O antigo chefe de Estado Jorge Sampaio esteve na Guarda, em 2002, durante cerca de uma semana no exercício da “Presidência Aberta”. Então, Luís Baptista-Martins e Rui Isidro entrevistaram o então Presidente da República para o Jornal O Interior e a Rádio Altitude. Durante esses dias acompanhámos o chefe de Estado nas suas iniciativas. Recordamos aqui esses dias de Jorge Sampaio no distrito da Guarda, na data do seu falecimento:
Recordamos o ex-Presidente da República que entregou ao jornal O INTERIOR o Prémio Gazeta de Imprensa Regional em 2001 e entrevistámos em exclusivo em 2002 quando a Guarda foi capital de Portugal por 9 dias.
Militante do PS há mais de quarenta anos, Jorge Sampaio foi Presidente da República entre 1996 e 2006, depois de ter sido deputado e presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
O Jornal O INTERIOR presta-lhe aqui homenagem e recorda duas coincidências relevantes: foi Jorge Sampaio que entregou o Prémio Gazeta de Imprensa Regional a O INTERIOR em 2001 e a Presidência Aberta na Guarda em 2002.
Como a imprensa recordou por estes dias, o duplo mandato de Jorge Sampaio em Belém ficou marcado pela forma como o então Presidente da República lidou com o fim do governo do PSD, em 2004, após Durão Barroso se demitir de primeiro-ministro para liderar a Comissão Europeia. Então, Sampaio foi criticado pela esquerda por indigitar Pedro Santana Lopes como novo primeiro-ministro sem convocar eleições, o que levou à demissão de Ferro Rodrigues da liderança do PS. Depois recebeu críticas à direita quando dissolveu o Parlamento, alegando instabilidade governativa e abrindo caminho ao triunfo de José Sócrates, em 2005. Em 2001, Sampaio já tinha dissolvido a Assembleia uma primeira vez, após o então primeiro-ministro António Guterres ter apresentado a demissão devido ao “pântano” gerado pela pesada derrota do PS nas autárquicas.
Jorge Sampaio era o Presidente da República portuguesa quando foi feito o referendo para a independência de Timor-Leste e da transferência da soberania de Macau para a China, em 1999. Mais relevante, em termos internacionais, só mesmo a Cimeira das Lajes, em 2003, quando Durão Barroso foi anfitrião de George W. Bush, Tony Blair e José María Aznar na ilha Terceira onde foi decidida a guerra do Iraque – Jorge Sampaio viria depois a admitir algum desagrado com o então primeiro-ministro por este não o ter informado antecipadamente da cimeira.
Contudo, o triunfo nas presidenciais de 1996 – onde sucedeu a Mário Soares – e, depois, novamente em 2001, foi o culminar de um percurso iniciado algumas décadas antes quando o jovem Sampaio se afirmou com um ativista antifascista, em especial na crise académica de 1962.
O INTERIOR: Prémio Gazeta de Imprensa Regional
O Jornal O INTERIOR nasceu em 2000 e um ano depois recebeu do Clube de Imprensa o mais importante prémio da imprensa portuguesa, o Prémio Gazeta de Imprensa Regional, que contava (e conta) com o Alto Patrocínio da Presidência da República Portuguesa. O Prémio foi outorgado porque, segundo o júri, o então jovem jornal com sede na Guarda «veio agitar as águas da imprensa regional do interior do país». No momento da entrega do galardão, na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa, o então Presidente da República disse ao diretor de O INTERIOR que «os prémios são para quem os merece!». Esta frase seria depois utilizada em diferentes momentos pelo semanário, nomeadamente quando Jorge Sampaio “residiu” na Guarda, na Presidência Aberta de 2002 – o jornal O INTERIOR instalou então, nomeadamente, um “outdoor”, na zona da Póvoa do Mileu, de grandes dimensões, com a fotografia da entrega do Prémio Gazeta pelo então Presidente da República ao diretor de O INTERIOR com a frase «os prémios são para quem os merece!».
Presidência Aberta na Guarda em 2002
No sábado, dia 26 de outubro de 2002, Jorge Sampaio chegou à cidade da Guarda para nove dias de Presidência Aberta. Acompanhado pela esposa, Maria José Ritta, o Presidente da República Portuguesa seria recebido numa tarde amena de sol pela então presidente da Câmara Municipal da Guarda, Maria do Carmo Borges, e pelo seus vereadores. Mas o mais impressionante foi a moldura humana: a Praça Velha encheu-se para receber Jorge Sampaio.
O agora octogenário e então Presidente da República, conversou tranquilamente com muitos guardenses que o saudaram e, a pé, atravessou a rua do Comércio seguindo para o Hotel de Turismo onde viria a instalar-se. Um percurso demorado porque a cidade saiu à rua naquele que foi, porventura, o último momento de grande vivência coletiva e espontânea dos guardenses, acompanhando e saudando o “presidente Sampaio”.
No Hotel de Turismo, e depois de devidamente instalado, o Presidente da República deu uma entrevista em exclusivo ao jornal O INTERIOR e à Rádio Altitude. Feita por Luís Baptista-Martins e Rui Isidro, foi a única grande entrevista dada por Jorge Sampaio durante os nove dias de Presidência Aberta na capital de um distrito por onde o Presidente da República deambulou nos dias seguintes. Entre 26 de outubro e 4 de novembro, a Guarda foi a “capital” de Portugal, com Jorge Sampaio e Maria José Ritta a visitarem os concelhos da região, ajudando a lançar a Plataforma Logística na Guarda, brindando pela abertura do Skiparque em Manteigas ou homenageando Fernando Lopes em Trancoso.
Ficam algumas imagens do publicado em 2002, da entrevista exclusiva a O INTERIOR e dos momentos que fazem parte da história da Guarda, do distrito e do extraordinário contributo de Jorge Sampaio para a afirmação e consolidação da Democracia e da República Portuguesa. Obrigado Jorge Sampaio!
Luís Baptista-Martins, Diretor de O INTERIOR,