Sociedade

Falta de médicos é «maleita crónica» do Hospital Sousa Martins

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Escrito por Efigénia Marques

Deputado João Correia (PSD) fez o ponto da situação da carência de especialistas nalguns serviços da unidade guardense e pediu a «máxima ajuda» dos deputados do PS e do presidente da Câmara para solucionar o problema

O Hospital Sousa Martins padece de uma «maleita crónica que persiste», a da falta de médicos, que põe em causa a qualidade da prestação de cuidados de saúde. É mais um alerta deixado na última Assembleia Municipal (AM) da Guarda, desta vez por João Correia, deputado do PSD e médico, que pediu a «máxima ajuda» dos deputados do PS e do presidente da Câmara da Guarda para que quem trabalha no hospital guardense «continue a prestar um serviço digno».
«Todos devemos exigir a intervenção clara da ARS Centro e da ministra da Saúde, de forma a resolverem este grave problema, que não foi até agora ultrapassado pelo Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde», considerou o também diretor de serviço no Sousa Martins. João Correia aproveitou o período da ordem do dia para dizer que têm faltado «soluções sustentadas» para resolver a carência de especialistas na unidade hospitalar da cidade mais alta. Segundo o deputado municipal, não têm faltado nas últimas décadas projetos da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e medidas da tutela para a redução das desigualdades entre os cidadãos no acesso à prestação de cuidados: «Tudo documentos cheios de manifestações de boas vontades, mas que na prática não têm contribuído para o crescimento do Hospital Sousa Martins em concreto, pelo contrário», constatou o líder da bancada social-democrata na AM.
João Correia disse mesmo que o défice de recursos humanos nalgumas especialidades médicas atinge «níveis preocupantes» no Sousa Martins, acrescentando que «a situação não é mais grave pela abnegação, entrega e disponibilidade dos profissionais». Uma das situações mais críticas vive-se na Cardiologia, que «sobrevive mantendo um elevado número de primeiras consultas em atraso e sem condição de diferenciação em novas tecnologias. Não se adivinha o rejuvenescimento desejado», receia o eleito do PSD, segundo o qual o serviço contava até ao final do ano passado com «a ajuda» do Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira (CHUCB) para recuperar «a infindável» lista de espera de consultas.
O mesmo problema enfrenta a Ortopedia, que tem quatro especialistas e «dias a descoberto» na escala de Urgência – que por ser um serviço de urgência médico cirúrgica, está obrigado a manter diversas especialidades 24 sobre 24 horas, uma das quais é a Ortopedia. «E o que esperar da Oftalmologia com um especialista do quadro e outro contratado? Ou da Obstetrícia, após a reforma de um dos clínicos e o fim do contrato com outro prestador de serviços?», prosseguiu o médico. João Correia chamou também a atenção para «o inevitável encerramento» do serviço de Gastroenterologia, que «há cerca de um ano vive de médicos especialistas, externos ao hospital, em prestação de serviços de forma irregular, obrigando os doentes internados a efetuar exames no exterior, e à incapacidade absoluta de efetuar técnicas exclusivamente hospitalares».
O deputado citou ainda um relatório da ACSS, publicado em 2011, sobre as “Atuais e Futuras Necessidades Previsionais de Médicos (SNS)”, para dizer que o rácio para a Gastrenterologia deverá ser de 3,0 clínicos por 100.000 habitantes, o que corresponderia «a uma necessidade entre quatro a cinco clínicos na área da ULS. O mesmo se aplica à Cardiologia». Isto para concluir que nestas especialidades «os ratios então definidos não são respeitados, sendo deficitários no primeiro e excedentários no segundo», quando o Sousa Martins serve cerca de 140 mil habitantes, enquanto o CHUCB serve «pouco mais de metade». João Correia disse igualmente que «a maioria» das redes de referenciação «não funciona» e quando funcionam apresentam «sempre grãos de areia na engrenagem». Contudo, nem tudo é negativo, já que o eleito do PSD aplaudiu a chegada de um hematologista, o «crescimento e diferenciação» da Reumatologia, da Oncologia, da Medicina Intensiva, da Imagiologia, da Pneumologia e da Medicina Interna.

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Efigénia Marques

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