Sociedade

O 25 de Abril visto pelos jotas da Guarda

Jotas
Escrito por Efigénia Marques

Apesar da visão distante que têm da revolução, Miguel Will e Luís Soares partilham da opinião que «o 25 de abril foi um marco muito grande para o nosso país»

A propósito do 49º aniversário do 25 de Abril de 1974, O INTERIOR falou com os presidentes das distritais da JS e JSD para perceber a visão que os mais jovens, principalmente ligados à política, têm da “Revolução dos Cravos”.
Miguel Will, líder da Federação da Juventude Socialista (JS) da Guarda, e Luís Soares, presidente da JSD Distrital, têm muito em comum sobre o acontecimento. «Na realidade, eu não o vivi e já só saboreei os frutos que vieram do 25 de Abril. Não fui para a guerra, nunca tive qualquer impedimento de falar ou expressar as minhas opiniões, muito pelo contrário, sempre tive a oportunidade de decidir se votava ou não e acabei sempre por votar», afirma o socialista, para quem «o 25 de Abril foi um marco muito grande para o nosso país». Já Luís Soares divide o acontecimento em duas vertentes: política e histórica. «Numa perspetiva um bocadinho mais histórica, foi um acontecimento marcante no país, que meteu um golpe de Estado que colocou fim àquilo que era um sistema autoritário» dando lugar à democracia. Já no âmbito político, «quando se fala na “Revolução dos Cravos”, que todos tomamos por pacífica, mas que a verdade é que não teve pacifismo nenhum até ao 25 de novembro de 1975. Aí sim é o primeiro passo para terminar a revolução e que a verdadeira revolução do 25 de Abril termina com a aprovação da Constituição e a tomada em vigor da Constituição», considera o social-democrata.
Questionados sobre a valorização do acontecimento pelos mais jovens, os líderes das “jotas” divergem um pouco nas suas perspetivas. Miguel Will afirma que, apesar da «distância temporal», a «partilha intergeracional» mantêm viva a essência da data. «Nós já só vivemos os resquícios do 25 de Abril, que são os poemas, as canções, as celebrações e depois o dia a dia que tem sido democrático, tem sido livre, que não nos custou a conquistar. Sim, é-nos ensinado, sim vamos partilhando e vamos debatendo, mas é importante reviver e recordar o que era o Estado Novo para instruir as gerações mais jovens. Luís Soares tem uma opinião mais vincada, apesar de considerar que «num sentido teórico é valorizado. Penso que, na prática, não há uma valorização». O facto de os jovens se acomodarem àquilo que lhes é imposto é, na para Luís Soares um exemplo da falta de valorização da Revolução dos Cravos. «Temos o direito a uma segurança social, direito a ter uma reforma depois de trabalharmos. Todos nós da nossa geração já ouvimos a frase vocês ou nós não vamos ter reforma, nós não vamos ter uma pensão. Se calhar é um bocadinho resignarmos-nos a uma limitação do país, a minha geração resigna-se tanto que não valoriza uma revolução. Ora, a pergunta que eu faço a seguir é: será que os meus avós e os meus bisavós depois de conquistarem esta garantia, estes direitos abdicavam deles, assim como nós conseguimos abdicar numa frase tão simples que é, “não adianta estarmos a descontar porque não vamos ter reforma”. É precisamente aqui, neste sentido, que eu acho que o 25 de Abril não é valorizado», exemplificou o responsável distrital.
«A nível geral, eu consigo dizer que o 25 de Abril não passa de ter o cravo ao peito nesse dia e fazer uma marcha. Não passa disso, porque verdadeiramente aquilo que é a substância do 25 de Abril que é vertida na Constituição raramente a vemos. Podemos, por exemplo, falar no direito à habitação que agora está tão na moda falar. Nós vemos que é muito difícil um jovem encontrar habitação para viver aos custos que estão», começou por explicar o social democrata, acrescentando que a nível profissional o 25 de abril ainda não está totalmente implementado. «Temos o direito de escolher a nossa profissão, mas nós não escolhemos nada, nós submetemos-nos a uma profissão. «Temos direito a poder exercer na função pública que é o que diz a Constituição, o que é que acontece? Sabemos bem que só alguns são escolhidos para trabalhar na função pública e não são escolhidos pelo facto de serem bons e nós queremos os melhores serviços públicos. Estão escolhidos porque têm algum pretexto político que os consiga levar para trabalharem na função pública podemos ver claramente nas câmaras tanto do PS como do PSD, até como independentes. A verdade é que temos direito a um concurso público e a verdade é que sabemos todos perfeitamente, quando falamos na rua dos concursos, estão todos prometidos», vincou.
Miguel Will considera que algumas questões não deixam que se diga que o 25 de abril esteja completamente implementado, nomeadamente algumas dúvidas que surgem devido a «crises económicas, provindas de crises pandémicas, provindas de erros políticos ou decisões políticas que até pareciam certas, mas que eram frustradas misturam-se com o 25 de Abril, pondo em causa o próprio 25 de Abril. O debate político e ideológico. Os partidos têm a sua ideologia, tem as suas bandeiras, querem reivindicar e há momentos com grande impacto nacional, como foi o 25 de Abril e outros, que por vezes estes partidos tentam-se apropriar deles». Porém «o 25 de Abril, do meu ponto de vista, concretizou-se neste âmbito a nível nacional, descolonizou-se, democratizou-se, desenvolveu-se, mas com isso vieram outras conquistas, a liberdade, as diferentes formas de liberdade e a democracia. Esses é que sim devem ser construídos todos os dias e 25 de Abril em 25 de Abril deve-se fazer um diagnóstico e perspetivar-se estamos a ir no sentido certo», concluiu o socialista de 26 anos.
O INTERIOR também tentou contactar Beatriz Realinho, do Bloco de Esquerda, mas não foi possível.

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Efigénia Marques

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