Sociedade

O primeiro dia do resto das novas vidas

Escrito por Jornal O Interior

O pequeno comércio de rua reabriu ao público na segunda-feira, primeiro dia do desconfinamento gradual do país. A falta de clientes e a incerteza quanto ao futuro do negócio, bem como a falta de apoios, foram alguns dos receios ouvidos por O INTERIOR numa altura em que os empresários desesperam para que «a normalidade volte depressa».

Na Pinagus as medidas de proteção de trabalhadores e clientes recordam que vivemos um tempo diferente

No primeiro dia do desconfinamento as padarias e as farmácias continuaram a ser os estabelecimentos comerciais mais procurados pelos guardenses. Dezenas de lojas de rua reabriram ao público na cidade mais alta na segunda-feira após mês e meio de inatividade devido ao estado de emergência decretado para combater a Covid-19. No entanto, os poucos clientes registados neste recomeço da atividade aumentaram o pessimismo dos comerciantes ouvidor por O INTERIOR.
Ao fim de 45 dias de confinamento, o centro da Guarda voltou a ter mais movimento, sobretudo de carros, mas as poucas pessoas que circulam nas ruas andam de máscara e não param. No interior das lojas as medidas de proteção de trabalhadores e clientes sobressaem e recordam que vivemos um tempo diferente. «Ainda se vê pouca gente, as pessoas continuam confinadas. Hoje só tive um cliente», confirma Manuel Pinheiro. O empresário, dono do grupo Pinheiro & Co. que possui três lojas de roupa na cidade, assume que o dia está a ser «difícil», como também será o futuro do negócio. «Estivemos fechados desde 14 de março, foi um grande prejuízo e tão cedo não vamos recuperar o investimento perdido e dos custos inerentes a estarmos de portas fechadas porque temos despesas fixas e compromissos que entraram em quarentena», afirma Manuel Pinheiro, adiantando que recorreu à “lay-off” para minimizar o impacto da pandemia.
Já dos apoios anunciados ainda não viu nada. «A banca diz-nos que não há novidades por enquanto. Mas precisamos desses apoios para resolver as despesas decorrentes do fecho das lojas e é urgente que sejam desbloqueados, disponibilizados aos comerciantes», avisa o comerciante, que está no negócio há mais de 35 anos. Quanto ao futuro, Manuel Pinheiro receia que «tão cedo não vamos ver a luz ao fundo do túnel porque se habitualmente já há pouca gente na Guarda, com o coronavírus as pessoas têm mais receio de sair, de fazer compras e acho que vão pensar duas vezes antes de gastar dinheiro». Contudo, apesar de considerar que «a normalidade vai regressar pouco a pouco», o empresário assume ter «confiança» no futuro.

A salvação do online e das redes sociais

«Quem anda na rua vai à farmácia ou à padaria, não faz compras, pelo menos por enquanto, espero eu», diz Florbela Cabral, da Rolfama

Ali ao lado, no Largo da Misericórdia, Florbela Cabral fechou a loja de roupa mais cedo porque não há clientes e vai passar a funcionar com horário reduzido, só durante o período da manhã. A Rolfama abriu em setembro e seis meses depois levou «esta rasteira», desabafa a empresária, para quem o regresso à normalidade vai ser difícil: «Não se veem pessoas a passear ou a ver as montras. Quem anda na rua vai à farmácia ou à padaria, não faz compras, pelo menos por enquanto, espero eu», acrescenta, revelando que só teve uma cliente, «habitual», de manhã. A loja também fechou em meados de março e desde então tem apostado no comércio online e nas redes sociais. «Já tínhamos algumas vendas nesta área e foi a nossa mais-valia no confinamento porque sempre fomos faturando alguma coisa», adianta, estranhando, no entanto, que venda «mais para fora do que para gente da Guarda».
A empresária não esconde algum pessimismo porque «há contas para pagar, stock para escoar e poucos ou nenhuns clientes, tal como os apoios, que são zero. Estamos a gastar do nosso para manter liquidez e fazer face aos compromissos». Florbela Cabral admite que este mês será «decisivo» para o futuro do negócio, mas diz notar-se já que «as pessoas estão a ficar sem rendimento disponível», o que a preocupa.

Guilherme Silva, dono da barbearia Zé Ginja, não aceita marcações até meados de maio

Mais otimista está Guilherme Silva, dono da barbearia Zé Ginja na Rua Vasco Borges. «Está tudo cheio, tenho marcações até ao meio do mês para cortar cabelo. São clientes fixos desde que abri, há quatro anos, e que marcam o serviço pelas redes socias ou por telefone», refere o profissional.
Atualmente só corta cabelo, deixou de fazer barba porque «é um risco escusado» para o cliente, que tem que tirar a máscara. A barbearia está a trabalhar em horário reduzido e com todas as regras necessárias. Guilherme Silva só atende por marcações e de hora a hora para permitir a desinfeção dos materiais. Alem disso, «os clientes têm que esperar na rua, usar máscara e só entra um de cada vez», explica o barbeiro, que trabalha com máscara, viseira e luvas. «Estou otimista em relação aos próximos tempos. Só não sabemos quando é que as coisas voltarão à normalidade», assume o jovem empresário, que também esteve fechado mês e meio e já tinha saudades «do trabalho e dos clientes».

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