, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que chamou a atenção para o facto de haver atualmente um défice de precipitação de 50 por cento naquele que já é o segundo ano mais seco de sempre, depois de 2005. O responsável revelou também que cada português consume 186 litros de água por dia, quando a ONU diz que bastam 110 litros diários.

 

Luís Martins

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Efigénia Marques

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