Sociedade

Falta de médicos fecha parcialmente Urgências do Hospital da Guarda

Urgências
Escrito por Efigénia Marques

Situação afetou serviço entre a meia-noite e as 8 horas da manhã desta terça-feira porque clínicos escalados estavam de férias

As Urgências do Hospital Sousa Martins estiveram parcialmente fechadas durante a noite e madrugada de terça-feira, tendo sido apenas assegurado apoio a «doentes críticos/ em risco de vida» devido à falta de médicos. A justificação constou de um aviso afixado à entrada e assinado por um dos chefes de urgência de cirurgia, que esteve de serviço durante a noite.
A O INTERIOR, José Manuel Rodrigues, que há dias se demitiu de funções, adiantou que a situação afetou o serviço entre a meia-noite e as 8 horas da manhã por os clínicos escalados estarem de férias. «Após ter percebido que nos quatros postos de triagem não havia nenhum médico, reuni com os meus colegas da medicina interna e concluímos que não havia condições de segurança para manter a Urgência no seu normal funcionamento e decidimos colocar esse aviso na porta», justificou o cirurgião. O também presidente do Conselho Sub-Regional da Guarda da Ordem dos Médicos realçou que o objetivo desta medida «não era não atender mais ninguém, mas sim a observação apenas de doentes críticos, porque não havia condições caso houvesse uma afluência grande durante a noite».
José Manuel Rodrigues disse também desconhecer se esta situação poderá repetir-se em dezembro por não conhecer ainda a escala de serviço. No entanto, alerta que será «difícil saber porque no dia de ontem [segunda-feira] na escala havia médicos, mas já se sabia antecipadamente que não iriam estar presentes por motivos de férias, portanto até podemos ver que há médicos escalados, mas só no próprio dia é que sabemos se vêm ou não». O cirurgião voltou a recordar que a falta de clínicos não é nova e que já motivou «várias queixas» do corpo médico, ao ponto da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos ter reunido há duas semanas com o Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULS). «Aparentemente, a situação estaria em vias de resolução, mas a verdade é que poucos dias depois desta reunião viemos a constatar que se mantinha e por esse motivo pedi a demissão de chefe de equipa», acrescentou.
O médico admitiu ainda que «há e vai haver cada vez mais» médicos a recursar fazer mais de 12 horas extraordinárias por mês, isto porque se chegou a um ponto de não retorno. «Não há reivindicações por parte dos médicos, que apenas gostariam de trabalhar com condições normais, que chegassem ao hospital e tivessem uma equipa capaz de fazer frente ao dia de trabalho e a maior parte das vezes isso não acontece», lamentou José Manuel Rodrigues. Entretanto, o CA da ULS confirmou que faltaram dois médicos na escala da Urgência na madrugada desta terça-feira, «o que exigiu trabalho acrescido para equipa que estava de serviço. Ainda assim, nunca estiveram em causa a prestação de cuidados de saúde a toda a população. Esta manhã [terça-feira] regressou tudo à normalidade». Continuamos a prestar os melhores cuidados a toda a população. Já a diretora da Urgência, Adelaide Campos, garantiu que estiveram de serviço «dois internistas, dois cirurgiões e um terceiro em regime de prevenção, e as especialidades paralelas. Havia médicos para assegurar a prestação de cuidados aos doentes, aliás, os colegas que faltaram não são médicos do serviço básico e de base do hospital. Eram médicos que asseguram a triagem prévia e que fazem uma parte muito significativa do trabalho. Faltando eles, sobra mais trabalho para quem está como especialista», disse a clínica. A responsável declarou ainda que os doentes que recorreram às Urgências nessa noite foram «observados, não houve doentes que ficaram por ver, embora haja um atraso significativo no tempo de espera. Esta manhã entraram quatro médicos para os postos de triagem e estão a tentar normalizar a situação».
Para Adelaide Campos, «não me parece que a melhor maneira para resolver a situação seja fechar. Falei com os colegas que estiveram de serviço e disseram que foi uma noite má, mas não como houve no Verão, mas é assim na Guarda, em Lisboa ou no Nordeste alentejano e em Trás-os-Montes». Quanto à folha afixada à entrada da Urgência geral, a diretora do serviço disse apenas que «alguém irá julgar» o caso dado o papel não ser da ULS. E referiu que a atual elevada procura da Urgência Geral por doentes não urgentes deve-se também «à falta de resposta» dos cuidados de saúde primários.

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