No contexto do Dia Mundial de Combate à Polio, o Rotary Club da Guarda promoveu esta quinta-feira um jantar debate sobre o “Desenvolvimento Económico e Comunitário”, que decorreu no Hotel Vanguarda. Como referiu o presidente dos rotários da Guarda, António Quinaz, «o primeiro objetivo é a recolha de donativos» para contribuir para a erradicação da Poliomielite. Mas para além da angariação de fundos a doar como contributo para uma vacinação generalizada, e que irá «permitir pagar 3.960 vacinas», o Rotary da Guarda procurou também incentivar neste encontro a intervenção cívica dos guardenses, discutindo «os problemas e o futuro» da região.
O médico e rotário Matias Coelho explicou o trabalho e contribuição que o Rotary, «por todo o mundo», tem feito para erradicar uma doença, «também conhecida por paralisia infantil» e que «há alguns anos» atingia milhares de pessoas e hoje, graças à vacinação terá cerca de 30 casos no mundo.
Convidados, «para ouvirem expetativas e sugestões de cidadãos», o presidente da Câmara da Guarda, Carlos Chaves Monteiro, o presidente do IPG, Joaquim Brigas, e a presidente da ULS Guarda, Isabel Coelho, tomaram nota de algumas das muitas ideias e reflexões apresentadas. O empresário António Bernardo Marques mostrou preocupação pela falta de pessoas e de dinamismo económico da cidade, recordando que a localização da Guarda «devia ser melhor aproveitada». O presidente do Escape Livre, Luís Celínio, recordou alguns dados sobre o crescimento «extraordinário» do turismo na região e apontou a «massificação de destinos, como Lisboa», como uma oportunidade para a região, recordando que há cada vez mais pessoas que vêm do litoral à procura de oferta diferenciada no interior.
No mesmo contexto, Joaquim Nércio, enfermeiro e presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, sugeriu que a água deverá ser o elemento essencial do futuro da região, pois «a exploração de lítio, por exemplo, não deixará riqueza na região» mas «a natureza, e em especial a água que nós temos», será essencial no futuro. Para Joaquim Nércio, «vivemos» num tempo em que quem «fica são os idosos» e «mesmo os lares que hoje recebem as pessoas que regressam à região para viverem os últimos anos de vida nas suas terras, daqui a uns anos já não terão gente, pois os filhos já não irão regressar». E as escolas terão cada vez menos crianças, referindo mesmo que «hoje há cerca de cinco mil crianças nas escolas da Guarda, mas daqui a 12 anos haverá apenas 40%», concluiu o enfermeiro, referindo-se a um estudo sobre a população estudantil em 2031.
Mais optimista, Elsa Salzedas, professora e membro da direção da Associação de Amigos do Museu da Guarda, referiu a importância da natureza como factor de sustentação, dando o exemplo do Geopark Estrela como um dos vectores de afirmação da região, acrescentando que «a Guarda e região, são únicas no mundo». Para Elsa Salzedas, «o turismo e o ambiente devem ser as grandes apostas» para a sustentabilidade regional. Já Amélia Fernandes, professora e diretora do Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque, considerou que a Guarda é uma cidade onde o ensino «sempre teve qualidade» e, até por isso, há um «excelente nível» formativo, mas os mais jovens partem e quando olham para trás não têm como opção regressar à Guarda.
Por sua vez, o diretor do jornal O INTERIOR, Luís Baptista-Martins, que moderou o jantar-debate, referiu que «o turismo continua a ser a galinha dos ovos de ouro, mas não pode ser panaceia para resolver todos os problemas» e «não há turismo sem haver um aeroporto próximo», acentuando que a região deve ter um aeroporto como infraestrutura essencial para o desenvolvimento regional. Luís Baptista-Martins deixou ainda um repto ao presidente da Câmara da Guarda, a aposta no transporte coletivo, «para o IPG, que ficou encravado no Zâmbito» mas também em toda a cidade. «Os transportes urbanos devem ser gratuitos para haver mais gente a deixar o carro em casa» e «termos uma cidade mais limpa, com menos carros e para as pessoas».
O presidente do Rotary clube fechou a sessão com a renovação do desafio a mais pessoas participarem em debates, porventura «uma vez ao mês», para «discutirmos o futuro da Guarda», pois esta foi «uma experiência a repetir»