Sociedade

IPG perde data center do SEF

Escrito por Luís Martins

Ministério da Administração Interna quer concentrar as bases de dados das polícias num único espaço em Contumil (Porto) e já deu ordens para a transferência com «caráter urgente» do serviço que devia ficar na Guarda.

A decisão está tomada e é novamente a Guarda que volta a perder a corrida por um serviço público. O data center de segurança do Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que devia ficar instalado no Instituto Politécnico (IPG) foi “desviado” para Contumil, no Porto, onde o Ministério da Administração Interna (MAI) vai concentrar os servidores das bases de dados da GNR, PSP e SEF.

O assunto não é pacífico, até pelo risco que comporta centralizar informação sobre a atividade policial em Portugal, processos, fichas de suspeitos e relatórios. A PSP e a GNR já aprovaram a decisão do Governo, mas o SEF, que guarda sistemas de informações da União Europeia (EU), contesta a opção e tem manifestado muitas reservas à transferência do seu data center para a RNSI – Rede Nacional de Segurança Interna. O processo está a ser conduzido pelo secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, Antero Luís, e tem na sua base a redução de custos. Para tal, o MAI pretende criar um novo data center, que duplicará todo o conteúdo dos servidores das polícias, nas instalações das IP-Telecom, empresa das Infraestruturas de Portugal, em Contumil.

Num despacho do governante, datado de 15 de julho, a que O INTERIOR teve acesso, conclui-se que a mudança para o bairro portuense «reúne todas as condições» e será «mais vantajosa – quer do ponto de vista securitário, quer do ponto de vista económico» do que a vinda para a Guarda. Isto porque «em maio do presente ano já existiam condições para uma instalação definitiva em Contumil, permitindo que, em setembro de 2020, o sistema estivesse em produção sem qualquer reserva», lê-se ainda. Nesse sentido, foi ordenada a deslocalização para Contumil do data center central do SEF e do data center suplementar, que deveria ficar no IPG e tinha sido anunciado no início deste ano. Tratava-se de um “disaster recovery”, um data center de segurança que permitirá recuperar os dados daquela polícia criminal caso algum ataque ou desastre afete os seus serviços.
Esta base de dados já tinha inclusivamente recebido luz verde da EU-LISA, a agência europeia que inspeciona os grandes sistemas de informação integrados da EU, como o Schengen. Em janeiro, Joaquim Brigas, presidente do IPG, considerava nesta colaboração com o SEF o reconhecimento «das competências e da qualidade da investigação que se faz neste Politécnico, nomeadamente na Escola Superior de Tecnologia e Gestão». E adiantava que esta «cooperação tecnológica irá desenvolver-se nas áreas da informática, dos sistemas de comunicações de segurança e da formação de quadros do SEF». Seis meses depois, contactado por O INTERIOR, o responsável escusou-se a comentar o assunto dizendo não ter «informação oficial» sobre o cancelamento da instalação daquele serviço no IPG. «O que sei tenho lido na comunicação social, mas estou atento e a acompanhar a situação. Pronunciar-me-ei quando for oficialmente informado dessa decisão», acrescentou Joaquim Brigas, para quem esta concentração de informação das polícias num único espaço «traz riscos elevados e poderá por em causa a segurança pública».

O INTERIOR também pediu um comentário ao Ministério da Administração Interna, mas a resposta não chegou até à hora do fecho desta edição.

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