Sociedade

Mais de quatro mil hectares ardidos no Parque Natural da Serra da Estrela

Câmara De Manteigas
Escrito por Efigénia Marques

Estimativas são das Câmaras da Covilhã e de Manteigas, cujo presidente exige o apuramento do que aconteceu no fim de semana no combate às chamas

Três dias depois, à hora do fecho desta edição, o incêndio que deflagrou na madrugada de sábado, no lugar de Garrocho, na Vila do Carvalho (Covilhã), continuava a lavrar nas encostas do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE).
No domingo, as chamas chegaram ao concelho de Manteigas, onde devastaram uma das encostas do Vale Glaciar do Zêzere e uma vasta extensão da área protegida, tendo mesmo obrigado à evacuação do hotel Vila Galé, que fica no sopé do vale, por precaução. Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Manteigas, estimou que o fogo tenha consumido mais de mil hectares no seu concelho. «Manteigas está totalmente dentro do PNSE. Em termos de área ardida, apesar de ainda não estar totalmente feito o cálculo, estima-se que já arderam mais de mil hectares», disse o autarca. Flávio Massano criticou também as opções que foram tomadas no combate às chamas. «Havia faixa primária e havia estradas de terra no limite dos dois concelhos. Este estradão e a faixa primária já no concelho de Manteigas, que poderia e deveria ter sido aproveitada para extinguir o fogo ainda no sábado, durante a madrugada, e depois domingo de manhã», afirmou.
Na sua opinião, como isso não aconteceu, as chamas galgaram «a faixa primária que estava em condições e que passou o estradão de terra, numa zona plana só de pedras e mato rasteiro. A partir desse momento, obviamente sabíamos que íamos ter um desastre em Manteigas e foi isso que se verificou», lamentou o edil manteiguense, que vai pedir o apuramento do que aconteceu no fim de semana. Na Covilhã, o vice-presidente da Câmara adiantou que o incêndio já consumiu cerca de três mil hectares de floresta e mato no concelho. Esta terça-feira José Serra dos Reis estava «convicto» que o fogo seria dado como dominado, «não extinto», ao longo do dia: «Durante esta noite executou-se uma operação de alto envolvimento e movimentação dos meios disponíveis. Diminuiu-se em mais de 58 por cento a frente do incêndio, que lavra na zona de Verdelhos», especificou, revelando que a autarquia já está a fazer o «inventário dos prejuízos e danos causados».
O autarca acrescentou que foi montado «um plano muito especial» de atuação noturna. «Estamos esperançados com mais de meio milhar de homens, mais de algumas centenas de veículos diversos com máquinas de rasto florestal» que o incêndio seja dominado. Segundo adiantou fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Castelo Branco à agência Lusa, aquando do surgimento do incêndio, a «falta de acessos» condicionou o combate. Também no domingo, o alastrar do fogo obrigou ao corte da Estrada Nacional 338 – que faz a ligação entre Piornos e Manteigas (até ao dia seguinte) – e foi necessário evacuar a praia fluvial de Verdelhos. Dos operacionais presentes no incêndio, três bombeiros, um dos quais da corporação da Mêda, foram transportados para o Hospital Universitário Cova da Beira na Covilhã – dois deles com ferimentos e um por motivo de doença.

Dirigente da ASE aponta falhas graves no combate ao incêndio

O dirigente da Associação de Amigos da Serra da Estrela (ASE), José Maria Saraiva, aponta falhas, «pelo menos duas importantes», no combate ao incêndio que lavra na área protegida desde sábado, tendo começado no Garrocho, no concelho da Covilhã.
Na sua opinião, a «principal» falha tem a ver com o facto da estratégia de combate não ter contemplado a contenção do fogo numa zona chamada Fraga Grande. «No sábado de manhã, quando estávamos lá em cima, tivemos a perceção de que quem estava a comandar não tinha a noção do risco que podia existir se não colocasse operacionais nesse local para evitar que o fogo ultrapassasse essa barreira», adianta o dirigente da associação ASE. Muito crítica, José Maria Saraiva considera ainda que quem esteve a comandar no teatro de operações «não se apercebeu que existia um corredor que impossibilitaria a passagem das chamas para o outro lado da serra, para o concelho de Manteigas», salientando que «se tudo isto fosse tido em conta não teríamos passado por uma situação destas».
Como os operacionais não conseguiram controlar o incêndio nesse ponto, «era previsível», segundo José Maria Saraiva, que as chamas «progredissem» por toda a encosta da zona do Vale Glaciário. O dirigente da ASE revela que vai dar conta «destes erros a quem de direito» para que «situações idênticas não voltem a acontecer», lamentando que tenha sido «destruída uma extensa zona de reserva biogenética» da Serra da Estrela, cujo território está classificado como Geopark Mundial da UNESCO.

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Efigénia Marques

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