Sociedade

Novo comandante pede incentivos locais para «ser bombeiro na Guarda»

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Escrito por Efigénia Marques

António Pereira sugere à autarquia reduções «significativas» nos impostos municipais e o livre acesso a instalações, entre outros apoios para fomentar o voluntariado

Os bombeiros da Guarda têm novo comandante. António Pereira, até agora segundo comandante da corporação, tinha assumido funções interinamente após a saída de Paulo Sequeira, em abril deste ano, e tomou posse no domingo, durante a sessão solene do 146º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses.
Num discurso emotivo, o responsável começou por pedir «mais e melhores condições» para os voluntários e afirmou que conta «com todos» para garantir uma «resposta robusta, técnica e operacional» às solicitações. «Temos a noção que as disponibilidades de cada elemento, por força dos compromissos familiares e profissionais, são cada vez mais reduzidas e impedem cada elemento de dar mais de si em prol da sociedade», disse António Pereira, que desafiou a Câmara Municipal a criar incentivos locais para apoiar os voluntários. «É urgente que se criem contrapartidas para os nossos bombeiros, como reduções significativas nos impostos, tais como taxas municipais, o livre acesso a instalações, entre outras medidas, de forma a que haja um maior benefício em ser bombeiro na Guarda», sugeriu o comandante, que alertou para o facto de haver cada vez menos elementos a ingressarem nos quartéis e do «drama» da perda de estagiários aquando do ingresso no ensino superior. «Este é um paradoxo que poucos corpos de bombeiros podem contornar e contra o qual temos que lutar», assumiu, comprometendo-se também a tentar saber os motivos de «algumas desmotivações» sentidas no seio do corpo ativo e encontrar «melhores soluções para que elas possam ser anuladas».
Por sua vez, o presidente da direção da Associação Humanitária voltou a criticar a falta de apoios por parte do Estado, que acusou de «abusar dos bombeiros, pois continua a esquecer-nos porque sabe que o nosso lema “Vida por Vida” nos leva sempre a colocar em primeiro lugar as pessoas em detrimento dos nossos problemas financeiros». Carlos Gonçalves realçou a necessidade da revisão «urgente» da lei do financiamento das Associações Humanitárias, que deve basear-se num modelo que tenha em conta o número de ocorrências, a área de intervenção e a população abrangida. «Deixem de nos tratar como o parente pobre da proteção civil», apelou o dirigente, que cumpre o segundo mandato na instituição e reivindicou a instalação de mais um posto de emergência médica na corporação. «Temos cerca de 400 ocorrências mensais, passámos a fazer o transporte de doentes para Coimbra, Lisboa, com as nossas ambulâncias do INEM, o que é extremamente grave porque deixamos de ter ambulâncias de emergência no quartel, o que está errado», considerou Carlos Gonçalves.
Atualmente, a corporação conta com mais de 100 bombeiros, duas Equipas de Intervenção Permanente (EIP) – a terceira foi aprovada no final de julho – e 34 colaboradores. No domingo, a Associação Humanitária apresentou duas ambulâncias que foram adquiridas com recurso à banca, uma das quais foi comparticipada em 50 por cento pela autarquia. Presente na cerimónia, Paulo Amaral, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda, aproveitou a presença da ministra do Trabalho e Solidariedade Social para alertar que não está a ser cumprida a decisão que atribuía aos bombeiros um ano de reforma por cada cinco anos de serviço, enquanto Gil Barreiros, presidente da mesa do congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses, reclamou o regresso do Comando Nacional de Bombeiros a alertou que há instituições «falidas ou sem dinheiro» porque «estamos a subsidiar o país para haver socorro». Apesar disso, o responsável garantiu que «somos voluntários por opção, mas profissionais na ação e essa é a grande força dos bombeiros».
Já o presidente da Câmara da Guarda sublinhou que a autarquia está empenhada no apoio aos voluntários e o resultado é a aprovação da terceira EIP para a corporação. «O concelho vai ter a sétima Equipa de Intervenção Permanente, será aquele com mais EIP na região Centro, o que garante maior resposta, mais rápida e contundente nas primeiras horas de combate ao incêndio», assinalou Sérgio Costa. O autarca também lembrou que, a partir deste, vai apoiar as três corporações do concelho com 100 mil euros anuais em apoios ordinários, mais 280 mil euros por ano com as EIP. «São 380 mil euros para os próximos anos aos soldados da paz e 80 mil para as quatro equipas de sapadores, o que permite que haja 55 pessoas disponíveis para proteção, prevenção e combate aos incêndios durante todo o ano», afirmou o edil guardense.

Crachat de Cidadania e Mérito para António Morais

Na cerimónia de domingo, além de António Pereira, foi também empossado o adjunto do comando, Augusto Falcão. O novo comandante da corporação e o oficial bombeiro Fausto Rato receberam o crachat de ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses por 35 anos de voluntariado. Já António Morais, atual comandante dos bombeiros do Sabugal, que esteve 45 anos ao serviço da corporação da Guarda, recebeu o crachat de Cidadania e Mérito, outra distinção da Liga por solicitação da direção da Associação Humanitária. Como habitualmente foram ainda distinguidos vários elementos do corpo ativo. Presente na sessão, a ministra do Trabalho e Solidariedade Social, Ana Mendes Godinho, assumiu que «ainda há muito para fazer» no apoio ao voluntariado, mas destacou o «reforço inédito» de 50 milhões de euros do Orçamento de Estado para os bombeiros e a revisão dos acordos com o INEM e o Ministério da Saúde. A governante comprometeu-se também a fazer chegar à tutela as reivindicações ouvidas na Guarda.

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Luís Martins

Sobre o autor

Efigénia Marques

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