Sociedade

Poder local homenageado nas comemorações do 25 de Abril na Guarda

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Escrito por Efigénia Marques

Condecorações tiveram como objetivo «agradecer e enaltecer o sentido de humildade democrática que estes autarcas demonstraram ao aceitar ser agraciados pela Câmara Municipal da Guarda», revelou Sérgio Costa.

A Câmara da Guarda dedicou as comemorações do 49º aniversário do 25 de Abril ao poder local. Na habitual sessão solene foram homenageados os antigos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal com a Medalha de Honra, grau ouro.
A representar os ex-autarcas, Maria do Carmo Borges lembrou a sua passagem pela governação do concelho, dizendo que «foi um privilégio conduzir os destinos da Guarda durante 10 anos. Nunca terei palavras para agradecer a honra concedida pelos meus conterrâneos, nem forma de pagar o que me ensinaram no convívio diário que fomos mantendo». A antiga presidente socialista deixou ainda um apelo: «Apesar de tudo que nos distingue e diferencia, temos de fazer da nossa casa comum, seja o país, o concelho ou a cidade, uma causa verdadeiramente comum. A coesão económica, social e territorial não podem ser palavras vãs, e sim um desafio coletivo que exige o empenho desinteressado de todos», desafiou, sugerindo que é preciso continuar «a fazer das nossas fraquezas uma oportunidade para despertar consciências e acreditar num devir que abra os caminhos do futuro». A criação de uma cidade multicultural é também um dos desejos de Maria do Carmo Borges, pois «almejamos um concelho e uma cidade mais acolhedora, que tanto receba bem os estudantes do Instituto Politécnico, como integre minorias e acolha emigrantes com a mesma generosidade beirã».
Já Cidália Valbom, a última presidente da Assembleia Municipal, em representação dos ex-presidentes daquele órgão autárquico, considerou que «o poder local democrático será porventura um dos esteios maiores do 25 de Abril de 1974» e garantiu que «não haveria melhor forma de comemorar a liberdade, a democracia e o poder local, do que homenagear o povo da Guarda, a quem esta condecoração é verdadeiramente atribuída e de quem os eleitos são humildes servidores». Por sua vez, o atual presidente da Assembleia Municipal, José Relva, destacou a importância do poder local no desenvolvimento das regiões nos últimos 49 anos, afirmando que proporcionaram «às suas populações as condições básicas de acesso a água e saneamento, evitando o isolamento ancestral. Estou crente que, sem menosprezo pelo poder central, foram as autarquias e as mulheres e os homens que ocuparam os cargos que mais contribuíram para o alterar da face de muitas cidades, vilas e aldeias do país, criando as condições mínimas para uma vida justa e digna». proferiu no seu discurso o eleito pelo movimento independente Pela Guarda.
«Abril não pode ser apenas uma memória distante, cumprir Abril tem de ser um objetivo dos dias de hoje, de toda a sociedade portuguesa. Tem de ser, também, uma realidade para os jovens de hoje», realçou José Relva. No seu discurso, Sérgio Costa, presidente do município, transmitiu uma mensagem de esperança aos guardenses realçando alguns dos projetos já concluídos e outros em que a Guarda «está a fazer o seu caminho». O autarca revelou que o principal motivo da homenagem foi «agradecer e enaltecer o sentido de humildade democrática que estes autarcas demonstraram ao aceitar ser agraciados pela Câmara Municipal da Guarda, dando um enorme sinal de respeito aos cidadãos que representaram ao longo das suas funções».
Por sua vez, o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Carlos Miguel, considerou que o poder local «foi colorindo um país que estava a preto e branco», nomeadamente no que toca ao saneamento básico. Essa era «uma palavra que pura e simplesmente não existia no léxico português. E se tudo isso hoje é diferente, deve-se ao poder local democrático e a todos aqueles que se têm empenhado no mesmo», concluiu o governante. Receberam a Medalha de Honra, grau ouro, os antigos presidentes da Câmara Vítor Cabeço (1976-1977), Abílio Curto (1977-1995), Maria do Carmo Borges (1995-2005), Álvaro Guerreiro (2005), Joaquim Valente (2005-2013), Álvaro Amaro (2013-2017) e Carlos Chaves Monteiro (2019-2021). A mesma distinção foi concedida aos antigos presidentes da Assembleia Municipal António de Almeida Santos (1977-1985, já falecido), Rogério Nabais (1986-1993), Artur Santos Pina (1993, já falecido) José Igreja (1994-2005), João de Almeida Santos (2005-2013), Fernando Carvalho Rodrigues (2013-2017) e Cidália Valbom (2017-2021). Os treze homenageados vão também ostentar o estatuto de cidadãos honorários da Guarda.
Ainda nas comemorações do 49º aniversário do 25 de abril de 1974, o dia começou com uma arruada pelas ruas da cidade em que participaram a banda filarmónica de Famalicão da Serra, o grupo de percussão de Valhelhas e o grupo de bombos Trocadalho do Carilho de Gonçalo. O executivo guardense inaugurou a exposição “Liberdade para Criar” feita pela comunidade escolar do concelho e IPSS. Decorreu o habitual hastear da bandeira que contou com a atuação de Leonor Fantasia que interpretou o hino nacional e, ao final da manhã, os alunos da Secundária da Sé inauguraram um mural alusivo a Abril. No período da tarde foi inaugurada a requalificação e ampliação da Casa do Povo dos Galegos e assinados contratos de financiamento do Programa de Equipamentos Urbanos de Utilização Coletiva em Vila Fernando e Aldeia Viçosa. As comemorações terminaram no Teatro Municipal da Guarda com o concerto dos Sétima Legião.

Bancadas da Assembleia Municipal também discursaram

Como já vem sendo habitual, todos os partidos com representação na Assembleia Municipal proferiram algumas palavras na sessão solene comemorativa da revolução.
Bárbara Xavier, do Bloco de Esquerda, foi a primeira a discursar e lembrou que «os direitos conquistados não são irreversíveis, devem ser defendidos. Manter vivo o espírito de Abril implica aprofundar a democracia, defender os trabalhadores e as desigualdades e a exclusão social». E, por isso, «devemos evidenciar o aniversário da revolução como uma comemoração de luta que tem a sua plenitude na rua, no espaço público e democrático», acrescentou. Cláudia Guedes, do CDS-PP, direcionou a sua intervenção para a luta que os professores têm levado a cabo nos últimos meses. Em cima do púlpito colocou uma “t-shirt” estampada com a frase “Professor em Luta”, a deputada municipal começou por dizer que é graças ao 25 de Abril que pode dizer que «estou de luto porque a educação está em luta. Esta não é apenas uma luta minha ou de todos os professores, é uma luta de toda a sociedade, onde está em causa o futuro dos docentes e acima de tudo o futuro dos alunos e o futuro país». A professora apontou também os problemas existentes «na educação, saúde, economia, segurança e habitação» e questionou se «foi para isto que se fez o 25 de Abril?».
Do PS, Miguel Borges deixou algumas ambições para aquela que será a Guarda de Abril: «Será uma Guarda de identidade, com cultura diferenciadora, com mulheres e homens empreendedores. Uma Guarda solidária, igualitária e moderna. A Guarda de abril será uma cidade de jovens que partilham espaços, sonhos e desafios com os seus pais e avós. Será uma cidade que lembra a história, que respeita as suas tradições, conservando e reabilitando o seu passado, será uma Guarda com futuro». O social-democrata João Correia recordou o que a Revolução dos Cravos trouxe às pessoas: «Libertou-nos o pensamento e a palavra, soltou a poesia, alimentou a esperança, quase nos embriagou numa utopia. Com o 25 de Abril veio também o poder local, que é o expoente máximo da democracia, da defesa em proximidade do cidadão e dos seus ideais, na sua intervenção social, na saúde, na educação, da habitação, das opções culturais, na economia, na preservação do passado, no ordenamento, na segurança, na gestão de uma urbe sustentável e equilibrada entre o progresso, o bem-estar e o ecologicamente sustentável».
Do movimento independente “Pela Guarda”, José Valbom afirmou que, 49 anos depois, «muito temos caminhado na direção certa, o país está francamente na direção certa, mas queremos mais para o futuro. Com as bases que temos conseguimos melhor, mais crescimento e mais produtividade». O setor económico, social e do turismo são algumas vertentes que José Valbom menciona e que devem melhorar. António Fontes, presidente da Junta de Freguesia de Famalicão da Serra, falou em nome dos eleitos de freguesia para sensibilizar o executivo guardense «para que assuma o compromisso de aprofundar o 25 de abril, dedicando uma parte consistente das suas políticas às freguesias do nosso concelho».

 

Carina Fernandes

Sobre o autor

Efigénia Marques

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