Sociedade

Padre investigado por abusos sexuais continua a exercer em Figueira de Castelo Rodrigo

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Escrito por Efigénia Marques

As listas com os nomes dos alegados abusadores foram entregues às dioceses na passada sexta-feira pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais a Crianças na Igreja Católica Portuguesa

Continua a exercer em Figueira de Castelo Rodrigo o padre que está a ser investigado pelo Ministério Público (MP) por alegado abuso sexual de menores após denúncia num dos testemunhos validados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
O pároco, atualmente com 61 anos, é responsável por cinco paróquias naquele concelho, numa decisão da Diocese da Guarda. Conforme O INTERIOR noticiou em outubro passado, o bispo D. Manuel Felício terá sabido desta denúncia, mas optou por não fazer nada contrariando o que aconteceu nas dioceses de Lisboa, Vila Real ou Évora, onde em casos semelhantes se optou pelo afastamento dos padres sob suspeita dos serviços religiosos. Cerca de seis meses depois, tudo continua igual em Figueira de Castelo Rodrigo. Sobre o prelado recaem suspeitas de abusos sexuais que terão acontecido há cerca de 30 anos e foram denunciados por um padre, agora com 42 anos. Trata-se de um dos 424 testemunhos recolhidos pela Comissão.
Na altura, o suspeito era o responsável pela paróquia de Vila do Carvalho, no concelho da Covilhã. O denunciante tinha 12 anos e disse ter sido abusado a troco de poder entrar no seminário do Fundão, onde o suspeito era orientador espiritual. À comissão terá falado noutras crianças que também foram chantageadas e abusadas pelo mesmo padre. O caso está a ser investigado pelo MP e em segredo de justiça. Será a única situação sob investigação na diocese guardense, que recebeu na sexta-feira a lista com os nomes dos alegados abusadores, tal como as restantes dioceses portuguesas. Os documentos foram entregues pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais a Crianças na Igreja Católica Portuguesa.
No final da reunião da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decorreu em Fátima, nesse dia, D. José Ornelas, afirmou que as dioceses são «as entidades responsáveis pela investigação de possíveis casos. É uma lista de nomes. Sendo uma lista de nomes, sem outra caracterização, torna-se difícil essa investigação, exige redobrados esforços», adiantando que vão ser seguidas as normas civis e canónicas. O Presidente da CEP adiantou aos jornalistas que será cada diocese a decidir quais as medidas necessárias para cada caso e não se comprometeu com o afastamento dos alegados abusadores, ainda que a título preventivo.
No final da reunião, numa declaração à imprensa, a Igreja voltou a pedir desculpa às vítimas, agradeceu àquelas que «deram o seu testemunho ao longo do último ano e, em muitos casos, a um silêncio guardado durante décadas» e anunciaram um «gesto público no próximo mês de abril», em Fátima, em sua homenagem. Será ainda criado «um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior da Conferência Episcopal Portuguesa» para as vítimas de abusos. Os bispos portugueses comprometem-se também a fazer o «devido seguimento» dos nomes constantes nas listas de abusadores, seguindo «as normas canónicas e civis». Na Guarda, D. Manuel remete-se ao silêncio e ao comunicado divulgado em meados de fevereiro, onde se garantia que «todos os casos sinalizados terão sempre o tratamento adequado nas devidas instâncias canónicas e civis. E faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que a verdade seja apurada e a justiça aplicada».
Afirmando que «a nível moral nunca o mal poderá prescrever», o bispo guardense acrescentava que, «a partir do relato apresentado [pela Comissão], vamos contar, a partir de agora, especialmente com a nossa Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Vulneráveis para nos ajudar a definir os caminhos necessários para a erradicação de todos os abusos». «Se aparecerem suspeições com o apontar de nomes, queremos acompanhar os processos de averiguação que, porventura, tiverem de ser realizados, para que seja averiguada toda a verdade e se faça completa justiça», lê-se ainda na mesma nota. Recorde-se que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal iniciou a recolha de testemunhos de vítimas em 11 de janeiro de 2022, tendo validado 512 denúncias das 564 recebidas, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas nos últimos 72 anos. Dessas, oito terão acontecido no distrito da Guarda e sete no distrito de Castelo Branco.

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Efigénia Marques

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