Sociedade

Falta de médicos de família agrava-se

Filling In Medical Record
Escrito por Efigénia Marques

Até à data, há 15.903 utentes sem médico na área de abrangência da Unidade Local de Saúde da Guarda

A situação da falta de especialistas de medicina geral e familiar na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda continua a agravar-se e a preocupar a população. Neste momento há 15.903 utentes sem médicos de família. São dados preocupantes, sobretudo porque cada clínico tem, em média, 1.550 utentes atribuídos, o que pode sobrecarregar o especialista e prejudicar a prestação do serviço.
Estes dados são confirmados por António Monteirinho, vogal executivo do Conselho de Administração da ULS guardense, que diz também que os casos mais preocupantes são os das Unidades de Cuidados de Saúde Primários (UCSP) da Guarda e Seia. «Asseguramos mais uma vez que o Conselho de Administração está a fazer tudo o que está ao seu alcance para solucionar esta carência de recursos humanos em algumas Unidades de Cuidados de Saúde Primários. Lamentamos a situação, mas asseguramos que ninguém ficará sem prestação de cuidados de saúde na área de abrangência da Guarda», disse o responsável a O INTERIOR.
Até à data, Celorico da Beira é o caso mais preocupante da área de abrangência da ULS da Guarda. Com um total de 7.396 pessoas inscritas na UCSP local, 2.087 estão sem médico, ou seja, cerca de 28 por cento dos utentes. E não ficamos por aqui, pois este centro de saúde tem apenas quatro médicos de família no ativo e está, inclusivamente, sem diretor após a recente aposentação da sua última responsável. Carlos Ascensão, presidente da Câmara de Celorico da Beira, está preocupado, pois «assegurar o bem-estar das populações começa também pela saúde, atendendo que temos uma população idosa, maioritariamente, e essa situação vem de há muito tempo».
Segundo o autarca, estão a ser feitos «esforços» para resolver o problema porque «não podemos ficar indiferentes, estamos atentos, envolvidos, já fizemos uma exposição e manifestamos as nossas preocupações ao presidente da ULS e aos responsáveis pela área da saúde na região Centro. Também tenho tido oportunidade de falar com alguns vogais do Conselho de Administração, mesmo que informalmente, e o “feedback” que tenho tido é que se está a fazer um esforço no sentido de dar resposta a isto que é uma necessidade em Celorico».
O caso da UCSP de Pinhel é igualmente grave, com apenas seis médicos de família para um total de 9.750 utentes inscritos. Destes, 2.432 não têm um médico atribuído, perfazendo uma percentagem de cerca de 25 por cento. José Fernandes é um desses utentes, tem 56 anos, reside em Pinhel e nem ele nem a família têm neste momento um médico atribuído, situação que se arrasta há mais de um ano. «Sentimo-nos um bocado abandonados porque o médico reformou-se, não disseram nada a ninguém. Quando soube que estava reformado fui ao centro de saúde para saber como é que eu ficava e disseram-me que não tinham médicos», relatou o utente a O INTERIOR. No seu caso a situação piora porque é diabético e precisa de um acompanhamento regular que neste momento não existe. «Eu tenho problemas de saúde, sou diabético e deixei de ter consultas, porque eu tinha acompanhamento de meio em meio ano. Mas disseram-me que tinha de esperar por outro médico e até agora nada», lamentou José Fernandes. Quanto aos medicamentos de que precisa «agora são pedidos por email ao Centro de Saúde de Pinhel e eles enviam por receita eletrónica», adianta o utente.
Rui Ventura, presidente da Câmara de Pinhel, diz estar atento a estes dados e «muito preocupado, principalmente no que diz respeito ao próximo ano», pois dos médicos ao serviço neste momento no centro de saúde local, três estão na idade da reforma: «Temos três médicos que já estavam reformados, regressaram ao trabalho e estão agora a atingir os 70 anos e não podem continuar a trabalhar, nos termos da legislação. Portanto, significa que Pinhel está em risco de ficar com apenas dois ou três médicos», alerta o autarca. Rui Ventura recorda que já enviou uma missiva à ULS «e até agora a resposta foi zero».
E no mês passado também manifestou, por carta, à ministra da Saúde, Marta Temido, o seu «descontentamento» por a situação não ter sido acautelada aquando da recente abertura do concurso para o recrutamento de pessoal médico para a categoria de assistente, da área de Medicina Geral e Familiar. O edil pinhelense refere que o município se disponibiliza para ajudar em tudo, mas que a contratação de médicos «é uma responsabilidade exclusiva do Governo».

 

Situação preocupante na Guarda, Seia e Trancoso

No resto do distrito da Guarda ainda há mais três UCSP que têm dados relativamente preocupantes. O caso da Guarda é um deles, já que tem 16 médicos de família para um total de 28.905 utentes, sendo que 4.189 pacientes não têm clínico atribuído. São 14 por cento do total. Em Seia, o cenário é idêntico: há 14 médicos para 25.362 utentes, mas 2.564 pessoas não têm consultas (10 por cento). Preocupante é também a situação em Trancoso, onde há apenas cinco médicos de família para 8.455 utentes, sendo que 983 pacientes estão sem acompanhamento (11 por cento). A Unidade de Saúde Familiar da Mêda é a única que tem todos os seus 5.071 utentes com médico de família. Conheça a situação das diferentes UCSP do distrito na tabela em anexo.

 

Dados sobre os Centros de Saúde do distrito da Guarda

Tabela 5

* Não estão disponíveis dados relativamente à UCSP de Fornos de Algodres.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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