Sociedade

Novos internos para «estimular» Hospital da Guarda

Escrito por Luís Martins

Vêm de Braga, Lisboa, Porto, Viseu e até dos Açores, mas também da Guarda, alguns dos novos internos que iniciaram na quinta-feira, na Unidade Local de Saúde da Guarda, mais uma etapa da sua formação médica. Ao todo são 56 jovens clínicos formados em diferentes pontos do país e de Espanha.

Quarenta e três internos estão na formação geral e vão permanecer um ano na Guarda, enquanto os restantes 13 começaram a formação específica em áreas como a Pediatria, Cirurgia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Intensiva, Medicina Interna, Pneumologia, Psiquiatria, Reumatologia e Saúde Pública. Estes clínicos terão de ficar entre quatro a seis anos nos hospitais e centros de saúde do distrito. Nuno André Silva é um deles. Formado na UBI e natural de Lisboa, veio da ilha de São Miguel, nos Açores, onde casou, para a cidade mais alta por haver «uma das vagas» em que estava interessado na área dos Cuidados Intensivos. O médico de 33 anos já conhecia a Guarda e o Hospital Sousa Martins: «As expetativas são as melhores porque o contacto que tive quando estudava na UBI foi bastante positivo. Neste hospital sempre foram cordatos e a formação foi boa», adianta. Nuno André Silva admite ser «aliciante» ficar por cá depois da especialidade, mas acrescenta que «50 por cento da resposta» cabe à esposa. «O meu caso é diferente, mas para quem não tem raízes em nenhum sítio acho que é muito aliciante e há possibilidade de crescer profissionalmente e noutras valências», reforça quem rumou à Suíça após acabar o curso, há cinco anos, para trabalhar em Psiquiatria.

Da Guarda são mesmo Tânia Ferreira, de 25 anos, e Margarida Simões, de 26, formadas na UBI e em Salamanca, respetivamente. Ambas fizeram o internato em Medicina Geral e Familiar na USF “A Ribeirinha” e não abdicaram de continuar por cá para tirar a especialidade naquela área. «Pareceu-nos bem ficar na Guarda porque fomos bem acolhidas na “Ribeirinha”. É sempre bom continuar na nossa terra e poder contribuir um pouco para a cidade onde fomos criadas e temos a nossa família», refere Tânia Ferreira, enquanto Margarida Simões acrescenta ter boas expetativas sobre esta fase da especialidade. «É o início da carreira. Vamos tentar manter uma atitude positiva e dar o nosso melhor à nossa instituição. Se houver hipótese de ficar na Guarda melhor», sublinham as duas jovens médicas.

Para Cláudia Vaz, diretora do internato médico na ULS, esta levada de internos é «muito importante porque estes médicos são um estímulo para os serviços, trazem uma alma nova e outro dinamismo. Esse espírito acaba por ser vantajoso para a instituição e para os próprios colegas», considera a responsável. Atualmente, a ULS guardense tem idoneidade – ou seja capacidade formativa – em Cirurgia, Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar, Medicina Intensiva, Pediatria, Pneumologia, Psiquiatria, Reumatologia e Saúde Pública. A proposta para Anestesiologia e Ginecologia ainda não foi aceite pelos respetivos colégios da especialidade da Ordem dos Médicos, mas no primeiro caso o Hospital Sousa Martins já recebe internos dos últimos anos de outras unidades para um estágio de alguns meses. «Os quesitos são exigentes e ainda não conseguimos obter essa idoneidade, mas vamos tentando melhorar todos os anos para a conseguir», garante a médica.

Cláudia Vaz gostaria de ver alguns destes jovens médicos continuar na Guarda após a conclusão da especialidade, mas admite que é difícil. E a culpa é do sistema que «não favorece» a fixação de especialistas nos hospitais da região porque «não está feito de forma a manter os internos no próprio local da formação especializada», afirma. Desde logo porque tudo passa por um concurso nacional quando antes podiam fazer contratos individuais de trabalho.
«Agora, os médicos são seriados consoante a sua nota final e isto determina o local onde podem ser colocados. Por outro lado, as vagas nem sempre correspondem aos locais onde fizeram a sua formação especializada. Se não for atribuída vaga na ULS Guarda eles não podem ficar, e muitos deles querem ficar mas não conseguem por causa disso», garante Sofia Vaz.

«Espero que deste lote de internos saia muito médico para ficar na Guarda»

A presidente do Conselho de Administração (CA) da ULS da Guarda espera que destes 56 internos «saiam uns belíssimos profissionais e que fiquem».

Após dar as boas-vindas, Isabel Coelho declarou a O INTERIOR que «sempre vão ficando alguns» dos que tiraram a especialidade por cá. «Desde que este CA iniciou funções temos mais seis médicos de Medicina Interna e quatro de Pneumologia. Neste momento até podemos dizer que já estamos a formar médicos excedentários na Pneumologia e na Psiquiatria em relação às nossas necessidades», exemplifica, ironizando que nestas áreas «já estamos a exportar» médicos. Mais preocupante é o que se passa na Cardiologia, Ortopedia e Oftalmologia, onde as carências são notórias e de difícil resolução. «São áreas carenciadas em todo o país e é muito mais difícil atrair novos clínicos porque não fazemos especialização», constata a responsável, que mantém o otimismo e espera que «deste novo lote de internos saia muito médico para ficar na Guarda».

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