Sociedade

Presidente do Centro Cultural da Guarda alerta para «colapso do associativismo»

Img 0207
Escrito por ointerior

Francisco José Viegas foi o convidado da sessão solene dos 62 anos do Centro Cultural da Guarda, que decorreu no domingo na sede da coletividade, no Paço da Cultura.
O escritor e jornalista disse que é «preciso festejar o Centro Cultural, o seu trabalho e resistência», acrescentando que «não é muito comum haver associações com esta longevidade: 62 anos é uma data magnífica e diz bem do trabalho que foi feito durante estas décadas». Declarações feitas a O INTERIOR no final da cerimónia, onde antes Francisco José Viegas fez algumas confidências, como ter a mesma idade do Centro Cultural ou de «raramente» ser convidado para vir à Guarda. Natural do Pocinho (Vila Nova de Foz Côa), o autor de romances policiais cujas mortes acontecem sempre fora dos grandes centros – «prometo liquidar alguém na Guarda, ela merece», ironizou – revelou também ter uma «má memória» da cidade, mas porque esteve internado 15 dias no Hospital Sousa Martins, em 1972.
Confidências à parte, Francisco José Viegas afirmou que colectividades como o Centro Cultural são «muito importantes» porque, neste caso, foi criado numa altura «em que as realidades eram completamente diferentes, não havia os apoios que há hoje e, portanto, acredito que tenha sido um trabalho muito diferente e muito mais de resistência». Quanto às dificuldades que o mundo associativo atravessa em termos económicos e de recursos humanos, o antigo secretário de Estado da Cultura é taxativo: «Muitas vezes, a responsabilidade ou as culpas não são do poder local ou central. O mundo mudou. Provavelmente, há 30 anos íamos todas as semanas ao cinema, hoje não vamos porque vemos filmes em casa. Há 50 anos comprávamos livros em papel e hoje não compramos tantos porque outros lêem outras coisas ou veem séries de televisão», exemplificou.
Na sua opinião, é preciso «situar-nos no mundo como ele é, não como gostávamos que fosse. Infelizmente, estamos a viver uma mudança, uma crise de civilização, que é uma mudança muito radical de hábitos, de tudo. A própria natureza do associativismo cultural também está a mudar e é isso que o Centro Cultural vai encarar com certeza». Na cerimónia, Fátima Vitória, tesoureira da instituição, pediu «mais apoio» do município e José Valbom, presidente da Assembleia-Geral, insistiu na mesma tecla ao afirmar que o Centro Cultural «precisa e merece apoio» da autarquia. «A cultura não é um emblema de lapela, é uma actividade essencial à vida», considerou.
Por sua vez, Albino Bárbara, presidente da direção, alertou para «os riscos do colapso do associativismo» e defendeu que os poderes públicos «devem apoiar de forma idêntica o que é igual e de forma diferente o que é desigual». Quanto ao futuro, disse só ver duas saídas: «Ou alinhamos num esquema empresarial, em que o lucro é a finalidade, ou então continuamos a apostar no associativismo tendo por base critérios de partilha e não de subsiodependência», declarou. Uma coisa é certa, o Centro Cultural da Guarda «fará tudo para manter viva a chama do associativismo e da cultura neste interior profundo», garantiu o dirigente.
Já Sérgio Costa, presidente do município, disse ter registado «os pedidos» e assegurou que a Câmara da Guarda «tem estado ao lado do Centro Cultural para construir uma agenda cultural ativa e diversificada». A classe de ballet de Teresa Pais, o grupo de música tradicional Cantar Tradição, o Orfeão, o Conjunto Rosinha e o Rancho Folclórico abrilhantaram a festa, que também teve um momento de poesia declamada por Alexandre Gonçalves e Albino Bárbara, acompanhados ao acordeão por Helena Rodrigues.

Sobre o autor

ointerior

Leave a Reply