A água é a mesma para todos, mas o preço que cada um paga varia em função do concelho onde reside e da composição do agregado familiar. Esta é a conclusão do mais recente ranking da água, realizado pela Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN). A sétima edição do Estudo Comparativo dos Tarifários de Abastecimento de Água de Portugal foi divulgado na semana passada.
A principal conclusão desta análise com tarifas de 2021 é que «em Portugal, as famílias continuam a ser discriminadas no acesso à água, em função da sua dimensão e do município onde vivem. A tarifa fixa da água vai de 0 a 16 euros e o total da fatura da água regista diferenças que podem significar mais de 600 euros por ano para o mesmo consumo». A APFN assinala que em municípios vizinhos do mesmo distrito «as diferenças podem chegar a centenas de euros por ano, para o mesmo consumo». Nas Beiras e Serra da Estrela, a que juntámos os concelhos de Aguiar da Beira e Vila Nova de Foz Côa, pelas contas de O INTERIOR de acordo com os dados disponíveis (https://servicosbasicos.pt/index.php), um munícipe a viver sozinho, para um consumo de 3,6 metros cúbicos, paga cerca de 26,28 euros por ano em Manteigas, o mínimo registado na região neste estudo, e um máximo de 90,12 euros na Covilhã.
No caso de um agregado familiar com três elementos é novamente Manteigas que regista o valor mais baixo: 69,84 euros por ano para um consumo de 10,80 metros cúbicos. Do lado oposto está uma família similar que viva no concelho do Sabugal, cuja fatura de água anual é de 172,32 euros. Já se o agregado tiver cinco elementos quem paga menos na região, para um consumo médio de 18 metros cúbicos, é uma família residente no município da Mêda, que desembolsa 89,28 euros. No Fundão, a fatura de um agregado idêntico chega aos 393 euros. A estes valores haverá ainda que acrescentar as tarifas de saneamento e resíduos urbanos cobradas na fatura da água pelas autarquias.
Para APFN, em termos globais, «as diferenças entre municípios podem chegar a 13 vezes mais». No cômputo nacional, o estudo conclui que os distritos de Porto e Bragança são os que revelam «menor justiça no custo da água» em Portugal, em 2021. «Em média, em Portugal, um indivíduo a viver sozinho paga 51 cêntimos por metro cúbico. Se integrar uma família de dez elementos, para o mesmo consumo, paga 1,07 euros, ou seja, mais do dobro», destaca a Associação Portuguesa das Famílias Numerosas. Esta entidade também elaborou um ranking dos municípios que praticam os preços mais justos neste serviço básico em Portugal. O concelho madeirense de São Vicente é aquele que tem mais equidade nas tarifas praticadas, enquanto a Mêda surge na décima posição e é o município da região melhor classificado nesta lista. Vila Nova de Foz Côa surge na 56ª posição e Manteigas é 70º, todos os restantes estão para lá do 104º lugar, ocupado por Gouveia.
Luís Martins
