Sociedade

Falta de vagas preocupa jovens médicos

Escrito por Sofia Craveiro

A primeira cerimónia do Juramento de Hipócrates de 2019 teve lugar na Covilhã na sexta-feira, pelo segundo ano consecutivo. A cerimónia é encarada como uma forma de estimular a fixação no interior do país, mas os jovens médicos afirmam que a escolha não é deles.

O momento solene que marca o início da carreira dos jovens médicos foi, pela segunda vez consecutiva, realizado na Covilhã, onde 149 novos clínicos receberam a sua cédula profissional. A cerimónia do Juramento de Hipócrates teve lugar na passada sexta-feira na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior e marcou o início do ato oficial, que decorre em mais quatro cidades do país: Lisboa, Porto, Coimbra e Braga.

Em uníssono, os jovens prometeram «consagrar a vida ao serviço da Humanidade», mas não são muitos os que prometem ficar na região. Rita Cruz, de 24 anos, natural de Braga, afirma ter «gostado muito de estudar no interior», mais concretamente na UBI, mas quanto ao futuro diz apenas que «são decisões que ainda tenho de tomar», não mostrando ainda certezas sobre onde irá exercer medicina. A dúvida é um denominador comum a muitos dos médicos que agora se profissionalizam, e que também manifestam a preocupação de não exercer a especialidade que desejam por falta de vagas, mas assumem a vontade de ficar no setor público. Armando Varelhas, de 25 anos e natural de Mirandela, declara que o objetivo «é sempre trabalhar no Serviço Nacional de Saúde», acrescentando que a dicotomia público/ privado se «coloca mais do lado do Governo do que do nosso». Quanto a ficar pelo interior, o jovem médico admite estar «sensibilizado» com a questão, só que o problema «não é se que quero ficar no interior ou não, mas sim se tenho vaga para a especialidade».

Esta problemática esteve presente também na intervenção do anfitrião da sessão, Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. O dirigente declarou que, para esta entidade, «não há pessoas do litoral ou do interior, não há pessoas das grandes cidades ou das aldeias», e sublinhou que «todos os doentes devem ter as mesmas oportunidades, seja qual for o seu local de residência». A cerimónia contou também com a presença do bastonário da Ordem, Miguel Guimarães, para quem «se o Governo seguir o caminho de uma boa política de incentivos, provavelmente vai conseguir ter mais gente nas regiões mais periféricas». Apesar disso, o clínico ressalvou que a solução não passa por «obrigações» impostas aos profissionais.

A sessão contou ainda com a presença de António Fidalgo, reitor da UBI, de Vítor Pereira, edil covilhanense, e do presidente da FCS da UBI, Miguel Castelo Branco (o mais aplaudido pela assistência). Esta foi a primeira de cinco cerimónias de Juramento de Hipócrates agendadas em diferentes cidades do país: no sábado teve lugar na Aula Magna, em Lisboa, e domingo decorreu no Coliseu do Porto. Esta quinta-feira será a vez de Braga, realizando-se a última sessão no Convento de São Francisco, em Coimbra, a sete de dezembro. O ato solene marca o momento oficial em que os estudantes se tornam médicos, e prometem honrar e respeitar a ética da profissão, através de um juramento milenar adoptado pela Associação Médica Mundial em 1983.

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Sofia Craveiro

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